Com promessa de renovação política, Zema vence em MG
Vitória de candidato do Partido Novo sobre Anastasia desloca as principais forças políticas do estado, PT e PSDB
Em sua primeira disputa eleitoral, o empresário Romeu Zema Neto (Novo), 54, foi eleito governador de Minas Gerais neste domingo e alcançou a principal aspiração do seu partido, a de tirar grupos políticos tradicionais do poder.
Ele aproveitou a onda nacional de Jair Bolsonaro (PSL) e derrotou PT e PSDB, até então as principais forças políticas do estado. No segundo turno da disputa, Zema obteve 71,8% dos votos válidos.
O senador e ex-governador Antonio Anastasia (PSDB), 57, teve 28,2%. O tucano tem ainda mais quatro anos de mandato no Senado.
Ao som de DJ e com food trucks em um salão de eventos de Belo Horizonte, eleitores do Partido Novo comemoraram neste domingo a eleição. Zema chegou à festa acompanhado do vice, Paulo Brant, e de João Amoêdo, que concorreu à Presidência pelo Novo. Havia forte aparato de segurança privada e também da Polícia Militar no local.
“Provavelmente, eu sou o primeiro governador eleito em Minas sem ter o apoio da classe política. Fica provado que não é o poder dos grandes partidos, não é o poder das grandes facções que pode estar fazendo diferença”, afirmou o governador eleito.
Registrado em 2015, o Partido Novo participa de sua segunda eleição e já conquista o governo do segundo maior colégio eleitoral do país. Em 2016, o partido elegeu somente quatro vereadores. Neste ano, além de Zema, foram eleitos oito deputados federais, 11 estaduais e um distrital.
“Tive uma votação muito expressiva, que comprova que as pessoas querem mudança”, disse, atribuindo o sucesso ao trabalho de ter visitado 200 cidades.
O Novo não faz coligação com outros partidos e não usa verba pública para campanha. Para o cientista político Malco Camargos, da PUC-MG, Minas será a vitrine de um partido de pouca expressão e penetração nacional.
“A eleição em Minas terá papel fundamental na política nacional no sentido de revelar a capacidade da gestão da política feita de fora da política, num estilo de pensar políticas públicas muito diferente do que é a prática.”
Natural de Araxá, no Triângulo Mineiro, Zema herdou os negócios do avô e multiplicou a rede de lojas de eletrodomésticos, móveis, vestuário, postos de combustíveis, concessionárias e financeiras.
Divorciado e pai de dois filhos, ele acumula patrimônio de quase R$ 70 milhões. Ele promete abrir mão do Palácio das Mangabeiras, residência oficial do governador.
Zema assumiu o controle do grupo familiar em 1991 e permaneceu na presidência até 2016, quando o comando foi passado a uma pessoa que não é da família. O empresário, então, passou a presidir o Conselho Administrativo. No início de 2018, ao se filiar ao Novo, se afastou definitivamente da gestão. O irmão, Romero Zema, ficou com a tarefa.
O Grupo Zema foi fundado em 1923 e fatura R$ 4,4 bilhões ao ano. São 800 pontos de venda em dez estados, com 5.300 empregados diretos.
Em 1999, o governador eleito, seu irmão e seu pai se filiaram ao antigo PL, hoje PR, integrante do chamado centrão e que deu sustentação ao governo do PT tanto em Minas como na Presidência.
Zema afirma que nunca teve atividade política e que nem se lembrava da filiação, feita
Romeu Zema (Novo) governador eleito de Minas Gerais
para ajudar um amigo.
Sem experiência em gestão pública, terá que administrar um déficit de R$ 11,4 bilhões previsto para 2019. Durante a campanha, afirmou que é prioridade normalizar o pagamento de salário ao funcionalismo e de repasses constitucionais às prefeituras, que estão atrasados.
A equipe econômica de Zema será montada pelo economista Gustavo Franco, expresidente do Banco Central e um dos idealizadores do Plano Real. Não está descartado que o próprio assuma a Fazenda.
As chaves que usarão para enfrentar a crise fiscal são corte radical de gastos e de cargos de indicação política, renegociação da dívida com a União e atração de empresas para gerar arrecadação.
Com apenas três deputados do Novo na Assembleia, Zema terá dificuldade em aprovar propostas, mas aposta no bom senso dos parlamentares.
Zema foi eleito com a defesa da plataforma liberal e antipolítica do Novo, que prega menos intervenção do estado. Ele prometeu acabar com privilégios de políticos e servidores, simplificar tributos, montar um secretariado técnico, acabar com balcão de negócios e corrupção, buscar a iniciativa privada para ampliar serviços de saúde e educação, além de valorizar as estatais para talvez privatizá-las.
O que impulsionou o empresário nas urnas, no entanto, foi a onda Jair Bolsonaro (PSL). Zema pediu votos ao capitão reformado em rede nacional e criticou as gestões petistas no Planalto. Bolsonaro, porém, se manteve neutro na disputa em Minas.
No primeiro turno, Zema teve apenas seis segundos no horário eleitoral. A chegada ao segundo turno, de forma surpreendente já que as pesquisas o colocavam em terceiro, fez com que ampliasse o contato com entidades, instituições e representantes de classes, adequando e amenizando seu plano de governo.
O empresário arrecadou R$ 4 milhões para a campanha eleitoral, sendo R$ 235 mil do próprio bolso e boa parte veio de empresários.
Os que mais doaram foram o dono da Localiza, com R$ 700 mil, e o presidente da Rima Industrial, R$ 300 mil.
“Eu sou o primeiro governador eleito em Minas sem ter o apoio da classe política. Não é o poder dos grandes partidos e facções que fará diferença