Folha de S.Paulo

Haddad pede coragem a apoiadores e não cumpriment­a vencedor

- Marina Dias e Catia Seabra Ananda Migliano/Ofotográfi­co/Folhapress

No primeiro pronunciam­ento após o anúncio oficial de sua derrota, Fernando Haddad (PT) pediu “coragem” a seus apoiadores e disse que coloca “sua vida à disposição desse país” na liderança de uma frente de oposição a Jair Bolsonaro (PSL).

Com cerca de 46 milhões de votos neste domingo (28), ante 58 milhões do capitão reformado, Haddad se apresentou como líder da oposição.

Após a derrota histórica —é o menor patamar do PT desde 1989—, ele afirmou que “não fugirá à luta” e que defenderá a democracia e os direitos civis, trabalhist­as e sociais.

“Eu coloco a minha vida à disposição deste país”, disse Haddad durante o pronunciam­ento, realizado em um hotel na capital paulista.

Ele falou ao lado da mulher, Ana Estela, da candidata a vice, Manuela D’Ávila (PCdoB), e de Guilherme Boulos, candidato à Presidênci­a pelo PSOL.

“Não tenham medo, nós estaremos aqui, estaremos de mãos dadas com vocês, nós abraçaremo­s a causa de vocês. Contem conosco. Coragem. A vida é feita de coragem”, concluiu o petista.

Ele pediu que aliados “não aceitem ameaças nem provocaçõe­s” e, “lembrando o Hino Nacional”, disse que “verás que um professor não foge à luta”: “Nem teme, quem adora a liberdade, a própria morte”.

Haddad afirmou que reconheceu o resultado do pleito, mas não cumpriment­ou Bolsonaro pela vitória e não vai telefonar ao presidente eleito.

Segundo justificou aos mais próximos, o adversário alimentou a disseminaç­ão de mentiras contra ele —a mais recente, e que o deixou indignado, dizia que ele havia estuprado uma menina de 11 anos.

No discurso de cerca de dez minutos, salientou que “uma parte expressiva do povo brasileiro precisa ser respeitada”.

“Diverge da maioria, tem outro projeto de Brasil na cabeça e merece o respeito”, declarou.

Segundo ele, é preciso defender o ponto de vista de quem diverge da maioria.

Apesar de fazer o aceno a pessoas que, mesmo sem serem do PT ou de partidos aliados, apoiaram sua candidatur­a, Haddad afirmou que é preciso se “reconectar aos mais pobres”, a base histórica petista, que em partes migrou para Bolsonaro nesta eleição.

“Não vamos deixar esse país para trás, vamos colocá-lo acima de tudo. Vamos defender o nosso ponto de vista respeitand­o a democracia e as instituiçõ­es”, afirmou Haddad.

O petista finalizou afirmando que é preciso reorganiza­r o programa da oposição para prepará-lo para 2022.

“Reconectan­do com os pobres desse país para tecer um programa de nação que há de sensibiliz­ar mentes e corações. Daqui a quatro anos teremos nova eleição, temos que garantir as instituiçõ­es.”

Pela manhã, Haddad já não falava de uma virada. Perto das 9h, respondia ao otimismo de aliados que a campanha havia sido “vitoriosa independen­te do resultado”.

Dez horas depois, em um dos quartos do décimo quinto andar do mesmo hotel, re- petiu a retórica e afirmou aos apoiadores que era preciso “manter a cabeça erguida”.

Nos últimos dois dias, a vantagem de Bolsonaro caiu de 12 para 10 pontos, segundo as pesquisas, e deu ânimo à militância. Nos bastidores, porém, o candidato e seu grupo mais próximo admitiam que uma virada era “muito difícil”.

Haddad saiu sereno da suíte em que passou o fim da tarde e o início da noite. Preferiu ficar a maior parte do tempo só com a família mas, vez ou outra, saía para falar com assessores, parlamenta­res e até a ex-presidente Dilma Rousseff, que ocupavam o quarto reservado para sua equipe.

Depois de assistir pela TV que, com 90% das urnas apuradas, Bolsonaro estava eleito, conversou com os apoiadores, consolou alguns que estavam chorando e disse que era preciso “olhar para o futuro”.

Em seguida, reuniu-se reservadam­ente com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e outros auxiliares para definir o tom de seu discurso.

Ao lado da mulher, Ana Estela, da mãe, Norma, e dos filhos, Frederico e Ana Carolina, Haddad não chorou.

Assessores dizem que ele estava com a sensação de “missão cumprida”, após ter sido ungido por Lula há 47 dias para concorrer ao Planalto.

Após uma derrota histórica, Haddad deve ganhar projeção no partido e insistir na formação de uma ampla frente contra Bolsonaro.

Para chegar até aqui, dizem aliados, o herdeiro de Lula entendeu que é preciso ir além de seu partido se quiser ser o líder da oposição.

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Haddad com a mulher, Ana Estela, e Manuela D’Ávila, sua vice

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