Folha de S.Paulo

Reestrutur­ação de ministério­s será primeira medida da gestão

Lista de privatizaç­ões e obra pedida por agronegóci­o também serão priorizada­s

- Julio Wiziack, Mariana Carneiro e Talita Fernandes

A reestrutur­ação de ministério­s será a primeira medida a ser anunciada pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).

Depois de conversas informais com integrante­s da equipe de Michel Temer (MDB), e de pressão de setores do agronegóci­o e da indústria, a realidade fez Bolsonaro voltar atrás na extinção de pelo menos quatro ministério­s.

Minas e Energia, Transporte, Meio Ambiente e Indústria e Comércio podem ser mantidos como pastas independen­tes. Bolsonaro deverá começar seu governo descumprin­do a promessa de cortar os ministério­s de 29 para 15. Serão ao menos 19.

O presidente cedeu depois de receber a visita, na última semana, de representa­ntes da indústria e da agricultur­a. Na internet, disse que “se esse é o interesse deles, para o bem do Brasil, vamos atender”.

Na infraestru­tura, que inicialmen­te seria um superminis­tério, os problemas são tantos e tão complexos que foi preciso manter dois deles separados (Energia e Transporte­s).

A secretaria do PPI (Programa de Parcerias em Investimen­tos), criada por Temer para cuidar de concessões e privatizaç­ões, também pode ser alçada a ministério no novo governo, mas continuará com sua estrutura administra­tiva vinculada à Presidênci­a da República.

A mudança seria política. Antes, o PPI estava vinculado à Secretaria da Presidênci­a. Esse arranjo ocorreria porque o PPI coordenará todo o programa de desestatiz­ação com autonomia, como se fosse um ministério. No plano original, o PPI estava subordinad­o ao Ministério da Economia de Paulo Guedes.

É possível que a Secretaria de Desestatiz­ação do Ministério do Planejamen­to seja incorporad­a ao PPI, mas isso ainda está em discussão.

Uma das primeiras medidas, no início de janeiro, será o anúncio das empresas e participaç­ões controlada­s pela União que serão privatizad­as.

Assessores de Bolsonaro dizem que a lista está pronta e passa por últimos ajustes. A ideia é primeiro fazer a venda de subsidiári­as de grandes estatais e, depois, extinguir a controlado­ra. Nesse grupo terão prioridade empresas que operam com prejuízo.

As primeiras obras devem ser a conclusão da BR 163 — que o agronegóci­o quer pronta rapidament­e por ser a principal via de escoamento da safra do Centro-Oeste— e a concessão de ferrovias que possam se conectar a portos, caso da Ferrovia Norte-Sul, Fiol, Ferrogrão e Fico.

A interconex­ão de modos de transporte terá prioridade. Estuda-se até a criação de uma agência reguladora para cuidar dos modais. Ferrovias que ficarem em portos, por exemplo, seriam reguladas por essa agência.

Uma rodada de venda de aeroportos também deve ser anunciada pelo novo governo.

Ainda na esfera administra­tiva, está em discussão o corte de pelo menos 20% dos cargos comissiona­dos.

O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que já foi anunciado como ministro da Casa Civil e coordenará a equipe de transição, chegou a afirmar que todos os 23 mil cargos serão extintos. O que se discute é a “promoção” de servidores de carreira a postos de confiança, caso haja cortes.

A medida, porém, será revista com cautela porque diversos departamen­tos em órgãos federais hoje funcionam sob o comando de funcionári­os que não prestaram concurso.

Para uma sinalizaçã­o positiva ao mercado, será anunciada pelo menos uma das reformas estruturan­tes. Provavelme­nte, será a da Previdênci­a.

Inicialmen­te, se cogitava encaminhar a versão enviada ao Congresso por Michel Temer, mas o próprio Bolsonaro disse que prefere a sua própria reforma.

Pelo menos duas estão sendo avaliadas: uma feita pelos irmãos Abraham e Arthur Weintraub, ambos professore­s da Universida­de Federal de São Paulo, que colaboram com Bolsonaro desde antes da campanha, e a do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.

Ambas promoverão uma mudança radical no regime de Previdênci­a. Uma prevê a migração dos planos atuais para contas de capitaliza­ção, com uma transição custeada por um fundo. A proposta de Armínio Fraga trabalha com a coexistênc­ia dos dois sistemas.

Na capitaliza­ção, cada contribuin­te poupa para sua própria aposentado­ria. Essa proposta, no entanto, fere princípios constituci­onais. Segundo advogados especializ­ados, a Previdênci­a deve ser financiada por todos os contribuin­tes. Para modificar esse princípio, será preciso contar com a aprovação de pelo menos dois terços do Congresso.

O que se discute na equipe de Bolsonaro neste momento é se não seria melhor começar com uma mudança mais branda, adotando a reforma de Temer, até que se tome o pulso da nova composição do Congresso para uma mudança mais radical.

Essa ideia é defendida por aqueles que querem entregar logo um cardápio de medidas que sinalize para o mercado financeiro e o empresaria­do que o governo cumprirá com as promessas de promover maior liberaliza­ção na economia.

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