Derrotado, França prega conciliação e diz que ninguém deve guardar rancor
Após perder em eleição acirrada, governador de São Paulo afirma que espera reunificação do Brasil
A mobilização da máquina estadual, alianças com partidos de diferentes espectros ideológicos e promessas de reajuste ao funcionalismo não foram suficientes para que o governador de São Paulo, Márcio França (PSB), se reelegesse contra João Doria (PSDB), que colou no adversário a imagem de comunista e aliado ao PT.
O pessebista, que chegou ao segundo turno com uma diferença de apenas 89 mil votos em relação ao terceiro colocado, Paulo Skaf (MDB), terminou a eleição neste domingo (28) com 48,2% dos votos válidos, contra 51,7% do tucano.
Em pronunciamento após a derrota, continuou pregando a conciliação e disse que ninguém deve guardar rancor a partir de janeiro, quando o mandato de Doria se inicia, ou “torcer para dar errado”. “Saio com mais vontade de fazer política”, afirmou.
França disse que há vitórias eleitorais que são derrotas políticas e derrotas eleitorais que são vitórias políticas. “A gente, claro, sai frustrado porque não era o que a gente queria. Mas eu tenho a compreensão que eleição é assim: acaba uma, começa a outra. Foi assim a minha vida toda”, disse o governador.
Ele afirmou que telefonou a Doria para parabenizar pela vitória. “Liguei para o João Doria agora há pouco, desejei a ele toda a sorte do mundo, que ele tenha sucesso. Acima de nós está todo o povo de São Paulo, os brasileiros. Eu tenho uma expectativa que a gente possa unir o Brasil, reunificar as pessoas”, afirmou.
“Quero desejar sorte também ao presidente da República, dizer que o Brasil que todos nós sonhamos vai depender de uma pessoa que consiga entender as diferenças.”
Emocionado, agradeceu a Geraldo Alckmin (PSDB) pelo convite para ser vice em 2014.
Ele assumiu o governo em abril, após a renúncia do tucano, que disputou as eleições presidenciais. No telefonema a Doria, França disse que tirará uma semana para se recuperar de uma pneumonia dupla diagnosticada nos últimos dias e que, após esse período, estará à disposição para falar sobre a transição.
Em conversa protocolar, se comprometeu a abrir todos os dados do governo e colaborar como for possível.
Tratando pneumonia nos dois pulmões, o governador acompanhou a apuração com febre intermitente, com termômetro debaixo do braço. Cercado por amigos e familiares, foi questionado pelo neto Enzo o que seria agora, já que não venceu. França respondeu: “Agora vou ser seu avô”.
O seu entorno, que inicialmente não acreditava que a vitória de França seria possível, chegou a se animar com o resultado das últimas pesquisas de intenção de votos, que o apontavam numericamente à frente de Doria.
Seus aliados avaliam que Doria teve êxito em associar França ao PT, sobretudo no interior, e dizem que a posição nacional do PSB, de apoiar Haddad no segundo turno, prejudicou o governador.
“Faltam poucas horas para São Paulo ter um novo governador”, disse em vídeo distribuído na internet no sábado (27). Apesar de estar no cargo há seis meses, se apresentava como um novo nome, caso vencesse o PSDB.
Com isso, antecipava que as eleições seriam baseadas na rejeição aos políticos tradicionais e que, ele mesmo um político tradicional, precisava de uma roupagem que camuflasse seu histórico.
Acertou a avaliação, mas acabou alvejado por sua proximidade com o PT em um estado onde Jair Bolsonaro (PSL) obteve quase 70% dos votos válidos, além de ter feito parte do conselho político do ex-presidente Lula.
Para este domingo, aliados de França já preparavam uma festa da vitória no Palácio do Trabalhador, no centro da capital. Com a divulgação da pesquisa boca de urna do Ibope, às 17h, que apontava vantagem de Doria, desanimaram. O discurso foi transferido para o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo.
Pesou também o enjoo causado por remédios que o governador tem tomado para se curar da pneumonia.
Ao lado de França no discurso de derrota, estavam a sua candidata a vice, coronel Eliane Nikoluk (PR), e o coordenador da campanha, o prefeito de Campinas Jonas Donizette (PSB), com lágrimas nos olhos. Ele agradeceu aos dois e a Skaf.
No segundo turno, França buscou se aproximar de aliados de Bolsonaro. Também foi apoiado por Skaf, que já havia declarado apoio a Bolsonaro.