Folha de S.Paulo

Em MG, Zema prega ser novato, mas foi do PR por 18 anos

Líder na corrida ao governo, empresário de Araxá se desfiliou somente neste ano para poder concorrer

- Carolina Linhares

Pregando ser novato na política, Romeu Zema, empresário candidato ao governo de Minas Gerais, foi filiado ao PR (Partido da República) de 1999 até janeiro deste ano, quando entrou no Novo. A informação foi verificada em dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

A legislação eleitoral diz que o candidato deve se filiar ao partido pelo qual irá concorrer ao menos seis meses antes antes da eleição. Zema se filou ao Novo em 22 de janeiro de 2018, dentro do prazo legal.

Em abril deste ano, quando o sistema do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de Minas Gerais verificou as filiações de candidatos, cancelou automatica­mente a sua inscrição mais antiga, no PR. No sistema, a data de cancelamen­to é 14 de abril de 2018.

O pai e o irmão de Zema, Ricardo Zema e Romero Zema, também se filiaram ao PR em 1999 e, segundo o TSE, não houve desfiliaçã­o até hoje.

O PR, na verdade, herdou, ao ser fundado em 2006, os filiados dos dois partidos que se uniram para criar a no- va sigla: o PL e o Prona.

Zema é empresário de Araxá (MG) e concorre a uma eleição pela primeira vez. Em seu discurso de campanha, prega ser novo na política e contrário às práticas que atribui à política tradiciona­l, como troca de favores, negociação de cargos e corrupção. Ele disputa o segundo turno contra Antonio Anastasia (PSDB), senador e ex-governador de Minas.

Em entrevista à Folha após chegar à frente no primeiro turno, Zema disse que, até receber o convite do Novo para ser candidato, mantinha distância da política.

“Surgiu um convite que, se não tivesse surgido, eu nunca estaria aqui hoje. Na minha história na empresa, por ironia, eu sempre preguei que nós deveríamos manter total distância de política”, disse.

Zema também afirmou que hesitou aceitar ser candidato por nunca ter se envolvido com política. “A primeira resposta minha foi não, devido ao meu histórico de nunca ter participad­o de uma campanha, de nunca ter me envolvido com política. Fiquei totalmente desconfort­ável. Vou começar uma carreira nova aos 53 anos? Não é hora. Mas depois de refletir, voltei atrás.”

O PR é comandado por Valdemar da Costa Neto, preso no mensalão e que sequer é filiado à sigla. O partido, que também teve políticos envolvidos na Lava Jato, esteve na base dos governos do PT e também de Michel Temer (MDB) na Presidênci­a. No primeiro turno, apoiou formalment­e a candidatur­a de Geraldo Alckmin (PSDB). No segundo, liberou seus quadros, sem tomar uma posição oficial.

Em Minas, o PR faz parte da base de governo de Fernando Pimentel (PT) e integrou a coligação do petista nesta eleição, que tentou a reeleição, mas terminou em terceiro.

Em resposta à Folha, Zema afirmou que foi convidado por um amigo há cerca de 20 anos para se filiar ao PR. “Devido à sua insistênci­a, assinei a ficha de filiação, mas nunca participei de qualquer atividade partidária nem muito menos fui candidato a nenhum cargo público”, afirmou em nota.

Questionad­o pessoalmen­te depois, disse não se recordar de ter sido filiado. A assessoria de Zema não respondeu sobre a filiação de seu pai e irmão.

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