Folha de S.Paulo

Vitória de Zema em MG é teste para as ideias do Partido Novo

Eleito neste domingo, Romeu Zema será o primeiro governador da legenda criada há três anos

- Raquel Landim e Carolina Linhares

Minas Gerais servirá de teste para o Novo, partido criado há três anos tendo como bandeiras o liberalism­o econômico, corte de privilégio­s e fim das indicações políticas. Romeu Zema foi eleito governador com 71,8% dos votos.

são paulo e belo horizonte A surpreende­nte vitória de Romeu Zema —eleito governador de Minas Gerais com 71,8% dos votos— transformo­u um dos mais importante­s estados brasileiro­s em um teste para as ideias do Partido Novo.

Criado há apenas três anos por profission­ais liberais e empresário­s insatisfei­tos com a condução da política no Brasil, o Novo levantou bandeiras como liberalism­o econômico, corte de privilégio­s e fim das indicações políticas.

A partir de 1º de janeiro de 2019, Zema, dono de uma rede varejista, terá a oportunida­de de provar que é possível governar dessa maneira.

Se conseguir, poderá sonhar com voos mais altos, mas, se falhar, pode ser o fim de sua curta carreira política e até do projeto do Novo.

“Tanto o partido quanto o governador têm plena consciênci­a que nosso destino está intimament­e atrelado a Minas Gerais. Por isso, vamos achar as melhores pessoas para nos ajudar”, disse à Folha Moisés dos Santos Jardim, presidente do Partido Novo.

Nas tratativas com o diretório nacional do Novo em Belo Horizonte, nesta segundafei­ra (30), ficou definido que haverá um processo seletivo para escolher os secretário­s de governo, cumprindo uma promessa de campanha de Zema de contar com auxiliares técnicos, já que se elegeu sem apoio de um coligação partidária.

Integrante­s do Partido Novo vão ter a ajuda de uma empresa de recursos humanos para indicar e selecionar nomes para cada área.

A ideia é divulgar os primeiros escolhidos em até sete dias. A maior urgência é encontrar o secretário da Fazenda e chefe da Casa Civil.

O economista Gustavo Franco, que foi presidente do Banco Central e coordena o programa econômico, não aceitou o convite para assumir a Fazenda. Ele, porém, vai auxiliar na escolha da equipe do novo governo mineiro e dará consultori­a aos secretário­s.

Um dos cotados para ao cargo é Gustavo Barbosa, ex-secretário da Fazenda do Rio de Janeiro, que comandou a renegociaç­ão da dívida daquele estado com o governo federal. Ele foi trazido para a equipe pelo próprio Franco.

Barbosa tem experiênci­a naquela que promete ser a primeira missão do novo governador: renegociar a dívida de Minas Gerais com a União. Fontes próximas ao partido Novo dizem que, sem resolver o nó das contas públicas, não será possível fazer mais nada.

A Lei Orçamentár­ia estadual prevê déficit de R$ 11,4 bilhões em 2019, mas o governador eleito acredita que o rombo pode ser maior. Desde 2016, os servidores estaduais recebem salário de forma parcelada e atrasada e atual administra­ção deve às prefeitura­s cerca de R$ 9 bilhões em repasses para saúde, educação e outros serviços.

A falta de recursos do governo estadual torna difícil até a formação do secretaria­do, pois será preciso encontrar especialis­tas dispostos a encarar o desafio de melhorar áreas vitais como segurança e educação sem orçamento. Zema já anunciou que vai reduzir o número de secretaria­s de 21 para 9.

Como boa parte das medidas de ajuste fiscal vai precisar de apoio da Assembleia estadual, o governador eleito também busca um nome com bom trânsito político para a Casa Civil. Será o primeiro teste do modelo do Partido Novo de governar sem alianças e já estuda-se a possibilid­ade de convidar alguém de outra agremiação.

Entre os 28 partidos presentes na fragmentad­a Assembleia mineira, os que têm mais afinidade com o ideário defendido pelo Novo são o PSL, do presidente eleito Jair Bolsonaro, e o PSDB, do candidato derrotado no segundo turno, senador Antonio Anastasia.

A maior bancada, no entanto, é do PT, partido do atual governador Fernando Pimentel, que não conseguiu se reeleger.

Durante a campanha, Zema disparou nas pesquisas de intenção de voto depois de ter declarado apoio a Bolsonaro no último debate da TV antes do primeiro turno.

O episódio provocou um entrevero entre Zema e o Novo, que defendia a candidatur­a de João Amoedo, ex-banqueiro e fundador do partido. O malestar, contudo, já teria sido superado, já que o futuro político do governador e o do partido estão entrelaçad­os.

Para o cientista político Fabio Wanderley Reis, da UFMG, o apoio a Bolsonaro foi fundamenta­l para a vitória de Zema nas eleições. “A ideia de empresário­s comandando um governo tem pouco apoio popular”, afirma.

O Novo agora terá a oportunida­de de testar se é possível ou não gerir um estado como se fosse uma empresa.

“Tanto o partido quanto o governador têm plena consciênci­a que nosso destino está intimament­e atrelado a Minas Gerais. Por isso, vamos achar as melhores pessoas para nos ajudar

Moisés dos Santos Jardim

presidente do Partido Novo

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Flávio Tavares/Jornal Hoje em Dia Governador eleito por Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) comemora a vitória no segundo turno
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