Em discursos da vitória, Bolsonaro fala em defender liberdade e democracia
No pronunciamento em suas redes sociais, presidente eleito criticou imprensa e também opositores
Em dois discursos após a confirmação da vitória na corrida presidencial, Jair Bolsonaro (PSL) ressaltou repetidamente que fará um governo democrático e que respeitará a Constituição Federal.
A ênfase foi uma tentativa de resposta às críticas que o presidente eleito sofre devido a falas suas e de aliados que colocam em questão instituições de Estado e que muitas vezes têm as minorias como alvo.
Para Bolsonaro e seu entorno, um dos momentos dos quais o então candidato saiu mais chamuscado na reta final de campanha foi a divulgação de vídeo em que seu filho Eduardo, deputado federal, diz que para fechar o Superior Tribunal Federal bastariam “um cabo e um soldado”.
Bolsonaro foi o presidente eleito com a maior taxa de rejeição desde a redemocratização, com 45%.
Em sua primeira manifesta- ção após a vitória, uma transmissão ao vivo nas redes sociais, Bolsonaro cercou-se de livros para ilustrar sua posição: a Constituição Federal, a Bíblia, um livro sobre o primeiro-ministro britânico Winston Churchill e outro de autoria do escritor conservador Olavo de Carvalho (“O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser um Idiota”).
Nela, além de tratar do respeito a instituições democráticas, Bolsonaro também criticou a imprensa e os opositores —o que deixou de fora do discurso que fez na sequência às redes de televisão.
“A verdade tem que começar a valer dentro dos lares até o ponto mais alto, que é a Presidência da República. O povo tem o direito de saber o que acontece no seu país. Graças a Deus esta verdade o povo entendeu perfeitamente”, disse o capitão reformado do Exército na transmissão em suas redes sociais, acompanhado da mulher, Michelle.
“Alguém sem um grande partido, sem fundo partidário, com grande parte da grande mídia o tempo todo criticando, colocando-me muitas vezes próximo a uma situação vexatória”, disse, interrompido por falha de gravação do vídeo.
“Não poderíamos mais continuar flertando com o socialismo, com o comunismo, com o populismo e com o extremismo da esquerda”, continuou Bolsonaro.
Em seu discurso às televisões, mais longo (cerca de 10 minutos), elaborado e igualmente eivado de religiosidade (com agradecimentos múltiplos a Deus e àqueles que oraram por sua campanha), Bolsonaro não tratou de antagonistas. Preferiu repetir o compromisso de respeitar a Constituição e de fazer um governo democrático.
“Faço de vocês minhas testemunhas de que esse governo será um defensor da Constituição, da democracia e da liberdade. Isso é uma promessa não de um partido. Não é a palavra vã de um homem. É um juramento a Deus. A vergios, dade vai libertar este grande país”, disse, precedido por oração do pastor evangélico Magno Malta, um dos maiores aliados de Bolsonaro e que não conseguiu se reeleger senador pelo Espírito Santo. Ele deverá ter um cargo no governo Bolsonaro.
“Liberdade é um princípio fundamental. Liberdade de andar nas ruas. Liberdade de ir e vir em todos os lugares. Liberdade de empreender. Liberdade política e religiosa. Liberdade de informar e de ter opinião. Liberdade de fazer escolhas e ser respeitado por elas. Este é um país de todos nós, brasileiros natos e de coração. Brasil de diversas opiniões, cores e orientações”, afirmou Bolsonaro, em tentativa de colocar panos quentes em tensões que cultivou com representantes de minorias ao longo dos anos.
“Não existem brasileiros do Norte nem brasileiros do Sul. Somos todos uma só nação. Uma nação democrática”, diria posteriormente.
Em momento mais propositivo de sua fala, enveredou pela veia liberal que o economista Paulo Guedes despertou nele mais recentemente e disse que pretende reduzir o Estado, em aceno ao mercado (que o elegeu seu candidato de preferência no segundo turno).
“O governo federal dará um passo atrás e vai reduzir sua estrutura e a burocracia, cortando desperdícios e privilé- para que as pessoas possam dar muitos passos à frente. Nosso governo vai quebrar paradigmas. Vamos confiar nas pessoas. Vamos desburocratizar e permitir que o cidadão e o empreendedor tenham mais liberdade para construir seu futuro. Vamos desamarrar o Brasil”, disse.
O presidente eleito também retomou seu projeto de descentralização administrativa —“mais Brasil, menos Brasília”—, que, segundo ele, consistiria em deixar que municípios e estados tenham mais autonomia em decidir a destinação de recursos.
Ele prometeu acabar com o “círculo vicioso de crescimento da dívida”, substituindo-o por “círculo virtuoso de menores déficits, dívidas decrescentes e juros mais baixos”.
Bolsonaro também abordou a política internacional. Crítico à política Sul-Sul de administrações anteriores, que aproximou o Brasil de países na África e na América Latina como alternativas às parcerias tradicionais com Estados Unidos e Europa, o presidente eleito disse que libertará o país “e o Itamaraty de relações comerciais com viés ideológico a que foram submetidos nos últimos anos.”
“O Brasil deixará de estar apartado das nações mais desenvolvidas. Buscaremos relações bilaterais, com países que possam agregar valor econômico e tecnológico aos produtos brasileiros”, acrescentou.
Ao ser questionado sobre seu compromisso com o Estado democrático de Direito, Bolsonaro citou Duque de Caxias, patrono do Exército e chefe das forças brasileiras na guerra do Paraguai.
“Não sou Caxias, mas sigo o exemplo desse grande herói brasileiro. Vamos pacificar o Brasil e sob a Constituição e as leis vamos construir uma grande nação”, disse.
Ele confirmou que o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) será seu ministro da Casa Civil; o economista Paulo Guedes será um superministro, no comando de toda a área econômica; o general Augusto Heleno será ministro da Defesa; e o astronauta Marcos Pontes provavelmente será ministro da Ciência.
Em uma possível tentativa de começar a se reconciliar com parte do eleitorado feminino, Bolsonaro terminou a fala beijando a mulher, dizendo que ela o ajudou com “paz, segurança e força”.