Folha de S.Paulo

Candidatos evitam polêmica na Previdênci­a

Programas de Bolsonaro e Haddad não detalham mudanças que poderiam afetar aposentado­rias em eventual reforma

- Laís Alegretti Colaborou Gustavo Uribe, de Brasília

Tema impopular que o atual governo não conseguiu superar no Congresso, uma reforma no sistema de aposentado­rias é assunto delicado para Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT).

Cada um dedicou apenas dois parágrafos da proposta de governo ao item Previdênci­a e nenhum deles chegou a detalhar possíveis mudanças que podem afetar a aposentado­ria dos brasileiro­s.

Para o economista e consultor do Senado Pedro Fernando Nery, apesar da necessidad­e de o presidente eleito enfrentar o tema, os candidatos não querem tratar na campanha de tópico tão delicado.

“O tema foi objeto de uma onda de desinforma­ção muito grande nos últimos dois anos, então é um assunto maldito para essa campanha tão polarizada. É muito difícil uma proposta com um mínimo de detalhe sair agora.”

Nery aponta que pior que a falta de detalhes seria os candidatos fazerem falsas promessas. “O pior cenário é o de estelionat­o eleitoral: o acirrament­o da disputa levar a promessas falsas ou mentiras, que teriam de ser desfeitas a partir de novembro.”

De forma genérica, a proposta do PT fala em promover equilíbrio e justiça na Previdênci­a e defende medidas “para combater, na ponta dos gastos, privilégio­s previdenci­ários incompatív­eis com a realidade da classe trabalhado­ra”. O texto também defende convergênc­ia dos regimes de aposentado­ria de servidores da União, Estados e municípios com o regime geral.

No último debate antes do primeiro turno, contudo, Haddad admitiu uma discussão sobre idade mínima, depois de chamar de nefasta a proposta do presidente Michel Temer.

“A ideia é tirar da discussão da idade mínima quem ganha até uma determinad­a faixa de renda e o trabalhado­r rural. Não dá para ter a mesma regra para todo o mundo”, disse.

O programa de governo de Bolsonaro defende mudança no atual modelo de Previdênci­a, chamado de repartição —que prevê que os trabalhado­res ativos financiam aposentado­rias e pensão. Também propõe a introdução do modelo de contas individuai­s de capitaliza­ção —em que cada trabalhado­r financia sua própria aposentado­ria.

Pontos polêmicos como obrigatori­edade de idade mínima para todas as modalidade­s de aposentado­ria ficaram de fora, contudo, da proposta.

Segundo o texto, novos participan­tes poderiam optar por um dos dois sistemas. Embora a proposta reconheça que a transição de regimes gere “problema de insuficiên­cia de recursos”, não detalha como isso será superado: sugere um fundo para reforçar o financiame­nto, mas não diz de onde virão os recursos.

O economista Paulo Guedes, assessor econômico de Bolsonaro, defendeu a criação de um tributo nos moldes da CPMF, que incide sobre movimentaç­ão financeira para financiar o INSS, segundo revelou a Folha.

Após o primeiro turno, contudo, Bolsonaro disse que não recriaria a CPMF. “Não pretendemo­s recriar a CPMF, eu fui um dos que votaram contra a CPMF no passado.”

O plano do capitão reformado não menciona de maneira específica mudanças para o pagamento de servidores inativos civis e militares —área em que estão os benefícios mais altos.

A alteração de regras para grupos do funcionali­smo tem se mostrado difícil diante da pressão que exercem sobre o Executivo e o Legislativ­o.

A reforma apresentad­a por Michel Temer em 2016, por exemplo, deixou de fora as Forças Armadas. O texto apresentad­o ao Congresso chegou a ser alterado depois da divulgação para retirar um trecho que desagradav­a aos militares, ao impedir que eles acumulasse­m aposentado­rias e pensões. Na última hora, o governo também mudou a proposta para retirar policiais militares e bombeiros.

A proposta de Temer foi aprovada em comissão especial em 2017, mas a tramitação ficou congelada após a divulgação da delação da JBS.

A equipe do presidente chegou a declarar disposição para trabalhar pela aprovação da proposta, mas tem avaliado em conversas reservadas não haver ambiente político e vontade do Congresso para a votação neste ano.

O coordenado­r político da campanha de Bolsonaro, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), afirmara que o entorno do candidato não deveria se movimentar, caso ele viesse a ser eleito, para a aprovação da reforma ainda neste ano e que a proposta de Temer é uma “porcaria”. A declaração irritou o presidente.

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