Doria e França dão trégua a ataques em debate morno
Candidatos priorizaram propostas em evento organizado por Folha, UOL e SBT nesta terça (23)
Após dois encontros ríspidos, os candidatos ao Governo de São Paulo, João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB), minimizaram as críticas e evitaram ataques pessoais em debate organizado por Folha, UOL e SBT.
Pesquisa Ibope divulgada ontem aponta o candidato tucano com 53% dos votos válidos e o atual governador do estado com 47%. No levantamento anterior, do dia 17, Doria tinha 52% e França, 48%.
A menos de uma semana das eleições, os candidatos ao governo de São Paulo João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB) minimizaram as críticas e evitaram ataques pessoais pela primeira vez em um debate do segundo turno, nesta terça-feira (23), em encontro organizado por Folha, UOL e SBT.
Ao contrário dos encontros anteriores, Doria e França priorizaram a discussão de propostas e não fizeram questionamentos sobre o caráter um do outro ou sobre os seus aliados políticos.
No primeiro bloco, por exemplo, conversaram sobre a situação das creches, polarização entre PT e PSDB e empreendedorismo.
Algumas vezes, disseram discordar do plano de governo do opositor, mas respeitar as suas posições.
A mudança de postura ocorreu no mesmo dia em que um vídeo circulou em redes sociais mostrando suposta gravação de Doria em um orgia. O tucano negou a autenticidade do vídeo e pediu investigação sobre o caso.
Antes, nas redes sociais, o ex-prefeito de São Paulo reagiu ao vídeo, disse que era falso, uma produção grotesca e afirmou que pediu medidas judiciais contra seus autores.
Às 17h20, Doria liderava o ranking de assuntos mais comentados no Twitter no mundo, com 157 mil postagens.
Foi primeira vez em um debate de segundo turno que a mulher do tucano, a artista plástica Bia Doria, acompanhou o marido. Ela foi citada duas vezes pelo candidato, além dos seus três filhos. Depois do debate, Bia falou que o vídeo era mentira. “Conheço o corpo do meu marido”, disse.
As claques dos candidatos, que costumavam disputar nos gritos e até bater boca nos debates anteriores, comportouse melhor. Os apoiadores de Doria só se manifestaram no começo do debate, quando foram repreendidos pelo apresentador Carlos Nascimento, e após as considerações finais.
As críticas, quando feitas pelos candidatos, evitavam ataques diretos. França repetiu que cumpre seus compromissos e pediu, no fim, que o eleitor considere os princípios dos candidatos e de seus comportamentos.
Ele tem criticado Doria por ter renunciado à prefeitura para concorrer ao governo.
Os candidatos só tocaram em temas polêmicos ao responder aos questionamentos dos jornalistas.
Doria, questionado sobre o vídeo, criticou a divulgação de notícias falsas e disse que ele e sua família foram agredidos.
“Não imaginava que a campanha pudesse chegar a esse nível. Esse tipo de conduta numa campanha política é absolutamente condenável”, afirmou.
“Vamos investigar o caso, mas o meu repúdio aos fake news.” Ele defendeu uma atuação mais rigorosa do Tribunal Superior Eleitoral no combate às informações falsas na próxima eleição.
Já França foi questionado sobre os ataques que seus aliados, principalmente o senador eleito Major Olímpio (PSL), têm feito ao PSDB.
O pessebista foi eleito como vice do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) em 2014 e, neste ano, assumiu o governo quando o tucano renunciou ao cargo para concorrer à Presidência.
“Tenho sido muito leal com o governador Geraldo Alckmin”, disse, afirmando que logo após a derrota do tucano no primeiro turno foi cumprimentá-lo e disse que devia muito a ele por estar como candidato à reeleição. “Mas uma coisa é o agradecimento que tenho a ele, outras coisas são os mais de 20 anos do PSDB aqui no governo.”
Em conversas privadas, membros da campanha de Doria se mostraram aliviados com o clima morno do debate, centrado em propostas em vez de ataques.
Os tucanos esperavam que os adversários mantivessem a temperatura alta dos embates anteriores, já que, na visão deles, é o atual governador quem se encontra em posição de desvantagem, por estar numericamente atrás do ex-prefeito nas pesquisas.
Após o início tranquilo, sem troca de acusações, assessores comentaram que Doria estava “sobrevivendo” e que o andamento do debate estava acima das expectativas deles.
A orientação para Doria foi evitar polêmicas.
Questionado ao final do debate sobre o embate menos agressivo, França afirmou que “o dia já estava muito pesado” por causa do vídeo. “Qualquer um ficaria muito abalado”, disse o pessebista.
“É um absurdo esse fake news e o nível que atingiu, ao ponto de agredir a minha família, de agredir a mim pessoalmente
A legislação brasileira para as próximas eleições, as municipais, tem que mudar [em relação a notícias falsas]. Não é possível que possa continuar nesse nível. O TSE deve ter uma atuação muito rigorosa
Defendo um Brasil que tenha liberdade de expressão, mas também que possa ter o direito de defesa para todos João Doria (PSDB) Candidato ao governo e exprefeito de São Paulo
“Tenho sido muito leal ao (ex-) governador Geraldo Alckmin. A primeira pessoa que agradeci ao chegar ao segundo turno foi a ele. Mas uma coisa é o agradecimento que tenho a ele, outras coisas são os mais de 20 anos do PSDB aqui no governo
Sempre achei que Bolsonaro tivesse ideias diferentes das minhas. [Mas] É inequívoco que ele conseguiu de alguma maneira juntar a população em torno de uma linguagem mais autêntica Márcio França (PSB) Governador de São Paulo e candidato à reeleição