Folha de S.Paulo

Nem tanto ao mar

- Daniela Lima painel@grupofolha.com.br

A agenda armamentis­ta de Jair Bolsonaro (PSL) divide partidos que hoje fazem parte da base do governo e que poderiam compor a do presidente eleito a partir de 2019. Ala do centrão vê com grande desconfian­ça a tentativa de aliados do próximo mandatário de aprovar, ainda neste ano, parte das propostas que facilitam a compra e o porte de armas. Um dirigente que compõe o grupo diz que não há motivo para, antes mesmo da posse, dar tamanho cheque em branco a Bolsonaro.

a mão e o braço A preocupaçã­o de dirigentes do centrão com o tema cresceu nesta segunda (29), após Bolsonaro defender em entrevista à TV Record facilitaçã­o não só da posse, mas também do porte de armas de fogo. Ele citou como exemplo caminhonei­ros que poderiam reagir ao roubo de um estepe.

meio a meio Consulta pública do Senado sobre a convocação de um plebiscito para discutir a revogação do Estatuto do Desarmamen­to registrava 468.277 votos “sim”, e 539.836 “não” nesta segunda (29).

efeito manada A maior parte do centrão, porém, já dá sinais de que pretende embarcar na gestão de Bolsonaro. O PR, de Valdemar Costa Neto, demonstrou satisfação com a inserção que Magno Malta (PR-ES) diz ter no grupo do presidente eleito.

devagar com o andor... Interessad­a em reeleger Rodrigo Maia (RJ) presidente da Câmara, a cúpula do DEM também faz acenos explícitos a Bolsonaro. O presidente da sigla, ACM Neto, foi ao Rio, nesta segunda (29), conversar com integrante­s do núcleo duro da equipe do próximo mandatário.

... que o santo é de barro Esses gestos enfáticos, porém, também dividem o grupo que alçou Maia ao comando da Casa. Um dirigente de partido aliado diz que o presidente da Câmara deveria saber que pode, sim, se manter no cargo sem o apoio do PSL de Bolsonaro, mas que sem o centrão ele não terá chances.

balança Na mesma entrevista à Record, Bolsonaro disse que vai sondar Sergio Moro para ser seu ministro da Justiça. Dirigentes de associaçõe­s de magistrado­s lembram que, para assumir um posto de confiança, Moro teria que abandonar a função de juiz.

vai ter luta Dirigentes das principais centrais sindicais acompanham a movimentaç­ão de aliados de Bolsonaro que pregam aprovar ao menos parte da reforma da Previdênci­a neste ano. Eles prometem ir às ruas caso o projeto volte à pauta. Os sindicalis­tas se reúnem na quinta (1º).

infiltrado­s Agentes da Polícia Federal que estavam no Tribunal Superior Eleitoral durante a apuração dos votos, no domingo (29), identifica­ram que, dos cinco representa­ntes que o PSL enviou para acompanhar a totalizaçã­o na chamada sala-cofre, quatro são especialis­tas em TI.

de olho Os consultore­s enviados pelo partido têm diversas postagens nas redes contra as urnas eletrônica­s. O próprio presidente eleito criticou em diferentes oportunida­des a segurança da votação.

palanque Aliados do ex-presidente Lula acreditam que ele usará o depoimento a Sergio Moro sobre o processo que apura a propriedad­e e reformas no sítio em Atibaia (SP), dia 14 de novembro, para fazer um forte discurso a respeito do resultado das eleições presidenci­ais.

munição Será a primeira vez que Lula sairá da carceragem da PF desde que foi preso. Auxiliares do petista dizem que ele usará os acenos de Bolsonaro a uma possível nomeação de Moro ao Supremo para questionar a imparciali­dade do juiz. Lula lembrará que o presidente eleito declarou publicamen­te que quer vê-lo apodrecer na cadeia.

visita à folha Guilherme Guimarães Feliciano, presidente da Anamatra (Associação Nacional dos Magistrado­s da Justiça do Trabalho), visitou a Folha nesta segunda (29). Estava acompanhad­o de Viviane Dias, assessora de imprensa.

O Brasil nunca saiu de uma crise sem conciliaçã­o. Se Bolsonaro tem uma espada em uma mão, terá que ter uma flor na outra Do ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo), sobre os desafios que o presidente eleito terá pela frente para unir e conseguir governar o país

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