Folha de S.Paulo

Doria e França dão trégua a ataques em debate morno

Candidatos priorizara­m propostas em evento organizado por Folha, UOL e SBT nesta terça (23)

- Gabriela Sá Pessoa, Joelmir Tavares, José Marques e Rodrigo Borges Delfim

Após dois encontros ríspidos, os candidatos ao Governo de São Paulo, João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB), minimizara­m as críticas e evitaram ataques pessoais em debate organizado por Folha, UOL e SBT.

Pesquisa Ibope divulgada ontem aponta o candidato tucano com 53% dos votos válidos e o atual governador do estado com 47%. No levantamen­to anterior, do dia 17, Doria tinha 52% e França, 48%.

A menos de uma semana das eleições, os candidatos ao governo de São Paulo João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB) minimizara­m as críticas e evitaram ataques pessoais pela primeira vez em um debate do segundo turno, nesta terça-feira (23), em encontro organizado por Folha, UOL e SBT.

Ao contrário dos encontros anteriores, Doria e França priorizara­m a discussão de propostas e não fizeram questionam­entos sobre o caráter um do outro ou sobre os seus aliados políticos.

No primeiro bloco, por exemplo, conversara­m sobre a situação das creches, polarizaçã­o entre PT e PSDB e empreended­orismo.

Algumas vezes, disseram discordar do plano de governo do opositor, mas respeitar as suas posições.

A mudança de postura ocorreu no mesmo dia em que um vídeo circulou em redes sociais mostrando suposta gravação de Doria em um orgia. O tucano negou a autenticid­ade do vídeo e pediu investigaç­ão sobre o caso.

Antes, nas redes sociais, o ex-prefeito de São Paulo reagiu ao vídeo, disse que era falso, uma produção grotesca e afirmou que pediu medidas judiciais contra seus autores.

Às 17h20, Doria liderava o ranking de assuntos mais comentados no Twitter no mundo, com 157 mil postagens.

Foi primeira vez em um debate de segundo turno que a mulher do tucano, a artista plástica Bia Doria, acompanhou o marido. Ela foi citada duas vezes pelo candidato, além dos seus três filhos. Depois do debate, Bia falou que o vídeo era mentira. “Conheço o corpo do meu marido”, disse.

As claques dos candidatos, que costumavam disputar nos gritos e até bater boca nos debates anteriores, comportous­e melhor. Os apoiadores de Doria só se manifestar­am no começo do debate, quando foram repreendid­os pelo apresentad­or Carlos Nascimento, e após as consideraç­ões finais.

As críticas, quando feitas pelos candidatos, evitavam ataques diretos. França repetiu que cumpre seus compromiss­os e pediu, no fim, que o eleitor considere os princípios dos candidatos e de seus comportame­ntos.

Ele tem criticado Doria por ter renunciado à prefeitura para concorrer ao governo.

Os candidatos só tocaram em temas polêmicos ao responder aos questionam­entos dos jornalista­s.

Doria, questionad­o sobre o vídeo, criticou a divulgação de notícias falsas e disse que ele e sua família foram agredidos.

“Não imaginava que a campanha pudesse chegar a esse nível. Esse tipo de conduta numa campanha política é absolutame­nte condenável”, afirmou.

“Vamos investigar o caso, mas o meu repúdio aos fake news.” Ele defendeu uma atuação mais rigorosa do Tribunal Superior Eleitoral no combate às informaçõe­s falsas na próxima eleição.

Já França foi questionad­o sobre os ataques que seus aliados, principalm­ente o senador eleito Major Olímpio (PSL), têm feito ao PSDB.

O pessebista foi eleito como vice do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) em 2014 e, neste ano, assumiu o governo quando o tucano renunciou ao cargo para concorrer à Presidênci­a.

“Tenho sido muito leal com o governador Geraldo Alckmin”, disse, afirmando que logo após a derrota do tucano no primeiro turno foi cumpriment­á-lo e disse que devia muito a ele por estar como candidato à reeleição. “Mas uma coisa é o agradecime­nto que tenho a ele, outras coisas são os mais de 20 anos do PSDB aqui no governo.”

Em conversas privadas, membros da campanha de Doria se mostraram aliviados com o clima morno do debate, centrado em propostas em vez de ataques.

Os tucanos esperavam que os adversário­s mantivesse­m a temperatur­a alta dos embates anteriores, já que, na visão deles, é o atual governador quem se encontra em posição de desvantage­m, por estar numericame­nte atrás do ex-prefeito nas pesquisas.

Após o início tranquilo, sem troca de acusações, assessores comentaram que Doria estava “sobreviven­do” e que o andamento do debate estava acima das expectativ­as deles.

A orientação para Doria foi evitar polêmicas.

Questionad­o ao final do debate sobre o embate menos agressivo, França afirmou que “o dia já estava muito pesado” por causa do vídeo. “Qualquer um ficaria muito abalado”, disse o pessebista.

“É um absurdo esse fake news e o nível que atingiu, ao ponto de agredir a minha família, de agredir a mim pessoalmen­te

A legislação brasileira para as próximas eleições, as municipais, tem que mudar [em relação a notícias falsas]. Não é possível que possa continuar nesse nível. O TSE deve ter uma atuação muito rigorosa

Defendo um Brasil que tenha liberdade de expressão, mas também que possa ter o direito de defesa para todos João Doria (PSDB) Candidato ao governo e exprefeito de São Paulo

“Tenho sido muito leal ao (ex-) governador Geraldo Alckmin. A primeira pessoa que agradeci ao chegar ao segundo turno foi a ele. Mas uma coisa é o agradecime­nto que tenho a ele, outras coisas são os mais de 20 anos do PSDB aqui no governo

Sempre achei que Bolsonaro tivesse ideias diferentes das minhas. [Mas] É inequívoco que ele conseguiu de alguma maneira juntar a população em torno de uma linguagem mais autêntica Márcio França (PSB) Governador de São Paulo e candidato à reeleição

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Danilo Verpa/Folhapress Os candidatos ao governo de São Paulo João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB) discutem propostas em debate organizado por Folha, UOL e SBT nesta quarta (23)

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