Primeiro homem trans a fazer cirurgia de redesignação no país
JOÃO W. NERY (1950-2018)
Apesar de sempre ser tratado como referência na luta por respeito e reconhecimento entre os transexuais, João Nery não queria ser visto como um herói. Como ele próprio dizia, tudo o que fez e enfrentou aconteceu por uma necessidade. “Não me arrependo do que fiz em nada em minha vida e faria tudo de novo, mas não foi uma questão de coragem”, disse em entrevista nas redes sociais.
A menina nascida na Rio de Janeiro no início da década de 1950 existia apenas nos traços físicos, porque, segundo ele, quem sempre esteve no interior era o João, identidade que só ganhou forma aos 27 anos. Em plena ditadura militar e contrariando a lei, que tratava o procedimento como mutilação, Nery foi o primeiro homem trans no Brasil a se submeter a uma cirurgia de redesignação sexual.
Antes da cirurgia ele chegou a usar duas identidades: era a Joana para amigos próximos e familiares, mas aproveitava a moda unissex para mostrar quem ele realmente se sentia.
A intervenção cirúrgica, feita de forma clandestina, custou a ele a proibição de exercer a profissão de psicólogo, na qual se formara ainda quando vivia como mulher. O homem nascido quase aos 30 ficou sem emprego e precisou começar do zero. Para sobreviver, João trabalhou de pedreiro, pintor, taxista. Segundo amigos próximos, ele não cansou de se reinventar.
Foi casado por quatro vezes e teve a oportunidade de experimentar a paternidade no terceiro relacionamento.
Além da publicação de livros que levantaram bandeiras na luta LGBT, como “Viagem Solitária”, João ajudava pessoas que enfrentavam dificuldades como as suas. Nas redes sociais,ajudava homens trans para a tirar dúvidas e enfrentar barreiras.
Assim como ocorreu para fazer a cirurgia de resignação de sexo, ele desafiou as leis vigentes do país para ter um nome masculino e criou um segundo documento quando passou a se chamar João.
Hoje transexuais já podem usar o nome social no Brasil, e João Nery dá nome a um projeto de lei, em tramitação na Câmara, para permitir a ação sem a necessidade da intervenção judicial. A proposta dos deputados Jean Wyllys (PSOL) e Érika Kokay (PT) aguarda pareceres.
João não teve tempo de ver a lei em vigor. Em setembro ele publicou um depoimento pedindo para seus seguidores se prepararem porque um câncer no pulmão contra o qual lutava havia se espalhado e chegado ao cérebro. Na ocasião, pediu para que não desistissem de suas lutas.
Ele morreu em decorrência da doença no dia 26 de outubro, aos 68 anos. Deixa a esposa, Sheila, e o filho.
WILMAN PAZINATO Aos 87, solteira. Sábado (27/10) às 12h30. Cemitério de Congonhas, r. Min. Álvaro de Sousa Lima, 101, Vila Sofia, SP
7º DIA
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São Domingos, Rua Caiubí 164, Perdizes, SP
22º ANO
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