Folha de S.Paulo

Ex-reduto do PT, Acre dá a candidato do PSL maior votação relativa

- Fabiano Maisonnave e Fabio Pontes

manaus e rio branco Algumas das ondas mais altas do tsunami eleitoral deste ano atingiram o Acre em cheio.

No primeiro turno, o estado encerrou duas décadas de hegemonia petista ao eleger Gladson Cameli (PP). E, neste domingo (28), entregou ao presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), sua maior votação proporcion­al no país.

Além disso, o PT estadual deixou de ter representa­ntes no Congresso. O senador Jorge Viana, principal nome do partido no Acre, não conseguiu se reeleger.

A larga margem na votação presidenci­al foi uma novidade menor do que a perda do comando estadual. Durante os 20 anos de PT no poder, os acrianos sempre preferiram candidatos não petistas para o governo federal.

Nunca, no entanto, com tamanha ênfase: Bolsonaro recebeu no estado 77% dos votos válidos —22 pontos a mais do que o resultado obtido no país. Quatro anos atrás, o tu- cano Aécio Neves, apoiado pela acriana Mariana Silva, obteve 67% no segundo turno contra Dilma Rousseff. Em 2010, o correligio­nário José Serra havia conquistad­o 70% contra a petista.

Sem estrutura partidária no Acre, a campanha de Bolsonaro teve ares de improviso.

Em Rio Branco, seus eleitores transforma­ram o amplo estacionam­ento da loja Havan, do empresário Luciano Hang, numa espécie de quartel general, com a realização ali de dois grandes comícios.

“Bolsonaro é uma alternati- va a esses governos que fizeram tanto mal ao Brasil e ao nosso sofrido Acre, que hoje vive sob o terror da violência e da crise econômica”, afirmou o agente penitenciá­rio Lucas Bolzoni, 31, eleitor do presidente eleito.

Autor de um livro sobre o Acre, o antropólog­o norteameri­cano Jeffrey Hoelle vincula a queda na popularida­de do PT à indignação generaliza­da contra a corrupção e ao salto da violência em meio à guerra entre facções criminosas no estado.

“Eu nunca havia visto tanto crime no Acre, antes um lugar tranquilo”, diz o professor da Universida­de da Califórnia em Santa Bárbara, que visitou o estado em meados do ano.

Sob a administra­ção petista, o Acre se tornou o estado mais violento do país no ano passado, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

A taxa de homicídios, de 63,9 por 100 mil habitantes, é pouco maior do que o dobro da média nacional e só fica abaixo do Rio Grande do Norte, com 68 por 100 mil habitantes. Filha do líder seringueir­o Chico Mendes, assassinad­o há 30 anos, Angela Mendes diz que, além da violência, o fim do ciclo no PT se deve tanto à onda antipetist­a quanto ao desgaste por estar no poder durante tanto tempo.

Filiada ao partido de Lula como o pai, ela acredita que, apesar da derrota, o Acre não seguirá o modelo de Rondônia, em que o agronegóci­o tem mais força econômica à custa de maior área desmatada.

“O Acre optou por um modo de vida sustentáve­l, equilibrad­o, de conviver com a floresta”, afirma Angela, coordenado­ra do Comitê Chico Mendes, com sede em Rio Branco.

Ela, porém, teme que os centros urbanos passem a pressionar por um modelo mais parecido ao estado vizinho.

“Na cidade, temos um grande número de eleitores que acham que só quem precisa se preocupar com floresta são os bichos. Pra eles, Rondônia é um modelo mesmo.”

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Divulgação Apoiadores de Bolsonaro em carreata por Rio Branco (AC)

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