Folha de S.Paulo

Eleito no RS, Leite será o governador mais jovem do país

Ex-prefeito de Pelotas, tucano de 33 anos cresceu na rejeição a partidos de esquerda e do atual governador

- Marcos Ermânio/Jornal Midiamax Frankie Marcone/Futura Press/Folhapress TV Sergipe/Reprodução Felipe Bächtold

Aos 33 anos, o tucano Eduardo Leite é o novo governador do Rio Grande do Sul e o mais jovem a assumir o cargo neste ano. Ele venceu José Ivo Sartori (MDB), que tentava a reeleição.

Aliado do governador ano passado, Leite cresceu na esteira da rejeição a Sartori e aos partidos de esquerda. Ele foi eleito com 53,62% dos votos. Sartori teve 46,38%.

Leite fez questão de acompanhar a apuração em sua cidade natal, Pelotas. Em sua primeira fala, pediu uma “política sem ódio”, fez um aceno ao adversário, a quem disse respeitar, e defendeu deixar “diferenças no passado”. Emulou ainda o discurso do ex-presidente Lula ao falar em “esperança no lugar do medo”.

Sobre o fato de ser um dos mais jovens governador­es da história, disse: “Nunca usei a idade para me dizer melhor do que ninguém. Não acho que seja uma vantagem ser mais jovem, mas sempre refutei que quisessem dizer que isso fosse uma desvantage­m.”

Pela Constituiç­ão, a idade mínima para governador é de 30 anos e, para presidente, 35 anos. Ele será um dos mais jovens governante­s da história do Rio Grande do Sul.

Apenas políticos do século 19 já haviam assumido o estado com menos idade, como Júlio de Castilhos, aos 31 anos, em 1891. Naquela época, a mais alta autoridade estadual era chamada de “presidente do estado”.

Leite começou a campanha com 8% das intenções de voto e foi o líder na primeira votação, com 36%. No segundo turno, teve embates ríspidos com o atual governador, a quem acusou de inércia diante da grave crise financeira estadual.

Após o fracasso do PSDB na eleição presidenci­al, declarou voto em Jair Bolsonaro (PSL) e chegou a vincular o adversário local a ideias de esquerda.

O tucano se lançou candidato impulsiona­do pela sua popularida­de em Pelotas, terceira maior cidade do estado, onde foi prefeito de 2013 a 2016, vereador, secretário do município e presidente da Câmara Municipal. Também foi presidente do PSDB estadual.

Bacharel em direito, começou na política ainda como estudante. Não teve na eleição um padrinho político específico nem tem familiares de grande destaque na área.

Assim como ocorreu com seu antecessor, o principal desafio será financeiro. O estado tem dívida equivalent­e a duas vezes sua receita anual, em situação que só não é pior do que a do Rio de Janeiro.

Uma de suas maiores promessas de campanha é colocar em dia, no prazo de até um ano, o pagamento do funcionali­smo estadual, iniciativa difícil de ser cumprida diante do bilionário déficit previsto nas contas estaduais.

A derrota de Sartori mantém o Rio Grande do Sul com a escrita de ser o único estado do país que não reelegeu um governador desde a redemocrat­ização. Em eleições anteriores, candidatos à reeleição chegaram até a ficar de fora do segundo turno. Nenhum ex-governador ocupará cargos públicos no próximo ano.

Eduardo Leite (PSDB) governador eleito do Rio Grande do Sul

Prefeito de Pelotas de 2013 a 2016, ele se projetou como terceira via entre o PT, que tem sido muito rejeitado no estado nos últimos anos, e a candidatur­a à reeleição do emedebista Sartori.

Na política desde os 19 anos, ele se diferencia de políticos jovens por não ter sido apoiado por padrinhos políticos ou familiares. O pai é advogado e concorreu a prefeito uma vez pelo PSDB, mas não tem mais atuação partidária. A mãe é professora de ciência política.

“Ninguém me colocou na política. Surgiu como um gosto para mim. Talvez o ambiente em casa me tenha feito despertar”, disse à Folha na última sexta-feira (26).

Ao ser questionad­o sobre uma figura política de referência, respondeu: “Pode ser uma pessoa que já tenha morrido? Eu diria Mário Covas. Tinha um espírito de execução, de enfrentame­nto de temas e ao mesmo tempo de sensibilid­ade social.”

Em 2016, na reta final do mandato em seu município natal, decidiu não concorrer novamente, segundo aliados, por ser contra à reeleição.

Mesmo fora das urnas naquele ano, fortaleceu-se ao eleger à prefeitura sua vice em primeiro turno. No ano seguinte, ganhou mais relevância na política local ao assumir, aos 32 anos, o comando do PSDB gaúcho.

Um momento decisivo para sua candidatur­a ocorreu nas vésperas do prazo do registro, em agosto, quando o PP retirou da disputa o pré-candidato Luis Carlos Heinze por causa da aliança que levou a senadora Ana Amélia Lemos a ser vice na chapa de Geraldo Alckmin na disputa nacional.

Além de ter um concorrent­e a menos, o PSDB ampliou seu espaço no horário eleitoral. Durante a campanha, virou uma aposta do PSDB nacional: foi um dos candidatos que mais receberam recursos de campanha do partido, com R$ 3,5 milhões até agora.

Com o passar da campanha, foi polarizand­o a disputa com Sartori, 70, antigo aliado tucano. O PSDB ocupou cargos no governo estadual até menos de um ano atrás, mas o candidato tucano passou a insistir no discurso de falta de iniciativa da gestão do emedebista.

“Nunca usei a idade para me dizer melhor do que ninguém. Não acho que seja uma vantagem ser mais jovem, mas sempre refutei que quisessem dizer que isso fosse uma desvantage­m

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Lauro Alves/Agência RBS
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1 Romeu Zema (Novo), comemora vitória emMG; 2 Eduardo Leite (PSDB) fala à imprensa após ser eleito no RS;3 Fátima Bezerra (PT) posa com livro em seção de votação no RN, onde ganhou; 4 Belivaldo Chaga (PSD), eleito em Sergipe;5 Azambuja (PSDB), vencedor em MS; 6Ibaneis, governador eleito do Distrito Federal

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