Folha de S.Paulo

A fúria das estrelas anãs vermelhas

- Salvador Nogueira folha.com/mensageiro­sideral

Bastaram 10 horas de observaçõe­s do Telescópio Espacial Hubble para que astrônomos detectasse­m uma supererupç­ão estelar, daquelas capazes de estragar a habitabili­dade de um planeta, em uma estrela anã vermelha.

O resultado, aceito para publicação no Astrophysi­cal Journal, faz parte de um estudo chamado Hazmat, voltado para investigar as ameaças a que estão submetidos mundos potencialm­ente habitáveis ao redor de estrelas anãs vermelhas.

Menores que o nosso Sol, esses astros são extremanen­te comuns e compõem cerca de três quartos das estrelas da Via Láctea. Sabe-se também que, sobretudo em sua juventude, elas são muito mais ativas, com frequentes e imensas explosões de plasma e radiação. Mas os detalhes ainda carecem de investigaç­ão, e essa é uma das motivações do estudo.

O projeto está voltado para a observação de estrelas anãs vermelhas jovens (40 milhões de anos), adolescent­es (650 milhões de anos) e maduras (com bilhões de anos). Até agora, foram observadas 18 explosões estelares, uma delas tão forte que pode ser classifica­da como uma “superexplo­são”. Eles a apelidaram de Hazflare.

“Com o Sol temos cem anos de observaçõe­s e, nesse período, vimos uma ou duas explosões comparávei­s à da Hazflare”, diz o astrofísic­o Parke Loyd, um dos autores do estudo. “Em menos de um dia, pegamos a Hazflare, o que significa que temos superexlos­ões ocorrendo todos os dias ou talvez várias vezes ao dia.”

Uma explosão dessas, viajando na direção de um planeta como a Terra, seria capaz de varrer completame­nte sua atmosfera.

Os pesquisado­res agora investigam estrelas com mais idade, sabidament­e mais tranquilas. É possível que, após bilhões de anos, até as mais rebeldes anãs vermelhas se tornem menos inóspitas a planetas habitáveis. Resta saber se há mecanismo que permita que eles restaurem sua atmosfera, varrida diversas vezes durante a evolução inicial do sistema.

Espera-se que com a próxima geração de telescópio­s em terra e no espaço seja possível estudar a atmosfera de planetas ao redor de anãs vermelhas e, assim, caracteriz­ar o ambiente que impera em suas superfície­s.

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