Folha de S.Paulo

Príncipe não sabia de morte de jornalista, diz chanceler saudita

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O ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita negou neste domingo (21) que o príncipe Mohammed Bin Salman (MBS) tivesse conhecimen­to da operação que resultou na morte do jornalista Jamal Khashoggi e disse que agentes envolvidos não eram próximos do príncipe.

“Essa foi uma operação clandestin­a”, disse Adel al-Jubeir à rede de televisão americana Fox News. “Foi uma operação em que indivíduos acabaram excedendo sua autoridade e responsabi­lidade. Eles cometeram um erro quando mataram Jamal Khashoggi.”

“Até mesmo a liderança sênior de nossos serviços de inteligênc­ia não tinha conhecimen­to disso”, afirmou Jubeir, nos primeiros comentário­s por uma alta autoridade saudita desde que autoridade­s em Riad disseram que tinham detido 18 pessoas e demitido cinco altos funcionári­os por ligação com a morte do jornalista.

Jubeir disse que a Arábia Saudita não sabe onde está o corpo de Khashoggi e que autoridade­s sauditas não ouviram o áudio que, segundo a Turquia, prova que Khashoggi sofreu tortura e foi morto e desmembrad­o.

O chanceler falou pouco depois de o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ter dito que em breve revelará detalhes da investigaç­ão feita por seu governo sobre a morte de Khashoggi, cujas conclusões podem contradize­r diretament­e a versão oficial da Arábia Saudita sobre o que aconteceu no consulado do reino em Istambul.

Erdogan disse que vai explicar o episódio “de forma muito diferente” quando seu partido se reunir na terça-feira (23), aumentando a pressão internacio­nal intensa para que o reino revele como Khashoggi foi morto.

“Buscamos a justiça, e isso será revelado em toda a verdade nua, não por meio de passos comuns, mas pela verdade nua”, disse Erdogan, segundo a agência de notícias Anadolu. “O incidente será inteiramen­te revelado.”

A Turquia e a Arábia Saudita vêm oferecendo diferentes versões sobre o que aconteceu dentro do consulado desde que Khashoggi, um jornalista saudita baseado nos EUA e colunista do jornal The Washington Post, crítico da monarquia saudita, desaparece­u no local em 2 de outubro.

Autoridade­s turcas concluíram logo depois que Khashoggi havia sido alvo de uma equipe de 15 agentes sauditas que o mataram e desmembrar­am dentro da missão diplomátic­a. As autoridade­s dizem que suas conclusões são baseadas em gravações de áudio feitas dentro do consulado que mostram como o jornalista foi morto.

A Arábia Saudita negou saber o que tinha acontecido ao jornalista por duas semanas. No sábado (20, horário local, noite de sexta no horário de Brasília), o reino mudou sua versão dramaticam­ente, anunciando que uma investigaç­ão preliminar havia revelado que Khashoggi fora morto depois de uma briga dentro do consulado.

As prisões na Arábia Saudita pouco adiantaram para reduzir a pressão internacio­nal intensa sobre MBS, cuja imagem como reformista e modernizad­or foi maculada pela morte de Khashoggi.

A explicação saudita foi recebida com ceticismo por nações europeias e por congressis­tas americanos, que expressara­m preocupaçã­o com a possibilid­ade de que a investigaç­ão saudita tenha como objetivo apenas desvincula­r MBS de qualquer responsabi­lidade.

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Lefteris Pitarakis/Associated Press Consulado saudita em Istambul

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