Como fazer uma capa de domingo de eleições
O primeiro contato do leitor com o conteúdo do jornal impresso é a capa. Dobrado na banca, em cima do balcão na padaria ou no capacho da porta, é ali que ele fica sabendo do melhor da Folha naquele dia.
Para o domingo de eleição, o planejamento da Primeira Página, como é chamada pela Redação, começou cedo.
Uma das ideias era fotografar os dois presidenciáveis.
A missão ficou a cargo do fotógrafo Ricardo Borges, do Rio de Janeiro, mas a tarefa não foi fácil.
Após algumas horas esperando por Fernando Haddad (PT) no Clube de Engenharia, voltou de mãos vazias.
“Montamos o estúdio, preparamos tudo, e ele foi embora sem passar por nós. Numa segunda tentativa, em um hotel do Rio, conseguimos”, conta Borges.
A foto dos candidatos foi pensada para ser feita sempre da mesma forma: sentados num banquinho, com um fundo de lona uniforme.
Isso significava alguns quilos de equipamento que Borges e seu assistente tinham de carregar a cada tentativa. “Saía de casa parecendo um burro de carga.”
Para retratar Jair Bolsonaro (PSL), a reportagem entrou em contato insistentemente com Gustavo Bebbiano, presidente do PSL, que faz o papel de relações públicas do candidato.
Em três ocasiões a assessoria marcou horário, mas ele não apareceu. “Passamos quatro dias, cinco horas por dia, esperando, e nada. Chegamos a montar o estúdio uma vez e ele não apareceu também. Desistimos”, conta o fotógrafo.
Em paralelo, a equipe de arte havia encomendado ao escultor Cícero D’Ávila um busto de cada candidato.
Moldados em argila, eles foram produzidos com base em fotos. “Eu preferi uma coisa mais gestual, o caráter físico da pessoa, a fazer algo hiperrealista”, diz.
O resultado ilustrou a Primeira deste domingo (28).