Em 1º dia na nova sede, SPFW tem ativismo ambiental e estreia masculina
Primeiro dia de desfiles em sede industrial teve ativismo da Osklen, ‘reestreia’ da Modem e índias urbanas de João Pimenta
A bolha fashionista da São Paulo Fashion Week ganhou novo endereço e programação de desfiles nesta temporada.
Um galpão em obras, em meio a prédios destruídos e estúdios fotográficos da Vila Leopoldina, na zona oeste, substituiu as curvas modernistas do pavilhão da Bienal, no Ibirapuera, onde o evento passou os últimos 20 anos.
Oficialmente, esta 46ª edição começou no domingo (21) com um desfile no centro de São Paulo, mas só nesta segunda-feira (22) os flashes se voltaram para essa nova fase da semana de moda, que se autointitula “Trans-Posição” em referência ao movimento de mudança em curso desde a venda da SPFW a um fundo árabe de investimentos, o Mubadala Company.
Foi nas duas salas de pédireito altíssimo, montadas dentro dessa caixa de concreto batizada de Arca, que toda a fauna da moda nacional acompanhou o discurso sustentável da Osklen, o artístico da Modem, o urbano da estreante Torinno e o histórico de João Pimenta.
Como se fundisse o visual dos pescadores ribeirinhos ao dos marinheiros de navios cargueiros, a Osklen criou looks com túnicas azuis e toucas vermelhas —óbvia referência ao filme “A Vida Marinha de Steve Zissou” (2004)— e peças mais versáteis de linho, seda e algodão orgânico.
Oskar Metsavaht evoluiu seu estilo “podrinho chique” com looks desfiados nas barras e de aparência desgastada, aos quais adicionou vestidos plissados sobrepostos a camisas com silhueta quadrada.
Tudo foi combinado a peças feitas em parceria com comunidades de artesãos ribeirinhos do país. As bolsas de cestaria foram confeccionadas pela ONG Artesol, as sacolas de macramê são da cooperativa Bordando o Futuro e as estampas de fauna marinha são do coletivo de artistas Casa do Cacete.
Quem também engendrou parcerias foi Andre Boffano, estilista da Modem, que produziu peças com Rodrigo Ohtake. As criações do arquiteto bordaram tricôs e tingiram camisas de seda, num trabalho em que um interpretou a expertise do outro para construir peças das quais as linhas beberam da fonte da estética suprematista.
Boffano apresenta o esmero no tratamento do couro e os acabamentos em metais industriais que identificam sua marca, mas agora dá um passo à frente ao abordar essas referências numa embalagem mais colorida.
Parte do DNA da Modem, que reestreia na SPFW após a saída do estilista Samuel Santos, as golas altas foram reinterpretadas e apareceram como laços desfeitos.
Outra boa surpresa foi a Torinno, do stylist Luis Fiod, que transpôs para a passarela masculina de sua marca a experiência atrás das câmeras.
Com propósito de oferecer um visual urbano com informação de moda, a coleção se destaca pelo tom militar.
Fiod não poupou o bolso em composições de algodão puro, náilon e seda para dar verniz arrojado a peças aparentemente simples, construídas com materiais de ponta e acabamento minucioso.
A atriz Deborah Secco, estrela do desfile, apareceu com peça de vinil. Mas foi outro nome da TV, Camila Queiroz, quem encerrou esse primeiro dia de SPFW, no desfile de João Pimenta, que preencheu a passarela com modelos negras para costurar as raízes do Brasil.
No caso da roupa, essas raízes foram expressas em variações de algodão, tratado para ganhar aspecto de camurça, seda e látex. As pinturas indígenas viraram estampas e grafismos na coleção mais brasileira da noite.