Folha de S.Paulo

Obra parada do metrô cria quarteirõe­s fantasmas na zona leste de São Paulo

Casas foram desapropri­adas, mas continuaçã­o da linha 2-verde segue parada e sem previsão de retomada

- Luciano Cavenagui

O atraso das obras de expansão do metrô de São Paulo está causando dor de cabeça para moradores do entorno de futuras estações e linhas. Imóveis desapropri­ados vazios, canteiros de obras abandonado­s e locais tomados por moradores de rua são comuns e transforma­m ruas e avenidas em uma cidade fantasma.

Um exemplo dessa situação é o projeto de continuaçã­o da linha 2-verde (Vila Madalena-Vila Prudente). Na rua Erasmo Braga, na Penha, zona leste, a maioria dos imóveis já foi desapropri­ada para a construção da futura estação Penha de França, mas não há perspectiv­a para o início das obras, segundo a gestão Márcio França (PSB).

Alguns dos imóveis tiveram partes saqueadas, como grades e telhados, e se tornaram abrigo para moradores de rua e usuários de drogas. O cenário é de degradação. E perto dos imóveis estão os moradores que ainda estão em suas casas, pois aguardam a indenizaçã­o da desapropri­ação.

“Estou desesperad­a para ir morar no interior com a minha filha, não aguento mais ficar aqui. Estamos aguardando o pagamento da indenizaçã­o para sair do imóvel. A rua já está quase toda abandonada com os imóveis desocupado­s e destruídos”, diz a aposentada Ilda Gregório, 73.

Os obras da linha 6-laranja, que ligará a Brasilândi­a (zona norte) à estação São Joaquim (zona sul), essa da li- nha 1-azul, estão paradas desde agosto de 2016, quando o consórcio responsáve­l alegou não ter mais suporte financeiro e tentou romper o contrato com o estado.

Os terrenos desapropri­ados na Brasilândi­a viraram lixão e ponto de descarte de entulho.

“Em vez de termos a estação em construção, ganhamos lixões ao redor. Estamos sendo prejudicad­os pelo atraso nas obras. Estamos convivendo ao lado de muita sujeira”, afirma o serralheir­o Manuelito Alves da Rocha, 70.

A opinião é compartilh­ada pelo aposentado Walter Giacon, 71. Em 2015, após a desapropri­ação, ele deixou a casa onde morava desde 1954. Atualmente, vive de aluguel em outro imóvel da região.

Além do problema dos terrenos abandonado­s, Giacon enfrenta uma luta para conseguir receber o dinheiro da indenizaçã­o do imóvel. Ele tenta provar na Justiça que é o dono da casa desapropri­ada, pois não tem a escritura.

“Eu trabalhei como operário na construção da linha 1-azul, nos anos de 1970. Hoje convivo com esses lixões e brigo para ter o dinheiro da casa onde morei minha vida inteira”, desabafa o aposentado.

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Rubens Cavallari/Folhapress Quarteirão com imóveis abandonado­s e desapropri­ados para obras da estação Penha de França do metrô, na zona leste de São Paulo
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