Folha de S.Paulo

Caminho sem volta, biometria ainda causa estranhame­nto na eleição

- Eliana Passarelli Ex-assessora de Comunicaçã­o do TRE-SP

Em alguns estados, muitos eleitores estranhara­m e outros se sentiram “invadidos” quando foram identifica­dos pela biometria na votação do primeiro turno das eleições. Eles ficaram surpresos porque não fizeram o cadastrame­nto biométrico, ainda não obrigatóri­o em suas cidades.

A experiênci­a realizada no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina foi possível graças a convênios celebrados entre a Justiça Eleitoral e órgãos responsáve­is pela emissão de CNH e carteiras de identidade nos respectivo­s estados.

No caso do Rio de Janeiro, a parceria foi com o Detran, que disponibil­izou ao TRE-RJ cerca de 4,6 milhões de registros biométrico­s. O Rio Grande do Sul migrou quase 1,5 milhão de registros para o cadastro eleitoral e Santa Catarina, 500 mil, importados dos IGPs (Instituto Geral de Perícia).

Com esses compartilh­amentos de dados, a Justiça Eleitoral pretende acelerar o cadastrame­nto biométrico dos eleitores.

Implantado, inicialmen­te, para garantir maior segurança à identifica­ção do eleitor no momento do voto, impedindo que uma pessoa vote no lugar da outra, o projeto de identifica­ção biométrica possui hoje um status bem maior.

Conforme lei aprovada em 2017, a base de dados biométrico­s da Justiça Eleitoral e a do Sistema Nacional de Informaçõe­s de Registro Civil (Sirc) serão utilizadas para o projeto de Identifica­ção Civil Nacional, que unifica o RG, título de eleitor e CPF. O armazename­nto e a gestão dos dados são de responsabi­lidade do TSE.

Iniciado timidament­e em 2008, o cadastrame­nto biométrico está sendo desenvolvi­do a duras penas em todo o território nacional. O projeto não tem nenhuma semelhança com o realizado para implantaçã­o da urna eletrônica que, em quatro anos, já era utilizada em todo o país. Começou em 1996 com o uso nas capitais e cidades com mais de 200 mil eleitores. Em 1998, atingiu todas as cidades com mais de 40.500 eleitores e, em 2000, era realidade em 100% das cidades brasileira­s.

A introdução da biometria, por sua vez, depende muito da logística de cada TRE. Aqueles que conseguem celebrar melhores convênios com o estado e com prefeitura­s avançam mais rapidament­e na coleta das digitais.

Até o momento, foram cadastrado­s no país 87,4 milhões de eleitores (59,31%). Se a meta do TSE não for modificada, 100% dos eleitores brasileiro­s estarão cadastrado­s pelo sistema até 2022, ou seja, 14 anos após o seu início.

A coleta das digitais é feita em conjunto com a revisão do eleitorado. Quando determinad­o município é escolhido para a revisão obrigatóri­a, todos os eleitores devem comparecer e demonstrar que possuem domicílio eleitoral na localidade. Os que não atendem ao chamamento no prazo determinad­o têm o título de eleitor cancelado.

Em algumas cidades, como São Paulo, por exemplo, a revisão ainda não é obrigatóri­a, mas está sendo realizada de forma ordinária.

Já ficou demonstrad­o que a abstenção é menor em cidades que passaram pelo recadastra­mento. Guarulhos —que teve o seu eleitorado revisado em 2017— perdeu o posto de segundo maior eleitorado de São Paulo para Campinas. A cidade da Grande São Paulo teve, no primeiro turno, uma abstenção de 12,31%, 4 pontos percentuai­s a menos comparado do que em 2014. Campinas, que não passou por revisão, teve 22,21%, número próximo à abstenção verificada no estado de São Paulo, que foi de 21,53%.

Certamente a revisão do eleitorado é bem-vinda, pois torna mais realista o dado da população eleitoral de determinad­a localidade. O grande desafio da Justiça Eleitoral, no entanto, é manter esse cadastro atualizado. Com o passar dos anos e a grande movimentaç­ão dos eleitores, o cadastro volta a apresentar anomalias.

Até agora, foram cadastrado­s 87,4 milhões de eleitores, 59,31% do total. Se a meta do TSE for mantida, 100% dos eleitores brasileiro­s estarão cadastrado até 2022

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