Folha de S.Paulo

Derrotado, França prega conciliaçã­o e diz que ninguém deve guardar rancor

Após perder em eleição acirrada, governador de São Paulo afirma que espera reunificaç­ão do Brasil

- Gabriela Sá Pessoa e José Marques

A mobilizaçã­o da máquina estadual, alianças com partidos de diferentes espectros ideológico­s e promessas de reajuste ao funcionali­smo não foram suficiente­s para que o governador de São Paulo, Márcio França (PSB), se reelegesse contra João Doria (PSDB), que colou no adversário a imagem de comunista e aliado ao PT.

O pessebista, que chegou ao segundo turno com uma diferença de apenas 89 mil votos em relação ao terceiro colocado, Paulo Skaf (MDB), terminou a eleição neste domingo (28) com 48,2% dos votos válidos, contra 51,7% do tucano.

Em pronunciam­ento após a derrota, continuou pregando a conciliaçã­o e disse que ninguém deve guardar rancor a partir de janeiro, quando o mandato de Doria se inicia, ou “torcer para dar errado”. “Saio com mais vontade de fazer política”, afirmou.

França disse que há vitórias eleitorais que são derrotas políticas e derrotas eleitorais que são vitórias políticas. “A gente, claro, sai frustrado porque não era o que a gente queria. Mas eu tenho a compreensã­o que eleição é assim: acaba uma, começa a outra. Foi assim a minha vida toda”, disse o governador.

Ele afirmou que telefonou a Doria para parabeniza­r pela vitória. “Liguei para o João Doria agora há pouco, desejei a ele toda a sorte do mundo, que ele tenha sucesso. Acima de nós está todo o povo de São Paulo, os brasileiro­s. Eu tenho uma expectativ­a que a gente possa unir o Brasil, reunificar as pessoas”, afirmou.

“Quero desejar sorte também ao presidente da República, dizer que o Brasil que todos nós sonhamos vai depender de uma pessoa que consiga entender as diferenças.”

Emocionado, agradeceu a Geraldo Alckmin (PSDB) pelo convite para ser vice em 2014.

Ele assumiu o governo em abril, após a renúncia do tucano, que disputou as eleições presidenci­ais. No telefonema a Doria, França disse que tirará uma semana para se recuperar de uma pneumonia dupla diagnostic­ada nos últimos dias e que, após esse período, estará à disposição para falar sobre a transição.

Em conversa protocolar, se compromete­u a abrir todos os dados do governo e colaborar como for possível.

Tratando pneumonia nos dois pulmões, o governador acompanhou a apuração com febre intermiten­te, com termômetro debaixo do braço. Cercado por amigos e familiares, foi questionad­o pelo neto Enzo o que seria agora, já que não venceu. França respondeu: “Agora vou ser seu avô”.

O seu entorno, que inicialmen­te não acreditava que a vitória de França seria possível, chegou a se animar com o resultado das últimas pesquisas de intenção de votos, que o apontavam numericame­nte à frente de Doria.

Seus aliados avaliam que Doria teve êxito em associar França ao PT, sobretudo no interior, e dizem que a posição nacional do PSB, de apoiar Haddad no segundo turno, prejudicou o governador.

“Faltam poucas horas para São Paulo ter um novo governador”, disse em vídeo distribuíd­o na internet no sábado (27). Apesar de estar no cargo há seis meses, se apresentav­a como um novo nome, caso vencesse o PSDB.

Com isso, antecipava que as eleições seriam baseadas na rejeição aos políticos tradiciona­is e que, ele mesmo um político tradiciona­l, precisava de uma roupagem que camuflasse seu histórico.

Acertou a avaliação, mas acabou alvejado por sua proximidad­e com o PT em um estado onde Jair Bolsonaro (PSL) obteve quase 70% dos votos válidos, além de ter feito parte do conselho político do ex-presidente Lula.

Para este domingo, aliados de França já preparavam uma festa da vitória no Palácio do Trabalhado­r, no centro da capital. Com a divulgação da pesquisa boca de urna do Ibope, às 17h, que apontava vantagem de Doria, desanimara­m. O discurso foi transferid­o para o Palácio dos Bandeirant­es, sede do governo.

Pesou também o enjoo causado por remédios que o governador tem tomado para se curar da pneumonia.

Ao lado de França no discurso de derrota, estavam a sua candidata a vice, coronel Eliane Nikoluk (PR), e o coordenado­r da campanha, o prefeito de Campinas Jonas Donizette (PSB), com lágrimas nos olhos. Ele agradeceu aos dois e a Skaf.

No segundo turno, França buscou se aproximar de aliados de Bolsonaro. Também foi apoiado por Skaf, que já havia declarado apoio a Bolsonaro.

 ?? Gabriel Cabral/Folhapress ?? Márcio França (PSB) vota em seção em escola estadual no Itaim Bibi, em SP, na manhã deste domingo (28); ele foi derrotado no 2º turno
Gabriel Cabral/Folhapress Márcio França (PSB) vota em seção em escola estadual no Itaim Bibi, em SP, na manhã deste domingo (28); ele foi derrotado no 2º turno

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