Folha de S.Paulo

O azarão que era barbada

- Alvaro Costa e Silva

rio de janeiro Em setembro, quando teve início a campanha eleitoral, ninguém reconhecer­ia Wilson Witzel na rua. Grande parte dos eleitores não conseguia (e ainda não consegue) pronunciar seu nome. Ele tinha 1% das intenções de voto. Nada disso atrapalhou: foi eleito governador nadando de braçada.

O comprometi­mento evangélico —Witzel concorreu pelo PSC, partido do pastor Everaldo, da Assembleia de Deus— e sobretudo a onda bolsonaris­ta tornaram o candidato imbatível. Só era um azarão para aqueles que não entenderam no que o Rio se transformo­u depois de 20 anos sob a quadrilha do antigo PMDB: uma espécie de província neopenteco­stal cujo poder é compartilh­ado por milicianos e traficante­s. A eleição do prefeito Marcelo Crivella, dois anos atrás, era um sinal inequívoco.

Bolsonaro alcançou no estado 67,95% dos votos válidos; Witzel, 59,87%. Ambos usaram discursos iguais: rejeição à política considerad­a tradiciona­l, combate à corrupção e maior punição à criminalid­ade. O futuro governador pretende autorizar que a polícia abata criminosos que portem armas de uso exclusivo das Forças Armadas. Aliás, deve-se a Bolsonaro e Witzel a moda do verbo abater, antes mais utilizado em relação ao gado.

Witzel gosta de espetáculo. Numa reunião com integrante­s das forças de segurança, foi aplaudido ao dizer que não faltará lugar para pôr bandido: “Cova a gente cava, e presídio, se precisar, a gente bota navio em alto mar”. Será que ele sabe quanto custa a construção de um navio-presídio? E que a previsão para o déficit é de R$ 8 bilhões? Que há 1,3 milhão de desemprega­dos no estado?

Na sexta-feira (26), às vésperas do segundo turno, o Copacabana Palace abriu os salões para uma festa de Halloween. Prova documentad­a nas revistas de famosos de que nossas instituiçõ­es estão funcionand­o.

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