Doria derrota França, é eleito governador e mantém hegemonia do PSDB em São Paulo
Ex-prefeito paulistano vence atual governador em disputa acirrada no estado Os dois fizeram campanha agressiva e buscaram associação com Jair Bolsonaro Em discurso, vitorioso fala em ‘meu PSDB’ e diz que sigla sairá ‘do muro’
O ex-prefeito João Doria (PSDB), 60, foi eleito neste domingo (28) governador de São Paulo. A vitória, sétima seguida do PSDB na eleição para o Palácio dos Bandeirantes, confirmou a hegemonia do partido no estado.
Com 100% das urnas apuradas, o tucano obteve 51,75% dos votos válidos, ante 48,25% do atual governador paulista, Márcio França (PSB).
O segundo turno foi responsável por elevar a temperatura da campanha —desde 2006 a disputa no estado sempre havia sido liquidada em uma só etapa.
Uma vitória apertada já se desenhava nas últimas semanas, conforme as pesquisas de intenção de voto, no que se provou um teste para a força política do tucano, em sua segunda aventura eleitoral.
No primeiro turno, ele obteve 31,77% dos votos, e o segundo colocado conseguiu 21,53%.
No primeiro discurso após a vitória, Doria disse que sua eleição provocará um reequilíbrio de forças dentro do PSDB e que São Paulo vai conduzir o que está sendo visto como uma refundação do partido.
“A correlação de forças muda. É da política. Não é o meu desejo. É o desejo da população. São Paulo vai liderar esse processo”, afirmou.
Aludindo à fama de que a sigla não se posiciona claramente, o futuro governador disse a apoiadores reunidos no Club Homs, na avenida Paulista, que o “novo PSDB” será “um partido que tem lado”.
“A partir de 1º de janeiro, no PSDB, no meu PSDB, [...] acabou o muro. Não tem mais [em cima do] muro”, afirmou.
O discurso foi salpicado de acenos e referências ao presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), a quem Doria se alinhou publicamente no segundo turno, com a pregação do voto “BolsoDoria” no estado.
O tucano falou que viajará nesta semana ao Rio para fa- lar com o capitão reformado, que ele diz ser “o presidente que irá pacificar o Brasil”.
“Agradeci e dei os votos de um bom governo ao Jair Bolsonaro. E vamos definir com clareza um governo de coalizão, de união e de pacificação.”
Sua fala pós-vitória teve tom de unificação semelhante ao adotado pelo político do PSL. “Vamos governar para todos os brasileiros de São Paulo.”
Nos bastidores do PSDB, a ascensão do ex-prefeito é vista como o início de uma nova fase da legenda, hoje presidida pelo padrinho político dele, Geraldo Alckmin —ex-governador derrotado no primeiro turno da eleição presidencial.
Em 2016, a campanha de Doria a prefeito da cidade onde nasceu em 16 de dezembro de 1957 foi ancorada no discurso de que não era um político, mas um gestor —mote repetido agora na disputa estadual.
Doria fez carreira no setor privado e se tornou conhecido pela atuação no Lide (Grupo de Líderes Empresariais), uma organização com mais de 1.700 associados que promove encontros com líderes empresariais e políticos.
Ficou famoso também como apresentador de televisão.
Empresário, casado com a artista plástica Bia Doria, com quem tem três filhos, o paulistano declarou ter patrimônio de R$ 189 milhões ao registrar sua candidatura, em agosto.
Seu vice será o deputado federal Rodrigo Garcia (DEMSP), 44. Além da sigla do vice, a coligação AceleraSP reuniu PSD, PRB, PP e PTC.
Politicamente ligados a Alckmin, os dois finalistas tiveram forte embate sobre passado político e alianças, com troca de acusações e provocações nos debates de TV.
Ambos buscaram também embarcar na onda Bolsonaro.
França passou a contar com o reforço do senador eleito Major Olímpio (PSL), coordenador da campanha de Bolsonaro no estado, e de uma ala de membros do partido.
Doria anunciou apoio ao capitão reformado já no dia da votação do primeiro turno. Também se aproximou da deputada federal eleita Joice Hasselmann (PSL-SP).
Em 2016, em sua estreia na política, o empresário saiu vencedor para a prefeitura já na primeira fase da eleição — fato que que não acontecia na cidade desde 1988. João Doria (PSDB) governador eleito de SP, em primeiro discurso após vitória
Contou na ocasião com a ajuda de seu padrinho político, o então governador Alckmin, que bancou a indicação do novato a contragosto de outras lideranças da legenda.
Em abril deste ano, ele largou o mandato de prefeito depois de 15 meses para concorrer ao governo, fato exaustivamente explorado por detratores ao longo da campanha.
Antes, movimentou-se para ser ele próprio o candidato do PSDB à Presidência, aventura que acabou frustrada. Quebrou a promessa que fez ao menos 43 vezes de não largar o comando municipal para participar de eleições.
Ao deixar a cadeira, Doria atingiu o nível mais alto de reprovação à sua administração. Só 18% dos paulistanos consideravam sua gestão ótima ou boa. Para 47%, era ruim ou péssima, de acordo com pesquisa do Datafolha.
Dois em cada três moradores da cidade rejeitavam, em abril, a saída do tucano do cargo para concorrer ao governo estadual, conforme o instituto.
Doria perdeu para França na capital —teve 41,9% dos votos, ante 58,1% do governador.
Para responder ao seu ponto mais fraco, o ex-prefeito dizia que se candidatou para evitar que um “esquerdista, um aliado do PT” pudesse ser eleito, em referência a França.
O tucano adotou inflamada retórica antipetista na busca de colar em seu oponente a pecha de “vermelho” e “integrante da turma do Lula”.
O atual governador chegou ao atual cargo em abril, após a renúncia de Alckmin, de quem era vice, para disputar a Presidência. Desconhecido até o início da campanha estadual, o socialista impôs uma disputa acirrada ao ex-prefeito.
Com sua liderança ameaçada no primeiro turno por Paulo Skaf (MDB), com quem empatava tecnicamente nas pesquisas, Doria viu França crescer já perto do dia 7 de outubro e ser confirmado nas urnas como seu rival na segunda etapa do pleito.
“Vamos governar para todos os brasileiros de São Paulo. Todos são absolutamente iguais e serão tratados da mesma maneira, com a mesma dedicação e esforço
Nós temos que pacificar o Brasil. Não podemos de forma alguma iniciar o ano com o Brasil dividido
Dei os votos de um bom governo ao Jair Bolsonaro. E vamos definir com clareza um governo de coalizão, de união e de pacificação
Nós estaremos apoiando o governo Bolsonaro, sim
Estamos aposentando a velha política de São Paulo
A partir de 1º de janeiro, no PSDB, no meu PSDB, acabou o muro. Esse será o novo PSDB, um partido que tem lado