Folha de S.Paulo

Black Friday vira mês de descontos; saiba como se planejar

Pequenos lojistas precisam garantir estoque e prazos de entrega, além de enfrentar competição com os grandes

- Ana Luiza Tieghi Fotos Karime Xavier/Folhapress

As promoções da Black Friday, que neste ano cai no dia 23 de novembro, agora duram um mês.

Os comerciant­es aumentaram o tempo das ofertas para atrair mais clientes e amenizar o gargalo logístico criado pela concentraç­ão de vendas.

“No começo de novembro as promoções já são iniciadas, e a gente precisa acompanhar”, diz Ana Clara Roriz, dona da loja de decoração Collector, que também é ecommerce.

Mas fazer um mês inteiro de liquidação pode não ser viável para todos. Nesse caso, entra em cena a criativida­de dos empresário­s.

Na Collector, as ofertas são divididas em semanas. Em uma, há desconto em peças selecionad­as, na outra, frete grátis. Depois vêm os descontos progressiv­os. “Queremos que sempre tenha algo diferente no site, para incentivar o cliente a voltar”, afirma.

Para fazer ações durante todo o mês de novembro, as empresas têm que se planejar com antecedênc­ia.

Na loja de roupas fitness e de praia Best Fit, a Black Friday é pensada 60 dias antes, com ações de marketing e acordos com fornecedor­es para conseguir preços mais baixos.

A divulgação é feita por mensagens no WhatsApp e emails enviados aos clientes.

Segundo a dona da loja, Gisele Correia, a data resulta em alta de 40% nas vendas. Neste ano, a loja fará promoções antes da Black Friday e também na segunda-feira (26), conhecida como Cyber Monday.

O tipo de promoção varia com a estratégia do empreended­or. Se o objetivo é atrair novos clientes, vale investir em descontos agressivos, para a chamar a atenção, aliados a bom atendiment­o.

“Não adianta fazer uma ação que conquista 10 mil clientes e atendê-los de forma ruim, porque essas pessoas não vão mais comprar na loja”, diz Felipe Rodrigues, diretor da Enviou, que desenvolve ferramenta­s para ecommerces.

O bom atendiment­o também passa por garantir o estoque para as promoções anunciadas —senão o consumidor pode se sentir enganado.

Em lojas virtuais, é importante ter uma plataforma que suporte o aumento de visitantes. Outro problema é o prazo de entrega, difícil de prever quando há pico na demanda. Nesse caso, é melhor aumentar a data prevista em alguns dias do que atrasar o prazo.

Também é importante ter uma política clara de trocas, para evitar queixas no pósvenda, e pessoas de plantão para atender reclamaçõe­s.

Divulgar que a loja vai participar da Black Friday é essencial e deve ser feito com algumas semanas de antecedênc­ia, mas sem criar uma expec- tativa de desconto que não vai se realizar. Se vender a ideia de megaliquid­ação e depois reduzir os preços em 5%, os clientes ficarão insatisfei­tos.

Para não cair nesse problema é preciso planejar os descontos e saber a margem de lucro de cada produto. Mesmo na Black Friday, vender bem não é igual a vender muito.

Na conta do lucro entram também as taxas dos cartões, embalagens, impostos e todas as despesas da loja, como explica Cassia Godinho, consultora do Sebrae.

“Às vezes, se der 30% de desconto, você precisa vender quatro vezes mais para ter o mesmo lucro”, diz Ricardo Ramos, diretor da Precifica, que desenvolve sistemas de preços para lojas. “O fator psicológic­o é forte. Se não está vendendo o esperado, a pessoa vê o mercado diminuindo o preço e abaixa também, sem saber o impacto que isso terá no caixa depois.”

Vender abaixo da margem de lucro pode ser uma forma de atrair clientes, mas funciona melhor se for uma decisão consciente e não um descuido por falta de cálculo.

“Se o grande empreended­or errar, ele consegue se equilibrar, porque tem crédito e fundo de investimen­to por trás. O pequeno, porém, não tem margem de erro nem capital de giro, então ações como essa requerem mais planejamen­to”, afirma Ramos.

A concorrênc­ia com os grandes varejistas é sempre um desafio para os pequenos empreended­ores. A disputa fica ainda mais difícil na Black Friday, quando empresas que comerciali­zam produtos próprios e de lojistas parceiros fazem promoções agressivas e muito marketing. Nesse caso, uma estratégia é juntar-se a elas.

A Best Fit comerciali­za suas peças em canal próprio e também em varejistas como Dafiti e NetShoes. “Ser parceiro dos grandes tem nos ajudado muito, porque entramos na mídia deles e somos acionados para vender quando estão com algum produto em falta”, explica Gisele.

Mas, assim como ela, o empreended­or deve estar em mais de uma plataforma. Ter seu próprio ecommerce ajuda a não ficar suscetível a mudanças nas regras de vendas dos parceiros, que podem causar estragos no planejamen­to dos pequenos empreended­ores.

Além disso, tem mais chances de se sair bem quem não tenta enganar os clientes, que estão mais atentos a fraudes a cada ano de promoções.

Táticas como aumentar o preço antes de novembro e depois oferecer desconto ou embutir no valor do frete o desconto concedido em um produto são percebidas pelos clientes. “Se não tiver condições de fazer a Black Friday de verdade, é melhor não fazer”, afirma Godinho.

 ??  ?? A empresária Gisele Correia, dona da loja de roupas fitness e de moda praia Best Fit, em uma de suas lojas, no centro de São Paulo
A empresária Gisele Correia, dona da loja de roupas fitness e de moda praia Best Fit, em uma de suas lojas, no centro de São Paulo
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Ana Clara Roriz, dona da loja de decoração Collector, que vende pela internet e em loja na zona oeste de São Paulo

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