Folha de S.Paulo

Doria defende o alinhament­o, mas nega ser linha auxiliar de Bolsonaro

Governador eleito de SP diz que PSDB precisa entender recado das vitórias estaduais do partido

- Igor Gielow

são paulo O governador eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que o alinhament­o com a futura gestão nacional de Jair Bolsonaro (PSL) não significa que seu partido se tornará uma linha auxiliar do novo presidente.

“De forma alguma. Primeiro, eu respondo pelo PSDB de São Paulo, e estamos alinhados [com Bolsonaro]. Há apenas um sentimento de que temos de ter estabilida­de política e econômica para podermos governar, retomar o cresciment­o. Nossa defesa não é partidária, é do Brasil”, afirmou à Folha, por telefone.

Na campanha, o governador eleito pregou abertament­e o voto Bolsodoria e trabalhou temas comuns com retórica semelhante, como a agenda da segurança pública.

Embora ainda com peso regional, o PSDB encolheu no Legislativ­o. Na Câmara, o PSL de Bolsonaro elegeu 52 deputados, enquanto o PSDB fez 29 nomes.

A votação para presidente, com Geraldo Alckmin (PSDB), foi a pior registrada pelo partido no plano federal.

Desde que foi confirmada a apertada vitória sobre Márcio França (PSB) no domingo, Doria deu declaraçõe­s no sentido de descolamen­to da atual direção do PSDB —que tem à frente Alckmin, o homem que lançou o ex-prefeito paulistano na política e depois o acusou de traição por suas movimentaç­ões federais em 2017.

Evitando tripudiar sobre Alckmin, Doria apenas concordou que o PSDB nacional deveria seguir o caminho que as seções estaduais bem-sucedidas na eleição, como a paulista dele mesmo e a gaúcha do eleito Eduardo Leite, escolheram. Ou seja, proximidad­e de Bolsonaro. “É uma análise perfeita”, afirmou o tucano.

No fim da tarde desta segunda (29), ele enfim recebeu telefonema­s de cumpriment­os de Alckmin e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o decano do tucanato. A demora na manifestaç­ão de ambos havia sido malvista pelo entorno de Doria.

Na noite após a eleição, ele havia dito sobre “o meu PSDB”, uma sigla sem o proverbial “muro”. Nesta segunda (29), ele ponderou: “Eu não sou o defensor único da tese de que o PSDB precisa de uma nova sintonia com a população, em especial a mais pobre.”

“Não vou ficar em cima do mundo para descobrir se vai pegar fogo ou se vai fazer água”, disse Doria.

Escaldado pela promessa não cumprida de completar seu mandato à frente da prefeitura paulistana, usada amplamente na campanha eleitoral, ele apenas afirmou que “não faz sentido discutir nada daqui a quatro anos agora”, quando questionad­o acerca de eventuais planos presidenci­ais visando 2022.

“Eu acabei de ser eleito governador. Estou aqui para angariar apoio ao presidente Jair Bolsonaro, com o objetivo de garantir a estabilida­de e a governabil­idade”, afirmou.

Aliados de Bolsonaro afirmaram que o distanciam­ento do então presidenci­ável de Doria, operado por um desafeto do ex-prefeito, o senador eleito Major Olímpio (PSL), embutia no cálculo o temor de traição à frente.

O caso de Alckmin, que passou 2016 sendo acossado pelo protagonis­mo político de Doria, é sempre lembrado. Mais cedo, na segunda, Doria havia dito que não é um traidor.

O governador eleito deverá se encontrar em breve com o futuro presidente.

Alvo de um vídeo que o associava a uma orgia às vésperas do segundo turno, Doria comparou a virulência da campanha em São Paulo ao atentado a faca sofrido pelo deputado do PSL.

“Eu e o Bolsonaro tomamos facadas, ele física, eu moral. Mas sobrevivem­os e ganhamos. Foi a campanha mais suja da história de São Paulo”.

Ao longo da disputa, Doria aproximou seu discurso ao de Bolsonaro ao focar na segurança pública, grande preocupaçã­o do eleitorado.

A Folha questionou se não há o risco de um aumento de letalidade policial com as iniciativa­s prometidas tanto por Doria, que quer a PM em peso nas ruas, quanto por Bolsonaro, que defende a isenção de julgamento de agentes que matam em serviço.

“Não. A PM de São Paulo é a melhor do Brasil. A Rota, por exemplo, é a mais preparada unidade da mais preparada polícia brasileira. Primeiro, evitar o crime. Se houver o crime, imobilizar o criminoso. Terceiro, se necessário, imobilizá-lo com um tiro. Só na quarta etapa, se necessário, há a letalidade”, afirmou.

Ele voltou a defender o monitorame­nto eletrônico das ruas para a redução do crime, a exemplo do que ocorreu na Cidade do México.

O governador eleito também falou sobre temas que dizem respeito ao manejo dos presos de São Paulo, estado onde a facção criminosa PCC nasceu.

Defendeu o fim da “sala de reunião” para criminosos na cadeia. “Temos de coibir facilidade­s desnecessá­rias para o planejamen­to de crimes”, afirmou o tucano.

O tema é espinhoso para a Ordem dos Advogados do Brasil, que considera quaisquer limites à relação entre detentos e seus defensores inconstitu­cional. Por outro lado, é sabido que muitos advogados são usados como ponte entre líderes do PCC presos e seus comandados do lado de fora das cadeias no país.

Doria sustenta que a tecnologia precisa ser melhor aplicada em questões judiciais, e quer conversar com o Tribunal de Justiça e com a Defensoria Pública sobre o tema.

“Temos também de usar a teleconfer­ência, evitar o transporte de presos. Não faz sentido fazer o sujeito cozinhar no camburão por 400 km para vir a São Paulo fazer uma audiência de meia hora”, disse.

Por fim, o governador eleito falou sobre o reajuste da tarifa do metrô. Afirmou que ainda não estudou o assunto, mas que pretende apenas reajustar o valor sem que haja aumento real.

“De forma alguma [seremos linha auxiliar de Bolsonaro]. Primeiro, eu respondo pelo PSDB de São Paulo, e estamos alinhados [com Bolsonaro]. Há apenas um sentimento de que temos de ter estabilida­de política e econômica para podermos governar, retomar o cresciment­o. Nossa defesa não é partidária, é do Brasil João Doria (PSDB) governador eleito de SP

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Divulgação João Doria (PSDB), governador eleito de São Paulo, durante entrevista
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