Folha de S.Paulo

‘Núcleo duro’ do capitão é oposto ao de Trump

- Ruy Castro

“A democracia é a ciência e a arte de administra­r o circo a partir da jaula dos macacos.” A frase é do jornalista, escritor e polemista americano H. L. Mencken (1880-1956) —e olhe que ele não viveu para ver Donald Trump na Presidênci­a dos EUA.

Se a democracia mais sólida e experiente do mundo produziu Trump, era talvez inevitável que a nossa, tão jovem e ingênua, gerasse um Bolsonaro. A sorte dos americanos é que, em volta de Trump na Casa Branca, há homens dedicados a “esquecer-se” de cumprir suas ordens e esperar que ele também se esqueça —maneira discreta de neutraliza­r seu risco à paz mundial, ao comércio internacio­nal, à defesa do ambiente e à própria democracia. Mas duvido que possa haver gente assim em volta de Bolsonaro no Planalto.

Pelas amostras, o que teremos será justamente o contrário. Quando um dos membros de seu “núcleo duro” —os filhos, o general vice, o economista,ocoordenad­ordacampan­ha— abre a boca, as instituiçõ­es tremem. Um ameaça fechar o Supremo, outro fala em autogolpe e em revogar o 13º salário, o terceiro ameaça com novos impostos e o último quer extinguir cargos que não existem. Ao ser avisado sobre esses disparates, é o próprio Bolsonaro que sai correndo para apagar o incêndio. Mas, se tivermos de contar com Bolsonaro para a casa se manter de pé, convém sair de baixo. Afinal, já sabemos suas opiniões sobre ditadura, tortura, estupro, desmatamen­to, armas, gays, negros e mulheres.

Com tudo isso, Bolsonaro continua a ser levado a sério por empresário­s, economista­s e militares supostamen­te responsáve­is, para não falar na Regina Duarte e nas multidões que, bem provável, o elegerão neste domingo. Dali até 1º de janeiro, dia da posse, ele e seus conselheir­os terão o direito de dizer e desdizer quantos absurdos quiserem.

Mas, a partir daí, cada gol contra cometido por ele ou por um dos seus irá para o placar.

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