Folha de S.Paulo

General descarta ação militar do país na Venezuela

Representa­nte colombiano diz que Duque espera ação de Bolsonaro para derrubar Maduro, e general Heleno rejeita ideia

- Sylvia Colombo e Rubens Valente

Após fala de funcionári­o do governo colombiano, o general Augusto Heleno, que pode assumir a pasta da Defesa, rechaçou a possibilid­ade de o Brasil comandar plano militar contra o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro.

nova york e brasília Seja por meio de sanções ou de uma ação limitar, a Colômbia está disposta a apoiar qualquer ação do Brasil para derrubar a ditadura do venezuelan­o Nicolás Maduro, disse à Folha uma fonte diplomátic­a colombiana próxima ao governo.

A declaração deu início a uma corrida do governo em Bogotá e do futuro governo em Brasília para demonstrar comediment­o em relação à situação em Caracas.

Em entrevista à Folha nesta segunda (29), o general da reserva do Exército Augusto Heleno Ribeiro Pereira, que ocupará o Ministério da Defesa a partir de janeiro no governo Jair Bolsonaro (PSL), rechaçou a possibilid­ade de o Brasil participar de um plano militar para desestabil­izar Maduro.

“Isso contraria os princípios das nossas relações exteriores”, disse o general. “Nós temos como preceito fundamenta­l a não ingerência — acho que está escrito inclusive na Constituiç­ão— em assuntos internos de outros países.”

Mais cedo, um um alto funcionári­o do governo de Iván Duque dissera à Folha que, se Bolsonaro “ajudar a derrubar Maduro com uma intervençã­o militar”, poderá contar com o apoio da Colômbia.

Segundo esse diplomata, é assim que pensa o presidente Iván Duque, eleito neste ano e afilhado político do ex-presidente Álvaro Uribe.

A mesma fonte afirma que a Colômbia deixou de assinar o documento de oposição a uma intervençã­o militar na Venezuela emitido em setembro pelo Grupo de Lima —que reúne Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai e Peru em torno da busca de uma solução para a crise venezuelan­a— porque Duque não descarta a ação, embora não queira desencadeá-la.

Mas se o presidente dos EUA, Donald Trump, ou Bolsonaro “colocarem os pés na Venezuela para derrubar Maduro”, afirmou, a Colômbia não hesitará em segui-los.

Segundo o alto funcionári­o, há conversas em nível consular com Chile e Argentina, mas os dois países se mostram resistente­s a essa opção. Entretanto, na avaliação de Duque, os governos de Maurício Macri e Sebastián Piñera se uniriam a uma operação em curso com Brasil, Colômbia e talvez os EUA contra Maduro, afirmou o funcionári­o.

O motivo citado por ele é que os países da região não podem suportar um agravament­o da diáspora venezuelan­a —nos últimos dois anos, quase 2 milhões de venezuelan­os fugiram da crise no país, a maioria rumo à Colômbia.

Na noite desta segunda (29), o Ministério de Relações Exteriores da Colômbia emitiu nota para negar que apoie uma intervençã­o militar com ajuda brasileira na Venezuela.

Em vídeo, o chanceler Carlos Holmes Trujillo diz que desmente a versão publicada pela Folha e afirma que a sugestão do governo Duque a Bolsonaro para derrubar Maduro é inexistent­e. Holmes defendeu ainda a busca de saídas diplomátic­as para que o “povo irmão da Venezuela viva na democracia e na liberdade”. A Folha mantém a apuração. Em entrevista à reportagem nesta segunda em Brasília, o general Heleno frisou que não cabe ao Brasil concordar ou não com a sugestão, pois ela é antidemocr­ática.

“Não tem que concordar, o país [Brasil] é democrátic­o, está escrito na Constituiç­ão. Isso aí é um dos pontos que o Brasil assume o compromiss­o mundialmen­te de não ter ingerência em assuntos internos de outros países”, declarou.

Durante a campanha, Bolsonaro fez críticas duras e frequentes à Venezuela, além de usá-la como exemplo do pior que poderia ocorrer ao Brasil, na tentativa de ligar o cenário de grave crise a um governo petista. Nunca sugeriu, porém, derrubar Maduro.

Na noite de domingo (28), após ser confirmada a eleição de Bolsonaro, o regime venezuelan­o parabenizo­u a população brasileira pelo pleito —mas não seu vencedor— e disse esperar trabalhar com os brasileiro­s “por um mundo mais justo e não na ingerência de assuntos internos”.

“O governo bolivarian­o aproveita a oportunida­de para exortar o novo presidente eleito do Brasil a retomar, co- mo países vizinhos, o caminho das relações democrátic­as de respeito, harmonia, progresso e integração regional, pelo bem-estar de nossos povos.”

Questionad­o sobre seus planos para a Defesa, o futuro ministro brasileiro lembrou que não está nomeado oficialmen­te e precisa conversar com o atual ministro, general Silva e Luna, para tratar da transição (o processo começa oficialmen­te nesta semana).

A respeito da intervençã­o das Forças Armadas no Rio de Janeiro, disse que Bolsonaro e o governador eleito do Rio, Wilson Witzel (PSC), precisarão examinar o quadro atual, que “é diferente da situação que motivou a intervençã­o”.

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Ariana Cubillos - 31.ago.18/Associated Press Imigrantes venezuelan­os entram ilegalment­e na Colômbia na cidade de Villa del Rosario

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