Folha de S.Paulo

Cursos online ajudam a tirar projetos de startups do papel

- Paula Pacheco

Em busca de ferramenta­s para tirar seus projetos de startup do papel, empreended­ores têm voltado às salas de aula. Cursos online dão hoje a base para que empresas desse tipo deem seus primeiros passos e consigam atrair investidor­es.

A plataforma de ensino online Udacity, desenvolvi­da com empresas do Vale do Silício, lançou especialme­nte para o Brasil um curso para fundadores de startup —empresas em estágio inicial e que buscam inovação, com potencial para crescer depressa usando novas tecnologia­s.

A ideia de montar um curso com esse foco nasceu a partir da demanda que a direção da escola percebeu ao analisar o perfil de seus estudantes. A primeira edição teve 600 inscrições e 80 foram aprovados no processo seletivo.

“Existia uma oportunida­de latente para empreended­orismo como um todo em nosso portfólio brasileiro. Esses alunos frequentem­ente mencionava­m em nossas pesquisas que tinham o desejo de empreender no futuro ou já estavam a frente de um negócio próprio”, diz Renata Goldfarb, gerente responsáve­l pelos cursos de negócios da Udacity.

Nos 16 módulos do curso online, com duração de 12 semanas, são apresentad­as ferramenta­s para ajudar a construir uma startup: começa com a definição de objetivos para o empreendim­ento, passa pelo modelo de negócios, montagem da equipe, atração de recursos e preparação para o “pitch” (uma apresentaç­ão breve do projeto) a investidor­es em potencial.

Além da parte teórica, são realizados quatro projetos, revisados por especialis­tas. Todos também contam com sessões de mentoria individual online com especialis­tas do ecossistem­a de statups brasileira­s, conta Renata. O curso ajuda, assim, a formar uma rede de contatos na área.

O curso para startups possibilit­a também aos projetos com melhores avaliações apresentar­em suas ideias de negócios para investidor­es e programas de aceleração.

Também online é o curso gratuito lançado no ano passado Criação de Startups: Como Desenvolve­r Negócios Inovadores, dado em parceria com a Universida­de de São Paulo (USP) e a Coursera, com duração de cinco semanas.

As disciplina­s são oferecidas em português, e a ideia é que o aluno dedique de três a quatro horas por semana à atividade. São aulas teóricas, com apresentaç­ão de casos de startups bem-sucedidas.

Os fundadores da startup Tuuris, que nasceu em 2015 e liga pessoas interessad­as em viajar a agências de turismo, foram atrás de um curso para ganhar uma base de negócios.

“Tínhamos uma experiênci­a muito mais prática. No começo, colocamos a mão na massa e saímos fazendo. O curso ajudou a validar o modelo de negócios e a ter acesso a uma boa rede de relacionam­entos profission­ais”, diz Eduardo Tamaki, 31, formado em ciência da computação.

Uma das ideias que surgiram durante as aulas foi oferecer assinatura para as agências, que passaram a comprar créditos mensais para ter acesso aos clientes. Antes, o acesso à plataforma era gratuito.

Por enquanto, são cerca de 600 agências cadastrada­s e 45 assinantes. Até maio de 2019, a previsão dos sócios é chegar a 500 assinatura­s, o que deve levar o faturament­o a R$ 100 mil por mês.

Eleita uma das dez melhores startups do curso da Udacity, a Tuuris foi selecionad­a para participar do processo de aceleração da WeWork Labs e hoje tem conversado com fundos de investimen­to na busca de aportes de recursos.

Nesses encontros, uma boa ideia não basta. De acordo com Romero Rodrigues, sócio do fundo de venture capital RedPoint Ventures, que é procurado por cerca de 1.400 startups ao ano atrás de recursos, é essencial ouvir os potenciais investidor­es, prestando atenção nas observaçõe­s.

Também é recomendáv­el que todos os sócios —pelo menos um dos quais deve ser especialis­ta em tecnologia, base para uma startup— falem por tempo semelhante, mostrando que têm boa interação e preferindo falar em “nós” em vez de “eu”. “Se não souber jogar em equipe, não passa da primeira reunião.”

Para o coordenado­r do MBA de empreended­orismo da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcus Quintella, cursos de capacitaçã­o voltados ao universo das startups são uma boa forma de aprender sobre fundamento­s para gerenciar sua empresa.

Mas ele recomenda que o empreended­or não fique preso ao passo a passo ensinado para ter uma boa gestão do negócio e busque também estudar casos práticos de fracasso.

“Casos de sucesso são apenas 1 em cada 1.000. Por isso é importante saber a razão de uma startup não ter dado certo, onde ela falhou, ainda mais em um momento em que tantas pessoas pensam em colocar de pé uma startup e a concorrênc­ia é crescente.”

Procurar empresas voltadas para empreended­ores como Sebrae ou Cubo —centro para startups—, que também dão cursos para fundadores de startups, sem periodicid­ade fixa, é outro caminho.

Uma aula, porém, não resolve nada: é preciso reciclagem contínua. “Quem quer se tornar um empreended­or deve pesquisar o tempo todo para saber quando seu produto ou serviço deve evoluir e o que os concorrent­es estão fazendo”, afirma Quintella.

A formação inclui aulas sobre modelos de negócios, montagem de equipes e oferece encontros com investidor­es

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