Folha de S.Paulo

Sacerdotis­a, viveu para o candomblé e para os filhos

MARIA ANTUNES (1936-2018)

- Thaiza Pauluze coluna.obituario@grupofolha.com.br

A vida de Maria Antunes foi marcada por perdas. Nascida em Americana, no interior de paulista, foi abandonada pelos pais num orfanato de freiras, onde cresceu. Depois, passou a morar em casas de família, onde trabalhava.

Nessa época, a mãe de santo Sílvia, do terreiro Axé Ilê Obá, no Jabaquara, zona sul da capital paulista, precisou de uma cuidadora e quem assumiu o posto foi Maria.

Logo ela começou a tocar a parte administra­tiva e financeira —aprendeu tudo na prática—, enquanto mãe Sílvia assumia a ritualísti­ca do terreiro, que é o primeiro tombado como patrimônio histórico do estado. Também virou Maria Antunes de Nanã —orixá da sabedoria.

Seu posto religioso passou a ser o de iyamorô, um dos braços da mãe de santo, que ajuda na organizaçã­o do sistema. Sua função principal era de cuidar dos orixás em qualquer culto que fosse para Exú —o mensageiro, aquele que abre caminhos.

As duas acabaram virando amigas e viveram ao lado uma da outra, como irmãs, por 40 anos. Juntas, adotaram três filhos.

Era o sonho de Maria poder dar o cuidado que não teve. Levava para a natação, judô, balé, inglês. Vivia para eles e para o local sagrado. “Ela fazia a ritualísti­ca com todo o amor e comprometi­mento”, diz mãe Paula, uma de suas filhas. “Era uma mulher super amável e de uma inteligênc­ia absurda.”

Em 2014, com a morte de Sílvia, ela se sentiu sozinha. Não imaginava que depois outra filha a abandonari­a também. Se apegou a Paula.

Até para a balada na Vila Madalena ia junto, já octogenári­a. Não dispensava a cerveja gelada, o torresmo, a linguiça frita. Em Salvador, conheceu todos os terreiros tradiciona­is. Animada, era a primeira a dizer: “Já tô pronta”. E ia.

No candomblé, a morte não é o fim. É uma parte nossa, que continua. São os ancestrais, fortalecid­os em rituais, que emanam luz para a terra. Agora, é o que Maria também fará. Ela morreu no dia 7 de outubro, por insuficiên­cia aguda respiratór­ia, aos 82 anos. Deixou três filhos e uma neta.

RACHEL NURKIN Aos 87, viúva. Cemitério Israelita do Embu

7º DIA

MARIA DO ROSÁRIO BRANT ITAPURA DE MIRANDA Nesta segunda (22), às 18h30, na igreja Nossa Senhora do Brasil, praça Nossa Sra. do Brasil, nº 1, Jardim América

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