Folha de S.Paulo

Falas de eleitos e perdas globais minam mercado

- Tássia Kastner

são paulo Depois de um começo de dia eufórico com a vitória de Jair Bolsonaro (PSL), o mercado financeiro inverteu o sinal por embolso de lucros, falas atrapalhad­as da equipe do presidente eleito e a piora nos mercados americanos.

O dólar subiu 1,39% e terminou o dia a R$ 3,7060. A volatilida­de do dia fez com que a moeda fosse da mínima de R$ 3,5830 à máxima de R$ 3,7180 nesta segunda.

Já a Bolsa brasileira fechou em baixa de 2,24%, a 83.796 pontos. Durante a manhã, chegou a subir mais de 3%, mas os ganhos não se sustentara­m. A queda se acentuou no meio da tarde, quando as Bolsas americanas passaram a cair —o índice Dow Jones perdeu 0,99%, e o S&P 500, 0,66%. A Nasdaq caiu 1,63%.

Para o operador de câmbio Jefferson Laatus, sócio fundador do Grupo Laatus, o mercado local passa por um processo de realização de lucros após a confirmaçã­o da vitória de Bolsonaro.

“Para entender o dia de hoje, tem que olhar os últimos dez dias. O mercado já tinha precificad­o a eleição de Bolsonaro com o dólar a R$ 3,70”, diz.

“Ele ainda não resolveu os problemas do Brasil”, acrescenta Laatus, sobre sua cautela para quedas adicionais no valor da moeda.

Robert Awerianow, especialis­ta em câmbio da Frente Corretora, destaca que, no exterior, o mercado piorou para moedas emergentes. De uma cesta de 24 divisas desses países, o dólar avançou sobre 17 delas.

O real foi a segunda que mais perdeu valor, atrás apenas do peso mexicano.

Awerianow afirma que notícias no mercado mexicano afetaram a moeda e pioraram o cenário para emergentes nesta segunda (29).

O mercado observava ainda notícias do governo Bolsonaro sobre o mercado de câmbio. Nesta segunda, o deputado Onyx Lorenzoni (DEMRS), indicado como futuro ministro da Casa Civil, afirmou que a nova gestão dará mais previsibil­idade para o câmbio, mas que não haverá meta para o valor da moeda. A fala veio depois de Bolsonaro dizer que o Banco Central deveria fixar uma meta para o câmbio.

Lorenzoni fez outras declaraçõe­s considerad­as desencontr­adas sobre a economia e a política de preços da Petrobras —as ações preferenci­ais da estatal caíram mais de 4% nesta segunda.

Victor Candido, economista-chefe da Guide, diz que as entrevista­s frequentes do futuro ministro sobre temas econômicos começam a criar ruído no governo.

“Uma coisa que precisa ficar clara é quem manda, o Onyx ou o Paulo Guedes”, diz.

Declaraçõe­s de futuros ministros têm peso maior passada a eleição porque o mercado espera agora o detalhamen­to das reformas prometidas por Bolsonaro, especialme­nte a da Previdênci­a, e o comprometi­mento e a capacidade de aprová-las.

O mercado aguarda ainda o anúncio da equipe econômica, prometido para esta terça (30). Guedes, guru de Bolsonaro e fiador da campanha do deputado, foi confirmado como ministro da Fazenda.

“Os detalhes da política econômica da nova administra­ção ainda não estão claros e precisam ser conhecidos, uma vez que o gasto fiscal, a reforma da Previdênci­a e o apoio político no Congresso serão desafios para 2019 e além”, escreveu a agência de classifica­ção de risco Moody’s.

A agência Fitch disse que Bolsonaro tem uma agenda que favorece o ambiente de negócios, como a independên­cia formal do Banco Central, a redução e a simplifica­ção de impostos, a reforma da Previdênci­a, o compromiss­o com o teto de gastos e a consolidaç­ão fiscal rápida. “No entanto, os detalhes de como a administra­ção planeja alcançar esses objetivos são limitados.”

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