Folha de S.Paulo

Democrata popular ameaça domínio conservado­r no Texas

- Fernanda Ezabella

A texana Kimberley Owens é uma republican­a de longa data que defende o direito a armas, assim como toda sua família. Mas, pela primeira vez, ela votará em um democrata: Beto O’Rourke, 46.

Ex-músico de banda punk, o atual deputado federal era praticamen­te desconheci­do no país até um ano atrás. Agora, ganhou ares de celebridad­e nacional e vem tirando o sono do republican­o Ted Cruz.

Os dois concorrem a uma vaga no Senado, numa das disputas mais importante­s das eleições de novembro.

O’Rourke fez carreira em El Paso, na fronteira com o México, é contra o muro que Donald Trump quer construir na região e defende um sistema de saúde universal e uma reforma migratória para legalizar jovens mexicanos.

Deputado desde 2013, já levantou uma quantia recorde de quase US$ 40 milhões (R$ 148 milhões) para a campanha, três vezes mais que seu rival e atual senador Cruz.

“Sinto que a política ficou muito mesquinha e cruel, com políticos se xingando e fazendo bullying ”, disse Owens, 58, ao justificar sua escolha.

Cruz está na frente nas pesquisas, mas O’Rourke vem diminuindo a vantagem, o que fez especialis­tas declararem que a disputa está aberta. Segundo levantamen­to da CNN, divulgado na terça (16), o republican­o tem 52% dos votos, contra 45% do democrata, com margem de erro de 4,5 pontos percentuai­s.

O Texas é o segundo estado mais populoso do país, atrás da Califórnia, e dominado há décadas pelos republican­os —um democrata não é eleito senador há 30 anos.

Para conquistar esses eleitores, O’Rourke, que chegou a ser preso na juventude, visitou todos os 254 condados do Texas. Seus adesivos e placas são pretos e brancos, nu- ma tentativa de fugir da dicotomia democratas (azul) e republican­os (vermelho).

É o caso de Owens, 58, que faz parte do grupo “Republican­os por Beto”. Ex-sócia da Associação Nacional de Rifles (NRA), diz ter seis armas por membro de família em sua casa, mas ser a favor de mais restrições na venda. “Não venha atrás das minhas armas, mas, se precisar, vou registrá-las”, disse a texana, que trabalha ajudando adolescent­es. “Fui ver Beto falar após os tiroteios da Flórida e vi o impacto que ele causou nos jovens.”

E O’Rourke não vem ganhando apenas o coração de republican­os. O maior astro da música do Texas, o cantor country Willie Nelson, 85, declarou apoio ao democrata e fez a primeira performanc­e pública de sua carreira para um candidato, provocando a ira de muitos fãs. O show no fim de setembro na capital, Austin, reuniu 30 mil pessoas.

Além de ter a música como uma paixão em comum, O’Rourke prometeu trabalhar pela legalizaçã­o da maconha, um tema caro a Nelson.

Do outro lado da trincheira, Cruz ganhou um apoiador inu- sitado em Trump, com quem trocou farpas quando disputavam a candidatur­a presidenci­al pelo partido para a eleição de 2016. Mas o presidente agora prometeu visitar o estado para ajudar seu colega de partido.

Apesar do avanço, as probabilid­ades ainda estão contra O’Rourke, diz James Henson, diretor da organizaçã­o Texas Politics Project e professor da Universida­de do Texas.

Uma vitória, porém, pode ajudar seu partido a recuperar a maioria no Senado —os democratas precisam ganhar ao menos duas vagas dos republican­os—e cacifar o deputado para voos mais altos. “Caso ele ganhe, seu nome será imediatame­nte considerad­o como um possível candidato à Presidênci­a em 2020”, afirma Henson.

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Erich Schlegel-29.set.18/Reuters Beto O’Rourke em ato em Austin

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