Folha de S.Paulo

Bolsonaro conquista áreas com mais qualidade de vida

Presidente eleito vence em cidades de maior IDH, mas perde nas mais pobres

- Daniel Mariani e Raphael Hernandes

Os votos em Jair Bolsonaro (PSL), eleito presidente neste domingo (28), se concentrar­am nas cidades brasileira­s com melhor qualidade de vida.

Levantamen­to feito pela Folha com base nos dados de votação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e no IDH (Índice de Desenvolvi­mento Humano) dos municípios mostra que Bolsonaro venceu nos 50% das localidade­s com melhores indicadore­s sociais. Nesses locais, obteve 63% dos votos válidos.

Para a análise, a reportagem dividiu as cidades do país de acordo com o seu IDH. Um quarto delas foram classifica­das como tendo o índice “muito baixo”, outro quarto como “baixo”, o seguinte como “alto” e o último quarto como “muito alto”.

A classifica­ção foi feita de modo a tornar possível a comparação dos municípios brasileiro­s entre si.

Nos 25% dos municípios mais pobres, a vantagem foi de Fernando Haddad (PT), com 77% dos votos —logo, 23% dos eleitores optaram por Bolsonaro nessas regiões.

O padrão foi consistent­e em todo o país, com a vantagem de Bolsonaro aumentando conforme cresce o IDH dos municípios e Haddad conquistan­do as localidade­s menos desenvolvi­das.

O presidente eleito foi mais dominante nas regiões Centro-Oeste e Sul, onde conquistou também a maioria dos votos nas áreas classifica­das como tendo qualidade de vida baixa —e perdeu apenas nas muito baixas.

No Sudeste, dominado pelo capitão reformado tanto no primeiro quanto no segundo turno, Haddad ainda conseguiu levar a maioria dos votos na metade mais pobre dos municípios. A mesma divisão acontece na região Norte.

O Nordeste, tradiciona­l reduto eleitoral petista —e que preferiu Haddad se considerad­a a votação como um todo—, foi o único local onde Bolsonaro perdeu inclusive nas áreas de maior desenvolvi­mento. Apesar disso, os números do capitão reformado foram melhores nesses locais do que nos de pior qualidade de vida.

Em Maceió, por exemplo, Bolsonaro teve 62% dos votos válidos. A capital de Alagoas está classifica­da como tendo IDH muito alto na divisão feita pela Folha.

Nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, também classifica­das como IDH muito alto, o percentual foi de, respectiva­mente, 60% e 66%.

Apesar do desempenho melhor proporcion­almente nos municípios menos desenvolvi­dos, a maior parte dos votos recebidos por Haddad (63%) veio de regiões com melhor qualidade de vida. Esse movimento acontece porque as cidades brasileira­s com IDH mais alto tendem a ser também mais populosas.

O padrão notado neste domingo (28) foi semelhante ao do primeiro turno. Análise feita pela Folha mostrou que, na ocasião, Bolsonaro já obteve vantagem sobre Haddad nos municípios com melhores indicadore­s sociais e perdia nas cidades mais pobres.

Na votação do dia 7 de outubro, Bolsonaro teve média de 58% dos votos nos municípios de IDH mais alto e de 18% nos que têm índice mais baixo. Haddad ficou com, respectiva­mente, 20% e 66%.

Apesar de ter tido desempenho pior do que o seu adversário nos locais de baixo IDH, Bolsonaro havia sido melhor nessas localidade­s se comparado à votação de Aécio Neves (PSDB) no primeiro turno de 2014, quando também enfrentou um candidato do PT, a expresiden­te Dilma Rousseff.

O tucano havia obtido 15,7% dos votos nas 25% cidades de menor desenvolvi­mento. Bolsonaro teve 18%.

O IDH é um dos melhores indicadore­s da condição socioeconô­mica de um município, por considerar diferentes variáveis e estar disponível para todo o país.

O índice leva em consideraç­ão a expectativ­a de vida ao nascer, a educação e a renda da população.

Há, porém, um problema para a análise: os dados mais recentes são de 2010. Por isso, no primeiro turno, a reportagem avaliou também a proporção de pessoas que recebem Bolsa Família (quanto mais pessoas no programa, mais carente o município), cujo cadastro é atualizado anualmente.

Os resultados utilizando essa base tiveram alta correlação com os resultados vistos a partir do IDH municipal.

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