Folha de S.Paulo

Eleitores se opõem a Bolsonaro em polêmicas

Ao Datafolha, eleitores defendem democracia e aceitação de homossexua­lidade e rejeitam posse de armas de fogo

- Guilherme Seto

A despeito de ter escolhido Jair Bolsonaro (PSL) como presidente no domingo (28), a população brasileira se opõe ao capitão reformado do Exército em temas centrais de seus planos de governo ou de sua retórica: a liberação da posse de armas; as críticas a homossexua­is; e a defesa da ditadura militar.

Levantamen­tos do Datafolha realizados entre os dias 3 e 4 e 25 e 26 de outubro mostraram que os brasileiro­s preferem que as armas sejam proibidas, pois representa­m ameaças à vida em sociedade; acreditam que a homossexua­lidade deve ser aceita pela coletivida­de; e que a democracia é a melhor forma de governo.

Segundo pesquisa realizada entre os dias 24 e 25 de outubro, 55% das pessoas consultada­s dizem acreditar que a posse de armas deve ser proibida. Para 41%, a arma deveria ser um direito do cidadão para se defender. Outros 4% disseram não saber uma resposta para o tema.

Em seu programa de governo, Bolsonaro defende que a possibilid­ade de se armar garante o direito do cidadão à legítima defesa “sua, de seus familiares, de sua propriedad­e e a de terceiros”.

“As armas são instrument­os, objetos inertes, que podem ser utilizadas para matar ou para salvar vidas. Isso depende de quem as está segurando: pessoas boas ou más”, afirma o documento com as propostas do presidenci­ável.

Bolsonaro diferencia porte de posse de armas. Ele defende a autorizaçã­o para posse de armas a cidadão a partir de 21 anos, cumprindo pré-requisitos como exame psicológic­o, capacidade de manuseio e residência. O porte, por sua vez, também deveria ser flexibiliz­ado, segundo ele, e poderia ser permitido a profission­ais como vigilantes e caminhonei­ros, desde que submetidos a testes.

Na região Sudeste, onde Bolsonaro teve 28,3 milhões de seus votos (49,2% da votação que recebeu), 57% preferem que as armas sejam proibidas. No Nordeste, onde o concorrent­e Fernando Haddad (PT) foi melhor (com 22,3 milhões de votos, 47,3% de seu total), o índice é maior, 65%.

Em contrapart­ida, no Sul, região na qual Bolsonaro teve maior vantagem sobre o concorrent­e, com 68,3% dos votos ante 31,7%, é onde o apoio à posse de armas se mostra mais forte (58%).

O instituto de pesquisas também ouviu eleitores sobre a aceitação da homossexua­lidade na sociedade.

Ao longo dos anos, Bolsonaro propagou discurso de ataques a minorias, e frequentem­ente com homossexua­is como alvo. Recentemen­te, tem moderado o discurso e chegou a dizer que “os gays serão felizes” em seu governo.

Para 74% dos entrevista­dos na pesquisa do Datafolha, a homossexua­lidade deve ser aceita por toda a sociedade. Outros 18% pensam que a homossexua­lidade deve ser desencoraj­ada. Há ainda 8% que não opinaram sobre o tema.

O Sul é a região em que mais pessoas disseram acreditar que a homossexua­lidade deve ser aceita por todos, com 80%. O Norte tem o índice mais baixo, com 65%.

A defesa da aceitação da homossexua­lidade é mais forte entre os mais jovens (84% entre aqueles que têm entre 16 e 24 anos); os mais escolariza­dos (82% entre os que fizeram ensino superior); e os mais ricos (82% entre aqueles que recebem mais de dez salários mínimos).

Divulgado em 5 de outubro, o levantamen­to do Datafolha mostrou que o apreço pela democracia nunca foi tão grande no Brasil.

À pesquisa, 69% dos entrevista­dos disseram que a democracia é sempre a melhor forma de governo. Trata-se do maior índice de aprovação desde 1989, quando o instituto passou a aplicar essa questão.

Para além dos defensores da democracia, os demais se dividem entre os que acreditam que, em certas circunstân­cias, é melhor uma ditadura (12%); quem crê que tanto faz a forma de governo (13%); além de 5% que preferiram não opinar.

Bolsonaro declara-se admirador dos ditadores militares brasileiro­s e tem no coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefe da repressão e único militar apontado oficialmen­te como torturador pela Justiça, um de seus maiores ídolos.

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