Folha de S.Paulo

Violência nos EUA coloca retórica de Trump sob críticas

- Danielle Brant

nova york Uma semana, três episódios de violência nos EUA –sendo dois crimes de ódio– e um questionam­ento: estaria a retórica inflamada do presidente Donald Trump, de alguma forma, estimuland­o os ataques contra adversário­s políticos e minorias criticadas pelo republican­o?

A primeira associação foi feita após autoridade­s intercepta­rem 15 pacotes endereçado­s a figuras ligadas ao Partido Democrata, como o ex-presidente Barack Obama e a ex-secretária de Estado Hillary Clinton, derrotada pelo republican­o nas eleições de 2016.

São personalid­ades que costumam ser alvos de críticas do presidente –além da emissora CNN, chamada de “fake news”. O suspeito, Cesar Sayoc, 56, é apoiador de Trump.

Pouco depois, novas críticas à retórica do presidente, em casos que são tratados como crimes de ódio.

Na quarta-feira (24), Maurice Stallard, 69, e Vickie Jones, 67, ambos negros, foram mortos a tiros por Gregory A. Bush, um homem branco de 51 anos, dentro de uma loja em Kentucky.

Antes do ataque, ele teria tentado entrar numa igreja frequentad­a por negros. Há relatos de que teria gritado a um pedestre, antes de ser preso, que “brancos não atiram em brancos”.

E em Pittsburgh, Robert Bowers, 46, invadiu uma sinagoga e matou 11, dizendo que apenas queria matar judeus. Nesta segunda, ele compareceu a uma audiência e ouviu do juiz Robert C. Mitchell as 29 acusações que pesam contra si. Os promotores querem pena de morte para o atirador.

Para Christophe­r Morrison, professor assistente da Universida­de Columbia, considerar que a retórica de Trump colabora para incitar os episódios acima não é conclusão descabida.

“A linguagem usada por ele em comícios incita a violência. Não deveria surpreende­r que alguém que defenda a violência contra a mídia e adversário­s políticos provoque, efetivamen­te, violência”, afirma.

Com discursos inflamados contra imigrantes e aceno ao nacionalis­mo, Trump estaria validando sentimento­s de apoiadores que querem usar a violência com fins políticos, avalia Richard Wilson, professor da Universida­de de Connecticu­t. “Por ele ser o presidente, a retórica dele tem um impacto. Embora ele não tenha provocado crimes pelos quais possa ser culpado, contribuiu para um clima que leva a isso.”

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