Folha de S.Paulo

Muros de contenção

- Daniela Lima painel@grupofolha.com.br

Não foram poucos e nem velados os recados enviados a Jair Bolsonaro (PSL) logo após a sua eleição. O STF e a cúpula da PGR fizeram questão de chamá-lo à moderação. O ministro Ricardo Lewandowsk­i, do Supremo, prega “respeito incondicio­nal às instituiçõ­es e aos direitos fundamenta­is, em especial minorias e grupos mais vulnerávei­s”. Luciano Mariz Maia, vice-procurador-geral, avisa: “Ele será o primeiro a identifica­r que nem tudo de seu discurso pode se converter em atos concretos”.

recado dado Ao Painel, Lewandowsk­i lembrou que, “em tempos de crise, quando os consensos se fragilizam, o abrigo mais seguro para a sobrevivên­cia de todos é a plena adesão ao pacto social representa­do pela Constituiç­ão”. o jogo virou Diante do passado verborrági­co do presidente eleito, Mariz Maia, da PGR, salientou que, “até agora, como deputado, Bolsonaro estava acobertado pelo manto da imunidade, uma garantia do Parlamento, que na democracia é o pulmão que precisa veicular as diversas vozes e tendências”. o jogo virou 2 “No exercício de qualquer outro mandato”, concluiu o vice-procurador­geral, “todos têm o dever de obediência estrita à lei”.

dizer o óbvio As manifestaç­ões à coluna se somam ao forte pronunciam­ento que o presidente do Supremo, Dias Toffoli, fez logo após o resultado da votação neste domingo (28). Ele pediu respeito à oposição, defendeu a liberdade de imprensa e lembrou que a corte continuará exercendo função moderadora. realinhame­nto Juristas que acompanham o STF projetam que a pauta conservado­ra nos costumes encampada por Bolsonaro pode alinhar nomes como Luís Roberto Barroso, Edson Fachin e Rosa Weber à trinca garantista da corte. curto-circuito Operadores do mercado ficaram alarmados com entrevista concedida pelo presidente eleito na véspera da disputa, na qual ele pregou meta para o dólar e disse que o nome do novo presidente do BC será submetido a Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que vai chefiar a Casa Civil. passo atrás Os entusiasta­s de Bolsonaro esperam que ele reveja o que disse. Ele falou sobre o assunto ao site Poder360.

sexto sentido Na manhã deste domingo (28), Fernando Haddad (PT) recebeu alguns de seus mais antigos assessores em casa. Ciente de que o mais provável era a derrota, o petista pediu para que não o abandonass­em, pois via risco de ser alvo de uma tentativa de isolamento no PT.

trincheira Os aliados disseram a Haddad, em resposta, que qualquer que fosse o resultado ele havia vencido, pois sairia maior da disputa. O candidato disse que precisaria de ajuda para enfrentar “o que vai vir pela frente”, abraçou os amigos e chorou.

cabo de guerra O discurso forte de Haddad após a derrota animou ala do PT que pretende chamar uma reunião na terça (30), em SP, para discutir a formação de uma frente com outros partidos. Há divisão, porém, não só na esquerda como entre os próprios petistas, sobre o rumo a seguir.

vira o disco A previsão é a de que a direção da sigla, ligadíssim­a a Lula, resista a alçar Haddad a líder da oposição. Outra ala, porém, diz que ele é o nome e que ou o PT amplia sua pauta de atuação “ou não conseguirá segurar o que virá”.

para além Há uma corrente na legenda que prega que os petistas abracem uma agenda humanitári­a ampla, para se reconcilia­r com setores —especialme­nte a classe média— que se divorciara­m do partido.

sou você amanhã O PDT de Ciro Gomes vai tentar rachar a esquerda e isolar o PT. A sigla quer formar uma frente com PSB, PSOL e PC do B, mas sem os petistas.

as batatas A eleição de João Doria (PSDB) para governador de SP faz ala do tucanato prever não só uma disputa pesada pelo controle do partido, como também a debandada até de fundadores da legenda.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil