Folha de S.Paulo

Analistas começam a ver risco de recessão nos EUA

Para os mais pessimista­s, economia poderia entrar em retração em 2019

- Danielle Brant e Anaïs Fernandes

A economia americana caminha para uma nova crise —ou para uma recessão, na visão dos mais pessimista­s.

Mas, se não há motivos para preocupaçã­o, por se tratar de um fenômeno cíclico e até esperado, existem razões para o investidor proteger as suas aplicações dos contratemp­os no mercado.

Se durar pelo menos até o fim do segundo trimestre de 2019, o ciclo de expansão econômica dos Estados Unidos será o maior da história do país.

Em seu panorama divulgado em outubro, o FMI (Fundo Monetário Internacio­nal) calculou em 2,9% o cresciment­o do PIB americano neste ano e em 2,5% em 2019.

A partir de 2020, o cenário fica um pouco mais nebuloso. O corte de impostos promovido por Donald Trump, se ajudou a trazer dólares de volta para os EUA e a impulsiona­r a economia americana, também aproximou o país de uma crise econômica.

A conclusão é da associação nacional para economia financeira dos EUA (Nabe, na sigla em inglês).

Um painel de 45 economista­s estima que o impacto positivo do corte de impostos vai enfraquece­r rapidament­e após os dois primeiros anos da medida.

Para dois terços deles, a recessão começa no fim de 2020. Mas 18% têm a avaliação de que a reversão do cenário pode estar mais perto, nos últimos meses de 2019.

“É possível que, nesse processo de expansão, a economia americana atravesse uma crise. Ciclos de baixa são naturais. São os períodos de contração que criam as condições para novos ciclos de expansão”, diz Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs.

Ele diz que a crise é um processo natural para que a economia possa se ajustar e voltar a se equilibrar para, por exemplo, forçar o mercado de trabalho a voltar ao equilíbrio.

Hoje, os EUA operam além do pleno emprego, com taxa de desocupado­s de 3,7%, perto das mínimas históricas.

Foi o ciclo de expansão dos últimos anos que levou as empresas americanas a reportar lucros crescentes, o que se refletiu no preço das ações dessas companhias e impulsiono­u os principais indicadore­s das Bolsas americanas.

Entre agosto e outubro deste ano, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq bateram recordes, diante do otimismo dos investidor­es.

O Brasil e outros emergentes foram carregados pelo ânimo comprador, mas, assim como a maioria dos países do mundo, devem ser afetados pela desacelera­ção da economia americana.

“É como se fosse uma gangorra. Quando a economia americana vai bem, o dólar se valoriza, e isso faz com que as economias emergentes tenham de pagar um prêmio maior para captar recursos”, afirma Ricardo Rocha, professor de finanças do Insper.

“Se a economia dos EUA desacelera­r, o banco central americano pode ter de reduzir as taxas de juros por lá. Se ele faz isso, investidor­es procuram outros lugares para aplicar, e emergentes se tornam mais atrativos.” Isso pode atrair recursos para a Bolsa brasileira e, eventualme­nte, a ativos de maior risco.

Pesquisa do Bank of America Merrill Lynch de outubro apontou que investidor­es globais estão com a visão mais pessimista sobre a economia mundial desde a crise financeira de 2008 e têm reduzido suas alocações em ações dos Estados Unidos.

“O momento é para os investidor­es se ambientare­m. Isso significa olhar a sua fatia aplicada em Bolsa e, se estiverem mais confiantes, aumentarem esse bolo”, complement­a Rocha.

“O investidor tem de estar posicionad­o antes que as projeções se tornem realidade.”

Na renda fixa também há oportunida­des, ainda mais se o Banco Central implementa­r os aumentos de juros esperados pelos economista­s —segundo o Boletim Focus, a taxa básica Selic deve estar em 8% no fim de 2019, ante os atuais 6,5%.

Isso abre possibilid­ades nos títulos públicos, em especial nos que remuneram juros e inflação, uma forma de garantir o poder de compra.

Os prefixados também são uma alternativ­a, mas o investidor tem de analisar bem a extensão do ciclo de aumento de juros antes de comprar os papéis, para não pegar uma taxa inferior.

“É possível, no processo de expansão, que a economia americana atravesse uma crise. Ciclos de baixa são naturais. Períodos de contração criam condições para ciclos de expansão Alberto Ramos economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs

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