Folha de S.Paulo

Com Bolsonaro, MDB, DEM e alas de militares disputam setor de energia

Área que movimenta bilhões e sempre serviu de moeda política é estratégic­a para novo governo

- Taís Hirata

são paulo O mercado de energia vive momentos de dúvida e disputa sobre qual será a abordagem dada pelo governo Jair Bolsonaro (PSL), eleito no domingo (28), para o setor, que inclui eletricida­de, óleo, gás e mineração.

Além da divisão entre técnicos, representa­dos pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, e os militares, que veem a energia como um setor estratégic­o e de interesse nacional, há rachas mesmo dentro desses grupos.

Há décadas, na partilha de poder político em cargos executivos e de estatais de energia, o MDB é o partido com maior influência. Analistas ligados ao setor privado afirmam que o centrão também reivindica posições na área.

Nessa linha, foram sugeridos nomes como os deputados Leonardo Quintão (MDB-MG) e José Carlos Aleluia (DEMBA), segundo uma pessoa que acompanha as negociaçõe­s.

Quintão foi um dos principais opositores à privatizaç­ão de Furnas, subsidiári­a da Eletrobras. Já Aleluia é relator de um projeto de lei que defende a desestatiz­ação da elétrica e tem defendido pautas do setor.

Nenhum dos dois conseguiu se reeleger na Câmara.

Para um analista do setor, a ascensão de um ministro com esse perfil representa­ria uma continuida­de em relação à atual gestão de Moreira Franco (MDB-RJ), que tem tomado decisões polêmicas entre o setor e de viés mais político do que técnico.

Um segundo grupo defende uma escolha mais menos política para o cargo, com um nome de força no mercado.

Entre os candidatos sugeridos estão os do ex-ministro de Minas e Energia Fernando Coelho Filho (DEMPE), que é bastante elogiado pelos empresário­s e executivos do setor por ter montado uma equipe técnica durante a maior parte do governo Temer, ou mesmo um nome mais liberal —uma das sugestões é Eduardo Guardia, atual ministro da Fazenda.

O nome de Luciano de Castro, professor da Universida­de de Iowa (EUA) convocado pelo economista Paulo Guedes para cuidar da área de energia durante a campanha eleitoral, é visto com simpatia por seu perfil liberal, mas analistas têm a avaliação de que ele não tem força política para assumir o comando da pasta.

Além desses dois grupos, há ainda a dúvida se Bolsonaro optará por manter a área de energia sob o comando de um militar. Nesse caso, há também duas alas: um segmento que é mais liberal, e outro, mais estatizant­e.

Ainda não está claro nem mesmo se o ministério de Minas e Energia será integrado à pasta de Transporte­s, como foi proposto pela equipe de Bolsonaro durante a campanha.

Caso essa junção se concretize, a perspectiv­a é que os militares tenham mais poder sobre o setor.

A expectativ­a é que o Ministério de Minas e Energia mantenha sua autonomia, mas ainda há dúvidas sobre a real influência dos militares no governo do PSL.

A desconfian­ça ficou maior principalm­ente após declaraçõe­s de Bolsonaro, que durante a campanha se posicionou contra a privatizaç­ão total da Eletrobras e da Petrobras.

Para Nelson Leite, presidente da Abradee (Associação Brasileira de Distribuid­ores de Energia Elétrica), mais importante do que o ministro de Energia será o segundo escalão, de secretário­s.

A escolha do chefe da pasta deve priorizar alguém com perfil articulado­r e comprometi­mento com a nomeação de uma equipe técnica, diz ele.

A discussão, porém, ainda é incipiente, e os nomes não passam de especulaçã­o, ressalta um analista.

Para ele, independen­temente do perfil, há uma expectativ­a de que a atração de investidor­es privados deve continuar. A maior dúvida seria em relação à geração elétrica, considerad­a estratégic­a pela ala militar.

O mercado de energia tem sido um dos mais aquecidos nos últimos dois anos: enquanto projetos de infraestru­tura tiverem forte desacelera­ção, os setores de óleo, gás e eletricida­de atraíram bilhões em leilões, aquisições e investimen­tos.

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Taís Hirata/Folhapress O ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, participa de evento do setor de etanol, em São Paulo

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