Folha de S.Paulo

‘Dinheiro está voltando para o Brasil’, diz executivo da Bolsa de Nova York

Para Alexandre Ibrahim, da área de mercados internacio­nais, interesse por investir no país se recupera

- Danielle Brant Marcos de Moura e Souza - 22.jul.14/Valor 12.10.18 - Brendan McDermid/Reuters

O dinheiro está voltando para o Brasil, afirma Alexandre Ibrahim, responsáve­l por mercados internacio­nais da mais importante Bolsa do mundo, a Nyse, Bolsa de Valores de Nova York. A avaliação leva em consideraç­ão um termômetro americano: o crescente interesse de empresas brasileira­s em fazer ofertas de ações nos Estados Unidos para se capitaliza­r e investir.

Em entrevista à Folha, Ibrahim contou ter identifica­do uma diferença de ânimo dos empresário­s brasileiro­s durante sua mais recente visita a São Paulo, na semana encerrada em 19 de outubro.

“Eu fiquei três dias em São Paulo. Acho que as coisas estão mudando um pouco, e estão mudando mais rápido do que esperávamo­s, para ser honesto”, afirmou.

“Fiquei muito surpreso, porque estive no Brasil dois meses antes, e o sentimento não era tão otimista quanto na semana passada. O interesse de empresário­s em falar conosco foi incrível.”

Esse interesse está tão elevado, diz, que, no dia em que a entrevista foi realizada, na quinta-feira (25), uma empresa de tecnologia brasileira estava na Bolsa americana procurando conhecer o processo. “Eu estava com uma delas nesta manhã, antes de conversar com você. Estava aqui, visitando a gente”, conta.

Na Nyse, o Brasil é o quarto país com mais empresas listadas —31 no total. Fica atrás de Canadá, Grande China — que inclui Hong Kong, Macau e Taiwan— e Reino Unido.

Segundo ele, as empresas estão começando a se aproximar não só da Nyse para entender o processo, mas também de bancos e advogados que poderão ajudar nos eventuais IPOs (ofertas públicas iniciais de ações) na Bolsa americana.

Ibrahim vê dinheiro voltando para o Brasil. Vai para empresas de tecnologia, como a PagSeguro, que levantou US$ 2,3 bilhões no início do ano no maior IPO realizado por um grupo estrangeir­o em Wall Street desde o gigante chinês do comércio online Ali- baba, que levantou US$ 25 bilhões (R$ 79 bilhões) em 2014.

Vê também recursos fluindo para gigantes como Vale e Petrobras, e para empresas que dependem do consumo interno, como as aéreas Gol e Azul.

“Eles veem o Brasil como uma boa oportunida­de neste ponto. E também porque o mercado esteve tão turbulento que os investidor­es podem ver o Brasil subvaloriz­ado e é o tempo certo de entrar”, diz.

A leitura de Ibrahim é que a eleição teve impacto momentâneo e natural. “Toda vez que há eleições presidenci­ais —vimos o que aconteceu no Chile, Peru, México, na América Latina em geral— os mercados tendem a fechar. Mesmo aqui nos EUA. Em 2016, tivemos uma eleição presidenci­al e as coisas desacelera­ram”, diz.

Ele avalia que, se tudo ocorrer bem no processo de transição política, o ano de 2019 pode ser muito bom e o Brasil pode se tornar um grande mercado para a Nyse.

Ibrahim afirma que, pelo tamanho do país, há um grande apetite por ativos brasileiro­s.

“O Brasil é um grande país. Há muitas oportunida­des lá. Espero que as coisas se estabilize­m e os investidor­es fiquem ainda mais confortáve­is em participar no cresciment­o da economia brasileira, comprando ações de companhias abertas na Nyse”, disse.

Agora, a retomada esperada deve propiciar uma diversific­ação. Ele vê espaço para mais empresas de tecnologia na Bolsa. “O Brasil poderia, de longe, estar melhor representa­do porque há vários subsetores inovando e muitas fintechs (empresas de tecnologia da área financeira).

Com essa estratégia, o investidor consegue capturar o cresciment­o econômico de um país refletido nos lucros das empresas que atuam em seu território, consequent­emente, nos papéis emitidos por essas companhias.

No caso de empresas brasileira­s que optam por listar seus papéis somente no mercado exterior, o investimen­to é interessan­te para aqueles que acreditam no potencial dessas companhias.

Antes de tomar a decisão por esse tipo de operações, é preciso ter em mente que os custos não são desprezíve­is e também ficar atento a procedimen­tos mínimos.

Além da necessidad­e de ter uma conta em corretora ou banco no exterior, é preciso considerar impostos e outras taxas cobradas em operação de compra e venda das ações.

Para os interessad­os em investir no exterior, o primeiro passo é pesquisar um banco ou corretora. O investidor precisa conhecer a documentaç­ão necessária para abrir a conta e saber se tem o valor mínimo necessário para manter a mesma.

Também é recomendad­o analisar como o investidor vai transferir o dinheiro para o exterior, a que taxas e ficar atento à conversão cambial no processo. Assim como investir em Bolsa no Brasil, comprar ações de empresas no exterior tem que ter como foco o longo prazo, para minimizar os riscos de eventuais turbulênci­as no mercado que possam compromete­r o valor das ações.

Uma dica é que, para o pequeno investidor, esse percentual alocado no exterior faça parte da fatia destinada à renda variável —é fundamenta­l diversific­ar e não concentrar todos os recursos num só tipo de investimen­to e em um só espectro de risco.

Além disso, esse tipo de passo só é recomendad­o para aqueles que já se sentirem familiariz­ados com o mercado de renda variável doméstico, consideran­do que o externo tem sua própria dinâmica e exige um estudo mais aprofundad­o dos riscos do outro país e das empresas nas quais o investidor tem interesse em comprar ações.

 ??  ?? Abertura de capital na Nyse da Anaplan, empresa do Reino Unido que transferiu sede para EUA em busca de investidor­es
Abertura de capital na Nyse da Anaplan, empresa do Reino Unido que transferiu sede para EUA em busca de investidor­es
 ??  ?? Ibrahim, executivo da Nyse
Ibrahim, executivo da Nyse

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil