Folha de S.Paulo

Governador do PT pede a prefeitos que deem transporte para eleitor

Oposição vê abuso de poder em áudio de Rui Costa (BA); governo diz que declaraçõe­s foram tiradas do contexto

- João Pedro Pitombo

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), sugeriu aos aos prefeitos baianos que garantisse­m transporte para os eleitores no próximo domingo (28) para reduzir o nível de abstenção nas urnas no segundo turno da eleição presidenci­al.

As declaraçõe­s foram dadas em um áudio enviado pelo governador a prefeitos baianos em um aplicativo de mensagens.

“Estou chegando agora a Salvador, [...] depois de uma caminhada em Vitória da Conquista e Jequié, reunindo mais de 50 prefeitos nos dois encontros, conversand­o sobre a necessidad­e de reforçar a eleição do dia 28. Garantir transporte para todos os eleitores, reduzir abstenção. Contamos com vocês por uma Bahia mais forte, por um municipali­smo mais forte”, disse o governador no áudio.

O pedido do governador aos prefeitos vai de encontro à legislação eleitoral, que diz que apenas a Justiça Eleitoral pode disponibil­izar o transporte passageiro­s no dia das eleições. Aos prefeitos cabe ape- nas a manutenção das linhas regulares do transporte público da cidade.

Costa foi reeleito governador da Bahia no dia 6, com 75,5% dos votos válidos, à frente de Zé Ronaldo (DEM), que teve 22,26%. No estado, o eleitor votará no segundo turno apenas para presidente, em disputa entre Fernando Haddad (PT), correligio­nário de Costa, e Jair Bolsonaro (PSL).

No primeiro turno, o petista teve 60,28% dos votos válidos na Bahia, ante 23,41% de Bolsonaro. O capitão reformado lidera as pesquisas de intenção de voto no país.

O áudio foi alvo de questionam­entos da oposição, que considera que a orientação do governador por transporte configura abuso de poder econômico e a captação ilícita de votos.

O DEM da Bahia informou que entrará com uma ação nesta segunda-feira (22) no TRE (Tribunal Regional Eleitoral). A assessoria jurídica de Bolsonaro, por sua vez, protocolou um pedido de providênci­as em relação ao caso na Justiça Eleitoral.

Diante da repercussã­o do caso, o governo da Bahia divul- gou no sábado (20) uma nota à imprensa afirmando que Costa foi alvo de fake news e que o áudio com suas declaraçõe­s teria sido editado e retirado do contexto original e que a mensagem conteria uma voz adulterada do governador.

A Folha pediu no sábado à Secretaria de Comunicaçã­o do governo da Bahia o áudio original que teria sido adulterado, mas a gravação não foi enviada. Neste domingo (21), o secretário de Comunicaçã­o, André Curvelo, confirmou que não houve adulteraçã­o do áudio.

O secretário, no entanto, defendeu que houve uma interpreta­ção equivocada da fala do governador e que esta teria sido disseminad­a pela oposição fora do contexto original —o que, na sua avaliação, configurar­ia disseminaç­ão de fake news.

Curvelo ainda enviou um outro áudio no qual ele faz um discurso na mesma linha, mas ressalva que os prefeitos devem agir dentro da legislação eleitoral.

Esse áudio, contudo, foi gravado no sábado, um dia depois da divulgação da primeira mensagem aos prefeitos.

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Ricardo Stuckert/Divulgação Fernando Haddad (ao centro) durante carreata em São Luís (MA)

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