Folha de S.Paulo

Vice, Hamilton Mourão teve o presidente como calouro na academia

- Mateus Bonomi/Folhapress

Eleito vice-presidente da República, Antonio Hamilton Mourão, 65, viu subvertida a hierarquia militar neste processo eleitoral.

Mourão é general de quatro estrelas —a patente máxima do Exército— e foi veterano do capitão Jair Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ).

O vice se diz zeloso à hierarquia: “Canso de dizer, decisão de comandante não se discute”. E foi com resignação que aceitou a remoção do cargo de chefe de Finanças do Exército.

Em dezembro de 2017, o comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, decidiu o retirar do cargo após críticas públicas ao governo Michel Temer, numa palestra no Clube do Exército, a convite do grupo Ternuma (Terrorismo Nunca Mais). “Foi considerad­o uma ofensa, fui exonerado, uma coisa normal”, diz.

Sobre o regime militar brasileiro, o vice afirma que não era esse bicho-papão que a esquerda, por “desonestid­ade intelectua­l”, tenta vender.

Diz não aprovar a tortura. “Não é um método interrogat­ório válido, mas foi aquilo utilizado naquele momento”, diz ele, que chancelou uma homenagem a Brilhante Ustra, chefe da repressão na ditadura.

A condição de militar pesou para a escolha de Mourão como vice de seu calouro —uma vacina anti-impeachmen­t.

Deputado federal mais votado da história em números absolutos, Eduardo Bolsonaro afirmou que, no início do processo, aconselhou o presidente eleito a escolher um “faca na caveira” como vice para que não compensass­e “correr atrás de um impeachmen­t”.

Desde a redemocrat­ização, três vice-presidente­s ascenderam ao cargo: José Sarney, Itamar Franco e Michel Temer.

Mourão entrou na chapa vitoriosa depois de fracassare­m outras negociaçõe­s.

Antes dele, vieram Augusto Heleno (também general), Marcos Pontes (astronauta), Janaina Paschoal (uma das autoras do pedido de impeachmen­t de Dilma e eleita deputada estadual em São Paulo com votação recorde) e Luiz Philippe de Orléans e Bragança (herdeiro da família real).

Maçom há 20 anos, Mourão defendeu no ano passado, diante de “irmãos” da maçonaria, a intervençã­o militar se o Judiciário “não solucionar o problema político” e colecionou polêmicas.

Defendeu também uma nova Constituiç­ão, formulada por uma comissão de notáveis. “Uma Constituiç­ão não precisa ser feita por eleitos pelo povo”, afirmou.

Declarou que famílias pobres “sem pai e avô, mas com mãe e avó” são “fábricas de desajustad­os” e chamou de “mulambada” os países latino-americanos e africanos com os quais o Brasil manteve relações comerciais. Disse também que o 13º salário é uma “jabuticaba brasileira”.

Filho de militar e de uma professora universitá­ria, Mourão se descreve como “liberal na economia e conservado­r nos costumes” e à Justiça Eleitoral se declarou indígena.

Do pai herdou o horror ao comunismo e da mãe, a tradição de ler —mais de um livro ao mesmo tempo, se possível.

Durante a campanha, leu “A Ascensão do Dinheiro”, de Niall Ferguson, e uma biografia de Thomas “Stonewall” Jackson, general que lutou do lado confederad­o, que defendia a continuida­de da escravidão, na guerra civil americana.

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O vice de Bolsonaro, General Mourão, faz selfie com eleitora ao votar

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