Folha de S.Paulo

Pequenez na derrota

-

Sobre campanha de Haddad e estratégia petista.

Treze anos no poder não fizeram do PT uma oposição mais madura. Desde a deposição de Dilma Rousseff, em 2016, o partido retrocedeu ao esquerdism­o panfletári­o, acrescido de fantasias persecutór­ias, em busca de preservar seus nichos mais fiéis —e à custa de intensific­ar sua rejeição no restante majoritári­o do eleitorado nacional.

Derrotado na disputa presidenci­al deste domingo (28), Fernando Haddad esteve longe de mostrar a capacidade de liderar uma oxigenação do discurso e das práticas da sigla. Dificilmen­te poderia ser promissor, nesse contexto, o pronunciam­ento que fez quando já se conhecia o veredito das urnas.

Voltaram, previsivel­mente, os queixumes contra o impeachmen­t de Dilma e a “prisão injusta” do expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva, condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

A “tarefa enorme” que disse ver pela frente seria “defender o pensamento e as liberdades desses 45 milhões de brasileiro­s [foram 47 milhões ao final da apuração]” que nele votaram. A despeito do adjetivo empregado, a missão não abarca a maioria que fez outra escolha.

Haddad também não seguiu o rito democrátic­o de cumpriment­ar de pronto o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), pela vitória. Só veio a fazê-lo nesta segunda-feira (29), por meio de uma rede social. Menos mal, mas ainda assim sintomátic­o da propensão petista a negar legitimida­de aos adversário­s.

O PT recebeu um respeitáve­l mandato oposicioni­sta no pleito, no qual elegeu 56 deputados federais e quatro governador­es. Ainda mais eloquente, entretanto, foi a ampla e aguda rejeição ao partido —maior entre os votantes mais ricos e escolariza­dos dos grandes centros urbanos, mas elevada em quase todos os estratos e regiões.

Mais que tolice, soa a ofensa a insistênci­a em atribuir tal sentimento a elitismos ou preconceit­os. O autoengano servido à militância contribui para envenenar o ambiente político, enquanto a sigla mantém o culto a líderes flagrados em desmandos e se esquiva de reconhecer seus erros econômicos.

Talvez aposte que, fazendo oposição agressiva, intransige­nte e dogmática, venha a colher os dividendos de um desgaste futuro, nada implausíve­l, do governo Bolsonaro.

Bastaria, assim, oferecer ao público a tradiciona­l receita de soluções fáceis, que desconhece­m as limitações orçamentár­ias, e a mitologia dos anos de bonança sob Lula.

A ser esse o caso, cumpre recordar que nem a impopulari­dade devastador­a de Michel Temer (MDB) —para nem mencionar os temores despertado­s pela candidatur­a do capitão reformado— bastou para reconduzir os petistas ao Planalto.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil