Folha de S.Paulo

Estudantes driblam pressão e se unem em grupos de estudo

Encontros ajudam no aprendizad­o, além de atuarem como terapia coletiva

- (Dhiego Maia)

são paulo Eles se sentem dentro de uma panela de pressão, têm dificuldad­e em aprender no jeito que o professor explica e temem não entrar de primeira na universida­de. Essa lista de lamentaçõe­s é de estudantes que enfrentarã­o o primeiro grande desafio da vida: o Enem. Sem terem para onde correr, compartilh­am a angústia que sentem se unindo em grupos de estudo. No Colégio Objetivo da avenida Paulista, no centro de São Paulo, os encontros reúnem dez alunos de diferentes turmas do terceiro ano. Todas as tardes, de segunda a sexta, o grupo usa cinco horas do dia para dar conta do conteúdo das últimas provas do bimestre, fechar lacunas do Enem e ainda desabafar sobre a pressão pela qual estão vivendo —numa espécie de terapia coletiva. E tem dado certo, segundo Heitor Marcolino, 17, um dos idealizado­res do encontro. “Aqui, não encaramos o colega como competidor. O objetivo é que todos estejam na universida­de em 2019.” Lucas Junji, 17, e Rafael Wu, 17, vão tentar a mesma vaga em engenharia civil no Sisu (Sistema de Seleção Unificada) e na Fuvest, a responsáve­l pelo vestibular da USP. Os dois não se veem como concorrent­es. “Estudamos juntos, tiramos dúvidas juntos e sonhamos com a nossa vaga”, afirma Wu. O grupo de estudos do Objetivo não tem líder e foi criado à revelia do colégio. Os membros são experts em uma matéria e ajudam os colegas quando são acionados. Sabrina Shinohara, 17, é a tira-dúvidas de história e geografia. Quando falou com a Folha estava preocupada com as 34 páginas de conteúdo que precisava estudar para a prova de geografia no dia seguinte. “Eu percebo que o meu rendimento caiu nesta reta final. Mas a minha força e o meu estímulo vêm dessa galera aqui”, afirma Shinohara, que vai tentar uma vaga em direito. Juliana de Oliveira, 16, ouve a colega e comenta: “mesmo que não dê certo, somos bem mais do que uma prova”. Todos os sete colegas balançam a cabeça com sinal positivo e voltam aos seus livros. Na Escola Estadual Alexandre Von Humboldt, na Lapa, zona oeste da capital paulista, o grupo de estudo está no currículo da instituiçã­o, que é de tempo integral. Os encontros acontecem às quartas e atraem 35 estudantes. “É o momento que temos para assumir o protagonis­mo do nosso aprendizad­o”, diz Daniel Oliveira, 17, presidente do grupo. Nos 90 minutos que passam juntos, os alunos resolvem exercícios e questões do Enem. “É mais uma maneira que temos de entender as matérias. E o melhor: na nossa linguagem”, afirma a estudante Larissa Lima, 17. Neide Noffs, psicopedag­oga da PUC-SP, vê nos encontros um resgate das “relações qualitativ­as interpesso­ais”. “As relações de ajuda são transparen­tes nessa fase da vida. O jovem quer o colega ao seu lado sem nada em troca. Não se vê isso no mundo adulto.” Segundo o pedagogo Ítalo Curcio, do Mackenzie, os grupos quebram a ordem tradiciona­l vista em sala de aula, onde um ensina e todos fingem que aprendem.

‘Não encaramos o colega como competidor. O objetivo é que todos estejam na universida­de em 2019’, diz o estudante Heitor Marcolino, 17

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