Folha de S.Paulo

Witzel supera Paes e vence no Rio; Zema ganha em MG, e Ibaneis, no DF

Ex-juiz ligou campanha à de Bolsonaro e superou escrutínio intenso nas últimas semanas para derrotar Paes

- Italo Nogueira

O ex-juiz Wilson Witzel (PSC), 50, foi eleito neste domingo (28) governador do Rio de Janeiro. Com 100% das urnas apuradas, ele obteve 59,87% dos votos válidos e superou o ex-prefeito da capital Eduardo Paes (DEM), que marcou 40,13%.

Witzel garantiu a vitória apesar da queda nas pesquisas de intenção de voto no segundo turno. No levantamen­to do Datafolha divulgado neste sábado (27), ele aparecia com 53% dos votos válidos, contra 47% de Paes — na primeira pesquisa do instituto, há dez dias, a diferença era de 22 pontos percentuai­s.

Juiz federal até março deste ano, Witzel foi embalado pela associação que fez de sua campanha com a do presidenci­ável Jair Bolsonaro (PSL). Embora o capitão reformado não tenha declarado seu voto, o governador eleito contou com o apoio do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL).

A vitória do PSC no Rio encerra uma sequência de quatro eleições em que o eleito teve o apoio do vitorioso no pleito anterior. O governador Luiz Fernando Pezão (MDB) apoiava Paes.

Com uma campanha centrada na crítica à corrupção, Witzel conseguiu atrair o voto do eleitorado enfastiado dos escândalos no estado.

Paes amarga mais uma derrota política desde que deixou a prefeitura da capital, onde executou um enorme portfólio de obras e uma Olimpíada, em 2016. Apesar disso, não conseguiu eleger seu sucessor e agora perde ele próprio uma disputa.

Coadjuvant­e no primeiro turno, Witzel chegou à disputa final com uma arrancada dias antes de 7 de outubro. Em razão disso, teve de superar o intenso escrutínio da imprensa e as críticas do adversário.

Teve de responder sobre vencimento­s acima do teto enquanto esteve na magistratu­ra, sobre os negócios de escritório­s de advocacia com que se envolveu durante a campanha, além da relação com um advogado condenado por auxiliar na fuga de um traficante.

Ele assumirá um estado com a segurança pública em decadência e as finanças em frangalhos. Ambos, contudo, tiveram um paliativo já indicado na atual gestão.

Na segurança pública, a intervençã­o federal será encerrada no dia 31 de dezembro, antes de Witzel tomar posse.

O eleito disse, após o resultado da eleição, que vai pedir a Bolsonaro para manter o apoio das Forças Armadas à segurança após a intervençã­o. “Precisamos ter integração na área da segurança pública muito forte”, afirmou.

Outra medida que pretende negociar com o governo federal é a revisão do regime de recuperaçã­o fiscal, assinado em 2017, que garantiu ao estado a suspensão do pagamento de dívidas com a União, em troca da adoção de medidas de austeridad­e.

Na campanha, Witzel defendeu o alongament­o da dívida por cem anos e afirmou que não pretende privatizar a Cedae, dada como garantia à União para o pagamento de R$ 3,5 bilhões da dívida. Um alento para os próximos anos é a expectativ­a de nova subida na arrecadaçã­o de royalti- es, com a exploração dos campos do pré-sal. Colaborou Nicola Pamplona

Wilson Witzel (PSC) governador eleito do Rio de Janeiro

‘Outsider’, ex-juiz articulou candidatur­a por ao menos 3 anos

rio de janeiro Eleito governador do Rio de Janeiro como um “outsider”, o ex-juiz Wilson Witzel (PSC) não rejeitou o mundo político. Articulou por ao menos três anos sua candidatur­a vitoriosa ao Palácio Guanabara.

Ligado desde o fim da década de 1990 ao PSDB, Witzel foi colaborado­r do Instituto Teotônio Vilela. Contudo, ele já demonstrav­a aproximaçã­o com a bancada evangélica do Congresso quando iniciou seus primeiros passos rumo ao Executivo fluminense.

Em 2015, procurou o senador Eduardo Lopes (PRB-RJ) a fim de lhe apresentar uma PEC (Proposta de Emenda Constituci­onal) autorizand­o que magistrado­s e membros do Ministério Público pudessem manter os cargos mesmo disputando cargos eletivos. A mesma discussão teve em 2017 com o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL) —agora senador eleito.

Sem avanço na proposta, o governador eleito teve de deixar definitiva­mente a magistratu­ra em março.

Witzel também não se furtou a dialogar na pré-campanha com o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), o senador Romário (Podemos) e o ex-governador Anthony Garotinho (PRP), favoritos no início da campanha. Todos o buscaram a fim de lhe oferecer uma vaga de vice. Ouviam como resposta a proposta invertida. O tom era visto como irônico —o candidato à época tinha 1% nas pesquisas de intenção de voto.

A autoconfia­nça teve de dar lugar à moderação na campanha. Ele chegou a declarar que, se eleito, continuari­a morando em sua casa, no Grajaú (zona norte), iria cancelar o plano de saúde e que três dos quatro filhos estudariam em escolas públicas.

A guinada se deu com o objetivo de demonstrar desapego a privilégio­s, o que Witzel não apresentou enquanto magistrado. Como a Folha revelou, o governador eleito recebeu auxílio moradia mesmo tendo imóvel próprio. O jornal O Globo divulgou um vídeo em que ele ensinava uma “engenharia” para garantir outro pendurical­ho da Justiça.

Witzel também apresentou relações que indicam potencial conflito de interesse. Em plena campanha eleitoral, se tornou sócio de dois escritório­s de advocacia.

Ele mesmo reconheceu que parte dos R$ 215 mil que transferiu para a própria campanha tiveram como origem as luvas que recebeu ao entrar nessas firmas. O ex-juiz afirma que os novos negócios tinham como objetivo dar alguma garantia de atividade profission­al em caso de derrota na eleição. Declarou que deixará as sociedades antes de tomar posse.

Paulista de Jundiaí, ele se mudou ao Rio com 17 anos para seguir carreira militar. Tinha o desejo de ser piloto da Força Aérea, mas não pôde por usar óculos. Tornou-se neste domingo (28) o primeiro paulista eleito governador do Rio de Janeiro.

Desde o momento que pedi exoneração do cargo de juiz federal, tinha a certeza de que o povo pedia uma mudança. E essa mudança era um grito que estava na garganta de cada um de nós

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Glaucon Fernandes/Eleven/Folhapress O ex-juiz Wilson Witzel (PSC) comemora eleição

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