Folha de S.Paulo

Futura primeira-dama nega que marido seja preconceit­uoso

- Pedro Ladeira/Folhapress

A futura primeirada­ma do Brasil, Michelle Bolsonaro, nega que o marido, o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), seja homofóbico, racista ou misógino.

Em entrevista ao Domingo Espetacula­r exibida neste domingo (28) na Record, Michelle rebateu essas acusações. “Ele é tachado como fascista, homofóbico, e nós temos amigos gays. Eu tenho um primo gay”, afirmou, quando questionad­a sobre declaraçõe­s do capitão reformado que apontam o contrário.

Bolsonaro já afirmou ser incapaz de amar um filho homossexua­l, dizendo preferir que um de seus filhos morresse em acidente do que aparecesse “com um bigodudo”.

Amenizou o tom durante a campanha, dizendo que nunca foi contra os gays. Apesar de mais contido no tema, Bolsonaro ofereceu um beijo em tom de brincadeir­a para uma apoiadora homossexua­l. “Meu beijo cura, hein?”, disse, como se o ato fosse capaz de converter a orientação sexual.

Na mesma linha de raciocínio que usou para negar homofobia, Michelle refutou que o marido seja racista. “Um dos melhores amigos dele há 20 anos é o Hélio Negão.” Hélio foi eleito deputado federal na esteira da popularida­de do capitão reformado, utilizando o nome de Hélio Bolsonaro nas urnas —foi o mais votado no Rio de Janeiro.

Jair Bolsonaro já respondeu pergunta sobre a hipótese de seus filhos se apaixonare­m por uma negra dizendo que não corria “esse risco” porque eles “foram muito bem educados”. Em 2017, disse em palestra que quilombola­s não servem “nem para procriador­es”. A frase motivou denúncia sobre racismo, recusada em setembro pelo Supremo.

Em relação a misoginia, Michelle demonstrou confusão na resposta, fazendo menção a xenofobia. “Ele é tachado como misógino e é casado com quem? Com uma filha de um cearense”, disse.

Bolsonaro já afirmou que não empregaria homens e mulheres com o mesmo salário, relativizo­u a declaração na sequência —“mas tem muita mulher que é competente”— e disse que não estupraria uma colega congressis­ta porque, segundo o deputado, ela não merecia.

Disse também que um índio que tinha lhe atirado um copo de água em protesto deveria “comer capim” para “manter as suas origens”.

Na entrevista à Record, a futura primeira-dama disse acreditar que o marido terá a chance de demonstrar que não é o que suas declaraçõe­s demonstrar­am. “Tenho certeza que Deus está dando essa oportunida­de pro Brasil conhecer o Jair de verdade.”

Sobre a vida doméstica, Michelle disse que “não está mais compensand­o” o presidente eleito fazer questão de sempre preparar o café da manhã, porque “ele deixa a cozinha toda bagunçada”. “Sou eu que arrumo.”

Em relação ao atentado sofrido pelo então candidato, fez um apelo. “Peço que Deus venha a colocar temor e amor no coração dessa pessoa [o autor da facada], porque é muita maldade. É um ser humano muito mau.”

Sobre seu papel institucio­nal, já no sábado (27) Michelle afirmou ao Jornal Nacional, da Globo, que quer fazer “todos os trabalhos sociais possíveis”. Ao Domingo Espetacula­r, disse que sua função será pautada pelo trabalho com deficiente­s e a população carente no sertão. “Tenho muita vontade que essas pessoas melhorem de vida.”

Michelle conheceu o deputado Bolsonaro quando era secretária parlamenta­r na Câmara. Chegou a integrar o gabinete do marido, onde quase triplicou seu salário, e foi exonerada em 2008 após o STF proibir o nepotismo nos três Poderes. O casal tem 27 anos de diferença —63 e 36.

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Michelle ao lado de Jair Bolsonaro, após o marido votar no Rio

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