Perfis distintos marcam os filhos parlamentares de Bolsonaro
Os estilos adotados pelos três filhos parlamentares do presidente eleito Jair Bolsonaro indicam as diferentes faces de um futuro governo, que pode reproduzir as divergências que proliferaram na campanha vitoriosa.
Flávio, 37, foi eleito senador pelo Rio. Eduardo, 34, deputado federal por São Paulo com a maior votação da história —1,8 milhão de votos. Carlos, 35, é vereador no Rio há 18 anos. Todos defendem bandeiras similares às do pai, com formas distintas de atuação.
O senador eleito é visto como o mais articulado e independente da família. Buscou formar um grupo político próprio no Rio, tendo embarcado na campanha do governador eleito Wilson Witzel (PSC) mesmo com a neutralidade do pai na disputa.
Advogado, Flávio foi candidato a prefeito do Rio em 2016 inicialmente à revelia de Jair Bolsonaro. Apesar de aparecer mal nas pesquisas na época e quase ter desmaiado num debate, obteve 14% dos votos válidos, o que mostrou sinal da força política do sobrenome.
É visto como o mais aberto ao diálogo com a oposição e tem se credenciado no PSL como uma das lideranças do futuro governo no Congresso.
Carlos é o oposto de Flávio.
Menos articulado politicamente, rejeita a movimentação do irmão. Criticou o senador eleito, por exemplo, quando ele agradeceu publicamente a deputada Jandira Feghalli (PC do B), por tê-lo ajudado inicialmente quando quase desmaiou durante o debate na disputa municipal.
Ele foi o único dos filhos de Bolsonaro que não disputou a eleição este ano. Mesmo sem mandato em Brasília, tem papel central no círculo político-familiar. O vereador é o responsável pela
administração das redes sociais de Jair Bolsonaro desde 2014, meio ao qual se atribui o sucesso do deputado.
Ele sempre acompanhou o pai em viagens pelo Brasil e no exterior, sendo o responsável por editar e legendar os vídeos publicados no perfil oficial do presidente eleito.
Por vezes, Carlos contrariou decisões do núcleo político do PSL e, por meio das redes sociais do pai, deu sinais conflitantes às adotadas pelo presidente eleito. Um exemplo foi quando Jair Bolsonaro
passou a fazer acenos de diálogo com a imprensa —e no dia seguinte a classificou como “imprensa lixo” no Twitter.
Ele entrou na política aos 17 anos quando o pai rompeu politicamente com sua mãe, Rogéria Bolsonaro, à época vereadora. A fim de frustrar a reeleição da antiga companheira, o presidente eleito lançou a candidatura do filho. Ele foi eleito, e ela perdeu.
Rogéria já se reconciliou com o ex-marido. Ela, Carlos, Jair, Flávio e Eduardo são sócios na Bolsonaro Digital, usada para estruturar desde o ano passado a campanha nas redes do presidente eleito.
O vereador é o filho com convivência mais próxima do pai. Licenciou-se do mandato no Rio para ajudar na campanha, mas pode ser afastado do núcleo do governo porque retornará à Câmara Municipal.
Sua posição futura ainda está indefinida. É o único que permanece no PSC, para não perder mandato em razão da fidelidade partidária. Deve se transferir para o PSL em 2020.
Policial federal, Eduardo é visto como distante das decisões políticas de Jair. Chega à Câmara como o mais votado e esboçou articular uma candidatura à presidência da Casa, o que foi vetado pelo pai. É apontado como o que mais prejudicou a campanha na reta final, quando foi divulgado vídeo feito em julho no qual afirmou ser possível fechar o Supremo Tribunal Federal só com um cabo e um soldado.
O mal-estar gerado pelo episódio ficou claro com as declarações do presidente eleito sobre o gesto do filho. Num primeiro momento, Bolsonaro disse que se Eduardo falou em fechar o STF, precisava procurar o psiquiatra. No dia seguinte, referiu-se ao deputado de 34 anos como “garoto” e disse tê-lo advertido.
Eduardo não conseguiu formar um grupo político próprio em São Paulo, por onde foi eleito. O PSL no estado foi entregue ao senador eleito major Olímpio.
Eleito para o segundo mandato, Eduardo não teve atuação expressiva no Congresso. Dos 37 projetos que apresentou, 13 foram em coautoria do pai, e nenhum foi aprovado.
Eduardo costuma escrever mensagens nas redes sociais em outras línguas e mostrarse confortável com assuntos de política externa. Em agosto, viajou aos EUA, onde se reuniu com Steve Bannon, estrategista de Donald Trump.