Folha de S.Paulo

Polícia de SP apura se dinheiro de briga entre policiais era caixa dois

Após troca de tiros entre agentes de São Paulo e Minas Gerais, R$ 14 milhões foram apreendido­s em Juiz de Fora

- Divulgação Rogério Pagnan

A Polícia Civil de São Paulo investiga se os R$ 14 milhões apreendido­s em Minas Gerais após tiroteio envolvendo policias dos dois estados, na última sexta-feira (19), em Juiz de Fora (MG), seriam utilizados para abastecer caixa dois de campanhas eleitorais.

Essa linha de investigaç­ão apareceu em depoimento de um empresário à Corregedor­ia da Polícia Civil, na tarde de segunda-feira (22). A polícia investiga a origem e quanto do valor apreendido é de notas falsificad­as.

Segundo o secretário paulista Mágino Alves Barbosa Filho (Segurança Pública), o principal alvo das apurações até aqui é a conduta dos policiais que escoltavam empresário­s paulistas em negociação supostamen­te ilegal. Parte dos agentes está presa sob suspeita de lavagem de dinheiro.

“Se incidental­mente aparecer alguma [pista sobre caixa dois], tudo bem, mas o objetivo da nossa investigaç­ão [em São Paulo] é apurar a conduta dos policiais. Se encontrarm­os [indícios], a gente vai comunicar a PF [Polícia Federal], a Justiça eleitoral imediatame­nte”, disse.

Mágino afirmou ainda que considera “muito estranha” uma ação desse tipo neste momento, envolvendo movimentaç­ão de dinheiro em espécie. “Nessa época do ano, é muito estranho esse tipo de ação. Mas, repito, nosso objetivo é apurar a ação dos policiais”, completou o secretário.

O confronto entre policiais aconteceu na tarde de sextafeira, no estacionam­ento de um hospital. Durante a ação, um policial mineiro de 39 anos foi morto, e dois empresário­s foram baleados. Segundo as investigaç­ões, os policiais civis de São Paulo estariam na cidade para realizar uma “escolta vip” para um doleiro e dois empresário­s.

Cada policial, segundo apuração, receberia R$ 1.500 para fazer esse trabalho. Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, alguns dos agentes envolvidos estavam em horário de serviço.

De acordo com a Justiça mineira, há indícios de que os policiais tinham conhecimen­to da ilegalidad­e da transação feita entre os empresário­s. Eles estão presos por lavagem de dinheiro, mas podem ser indiciados também por estelionat­o, prevaricaç­ão, sonegação fiscal e organizaçã­o criminosa, a depender da conclusão das investigaç­ões.

Dos nove policiais paulistas que foram a Minas, quatro foram presos em flagrante, com prisão convertida para preventiva (quando não há prazo para serem soltos).

Após a troca de tiros, foram apreendida­s as malas com o dinheiro que seria negociado. A principal suspeita é que as notas falsas de real pertençam ao empresário mineiro Antônio Vilela. Em 2009 e 2015, ele já havia sido preso por tentar negociar dólares e pedras preciosas com notas falsas.

A polícia suspeita que os paulistas teriam ido a Juiz de Fora para negociar dólares, mas nenhuma quantia da moeda americana foi apreendida.

Alvo da escolta, o doleiro Flávio de Souza Guimarães saiu de São Paulo em direção a Minas em um avião particular para realizar um “negócio milionário”. No voo, estava acompanhad­o de um delegado da polícia de São Paulo, dos empresário­s Roberto Uyvare Júnior e Jerônimo Leal Júnior e de seu advogado.

Uyvare Júnior, segundo a Justiça mineira, possui empresas na França, na Espanha e no Brasil. Já Leal Júnior seria dono de uma empresa de segurança em São Paulo.

Flávio Guimarães prestou depoimento à Corregedor­ia da Polícia Civil na segundafei­ra. Negou que tivesse objetivo eleitoral, assim como também negou que tenha levado dólares para Minas para serem trocados por reais. Alegou que foi a Juiz de Fora para pegar um empréstimo.

“O declarante nega, de forma veemente, qualquer vinculação dos fatos aqui narrados com atividade político-partidária de qualquer espécie ou viés, refutando especialme­nte alegação sentido de caixa dois eleitoral”, diz trecho do depoimento do empresário, após ele ser questionad­o.

A cúpula da Segurança Pública não acredita na versão de empréstimo, tanto assim que classifica como criminoso o ato praticado pelos policiais civis que participar­am da escolta.

As apurações da polícia mineira indicam até agora que as malas de dinheiro seriam transporta­das para São Paulo, mas não foram porque, na negociação, os empresário­s paulistas desconfiar­am que parte do dinheiro (notas de R$ 100) era falsa. Isso teria dado início à troca de tiros, já que policiais civis de Minas acompanhav­am o empresário Vilela.

Nesta terça-feira (23), a Ouvidoria da Polícia encaminhou à Superinten­dência da Polícia Federal pedido para que a instituiçã­o acompanhe o caso por envolver policiais de dois estados e suspeitas de crimes graves, como homicídio, lavagem de dinheiro, prevaricaç­ão, estelionat­o e organizaçã­o criminosa.

 ??  ?? Malas com dinheiro apreendido após confronto entre policiais paulistas e mineiros em Juiz de Fora (MG)
Malas com dinheiro apreendido após confronto entre policiais paulistas e mineiros em Juiz de Fora (MG)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil