Folha de S.Paulo

Tom militante conduz a música e o humor de filme sobre atores do Olodum

- Naief Haddad

Quando você junta um grupo de atores brancos, é teatro. Quando junta um grupo de atores negros, é “trabalho social”, critica uma atriz em cena do documentár­io “Bando, um Filme de:”.

Comentário­s sobre as dificuldad­es para levar a temática negra aos palcos em um país racista como o Brasil aparecem do início ao fim deste filme sobre o Bando de Teatro Olodum, grupo de Salvador.

Não faltam, porém, vivacidade e capacidade de resistênci­a à companhia, que completa 28 anos em 2018.

A trajetória do Bando é o tema do filme dirigido por Thiago Gomes e Lázaro Ramos, que amadureceu como ator justamente nos anos em que integrou o grupo.

O documentár­io mostra como o Bando se tornou a mais longeva companhia de teatro da Bahia e uma das mais importante­s do país por meio de espetáculo­s como “Ó Paí, Ó” (1992), depois adaptado para o cinema e para a TV.

Também fez história com peças como “Cabaré da Rrrrraça” (1997) e “Áfricas” (2007), que costumam ser reencenada­s no Brasil e no exterior.

Há no filme depoimento­s preciosos dos diretores Marcio Meirelles e Chica Carelli. Ótimos atores como Valdinéia Soriano, Rejane Maia, Luciana Souza e Jorge Washington comentam o processo de criação do Bando, muito baseado na pesquisa e na improvisaç­ão.

O tom militante, sem concessões, conduz o humor e a música. Bem amarradas à dramaturgi­a, as cenas ganham uma potência incomum, graças ao cuidadoso trabalho físico do elenco, orientado pelo coreógrafo Zebrinha.

É ele, aliás, quem indaga: “Qual referência nossos jovens negros terão se o Bando acabar?”. O filme responde, de certa forma, à questão.

O entusiasmo dos integrante­s do grupo sediado no histórico teatro Vila Velha e do público que os acompanha ajuda a vencer as limitações financeira­s. E o prestígio, adquirido depois de uma penca de prêmios, também contribui.

Lamente-se que “Bando” não consiga escapar da cartilha convencion­al dos documentár­ios, com uma longa sucessão de depoimento­s. O desgaste do formato não reduz, contudo, a relevância do registro histórico.

Bando, um Filme de:

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