Como estudioso, mestre e editor, ele elevou o teatro no país
Jacó Guinsburg nunca escreveu, dirigiu ou atuou em uma peça, mas o pensamento sobre teatro o acompanhou por toda a sua trajetória.
Foi espectador interessado desde cedo e, por exemplo, seguiu de perto a vanguarda francesa dos anos 1950, o que o aproximou profissionalmente do teatro no Brasil.
Ele nasceu na Bessarábia, hoje Moldávia, e cresceu no bairro do Bom Retiro, em São Paulo —onde se tornou um jovem comunista, a ponto de pegar em armas.
Um dos primeiros livros que editou, já na Perspectiva, em 1952, foi a sua própria tradução da peça “O Dibuk”, do revolucionário judeu russo An-ski, até hoje em catálogo.
Amigo dos jornalistas Sábato Magaldi e Anatol Rosenfeld, escrevia sobre literatura judaica no jornal O Estado de S. Paulo e publicou uma série sobre o grupo teatral Habima, criado na Rússia, hoje estabelecido em Israel.
Pouco depois, Décio de Almeida Prado deixou a cadeira de crítica teatral na Escola de Arte Dramática da USP e, por indicação dos amigos, ele foi convidado para a vaga.
Começou ali a carreira acadêmica, que continuaria depois na Escola de Comunicações e Artes, também na USP.
Formou gerações de atores e, por fim, diretores brasileiros, três dezenas deles também seus orientandos em pós-graduação, como Antonio Araújo e Maria Thaís.
Até poucos anos antes da morte, já tendo deixado o trabalho formal de orientação, continuava mantendo encontros mais ou menos regulares com grupos de ex-alunos.
Teve divergências pontuais com alguns dos principais estudiosos do teatro brasileiro, como João Roberto Faria, mas se manteve amigo —e editor, sem restrições.
Questionava a excessiva atenção dada ao texto e às peças escritas nos estudos históricos e na própria produção teatral brasileira.
Mas questionava também o extremismo oposto, que defende o espetáculo, a performance independente, e para isso recusa o texto, quer expulsá-lo.
Publicou, entre outros livros, “Stanislávski e o Teatro de Arte de Moscou”, baseado em sua tese de livre-docência, mas deixa como maior contribuição o próprio catálogo da Perspectiva.
A casa não se estringe ao teatro, pelo contrário, mas é a grande editora brasileira de obras, tanto clássicas como inéditas, sobre o palco e a literatura dramática.