Festa da vitória tem pai-nosso, tropa de choque e hostilidade contra mídia
Militante petista é agredida em Salvador após confusão envolvendo simpatizantes de Bolsonaro
Celebrações pela vitória de Jair Bolsonaro (PSL) ocorreram nas principais capitais do país neste domingo (28).
Em São Paulo, simpatizantes do capitão reformado se reuniram na avenida Paulista com rojões, gritos de “vai pra Cuba que o pariu”, selfies com polegar e indicador estirados para simular arma e hostilidade contra a imprensa.
No Rio, uma multidão comemorava em frente ao condomínio onde mora Bolsonaro, na Barra da Tijuca, zona oeste, enquanto simpatizantes e opositores se envolveram em confusão na zona sul.
Uma universitária de 19 anos foi agredida em Salvador após tumulto entre apoiadores e opositores de Bolsonaro. Segundo testemunhas, a estudante, que é militante petista, tentou intervir enquanto um rapaz era agredido por policiais e sofreu golpes de cassetete de uma PM.
A Secretaria de Segurança Pública da Bahia disse que os policiais foram agredidos e usaram “força proporcional” para dispersar a multidão.
A confusão em São Paulo teve início quando simpatizantes de Bolsonaro se envolveram numa briga com eleitores de Fernando Haddad (PT).
“A gente não quer brigar, só quer comemorar porque acha que Bolsonaro é o melhor para o Brasil”, disse o técnico de informática Raphael Mello, 36, vestido com uma camisa amarela em apoio a Bolsonaro.
A chegada de um carro da Polícia Militar dissipou o tumulto. Mais tarde, o Batalhão de Choque avançou contra adolescentes no vão-livre do Masp. Imagens de TV mostraram confronto entre policiais e manifestantes. Bolsonaristas disseram que alguns dos jovens estavam os roubando.
“Deixa os ratos correrem”, afirmou um militante no caminhão de som onde o deputado estadual eleito pelo PSL Douglas Garcia, 24, discursou contra a “esquerda nojenta que por muito tempo tomou conta do país”.
A canção que foi tema do filme “Tropa de Elite” animou eleitores que imitavam disparos de pistola apontando uns para os outros na Paulista. “Tropa de elite osso duro de roer, pega um pega geral, também vai pegar você”, cantavam.
O apresentador Otavio Mesquita também teve sua vez no microfone. Contou que foi um apoiador de primeira hora do capitão reformado, ao contrário de muito “artista petista”.
A imprensa que acompanhava a celebração foi hostilizada pelos bolsonaristas. Sob fogo constante do presidente eleito, a Folha foi o veículo mais atacado por eles. “Vai escrever matéria na Venezuela”, “Folha lixo” e “vai pra Cuba que o pariu” estavam entre os gritos de guerra.
Um eleitor do capitão defendeu o jornal, após se identificar como liberal. “Sou Bolsonaro, mas liberdade de imprensa acima de tudo.”
A TV Globo também não era bem vista. “A gente viveu pra ver William Bonner dizer: Jair Bolsonaro, nosso presidente”, afirmou a deputada federal eleita Carla Zambelli (PSLSP). Enquanto a plateia gritava “chupa, Rede Globo”, ela puxou a cantoria: “Hoje é um novo dia de um novo tempo que começou”, o jingle global.
No Rio, houve relatos de agressão física entre grupos favoráveis e contrários a Bolsonaro na praça São Salvador, no Flamengo. Quando a reportagem chegou ao local, encontrou garrafas quebradas no chão.
A reportagem questionou a um policial militar o que havia ocorrido e recebeu como resposta: “É a esquerda né, que não consegue aceitar o resultado”. Apesar das garrafas quebradas, o PM negou que tenham ocorrido agressões.
Eleitores de Haddad gritavam o nome do petista, cantavam que “vai ter resistência” enquanto seguravam placas com o nome de Marielle Franco (PSOL), vereadora assassinada no início do ano, em um crime ainda não solucionado.
Centenas de apoiadores do presidente eleito se concentraram na Praça Sete, no centro de Belo Horizonte. Houve discurso em trio elétrico, buzinas e foguetório. A maioria vestia verde e amarelo. Segundo a polícia, não houve confronto entre eleitores.
Em Brasília, eleitores de Bolsonaro fizeram buzinaço no entorno da Praça dos Três Poderes em comemoração à vitória do capitão reformado nas eleições presidenciais.