Folha de S.Paulo

Empresa lança açúcar de maçã com metade das calorias do convencion­al

Adoçante com base na fruta já é largamente usado na indústria, mas só agora chega ao consumidor

- Cleyton Vilarino

Amplamente usada pela indústria de bebidas para substituir o açúcar, a maçã tem atraído a atenção de empresas especializ­adas em produtos naturais e de baixo teor calórico.

Com menos da metade das calorias do açúcar convencion­al, a fruta ganhou sua primeira versão refinada destinada ao consumidor final e com as mesmas propriedad­es físicas do açúcar obtido com base na cana.

“Já conhecia o uso pela indústria e decidi investigar como poderia obter o açúcar da maçã em pó”, afirma a executiva da Pipoca de Colher, Sabrina Schmidt, responsáve­l pelo desenvolvi­mento do Adoçã, nome comercial do produto.

O processo, afirma, é realizado a partir da desidrataç­ão da fruta e com um rendimento de cinco quilos de maçã para cada quilo de açúcar.

No caso do suco concentrad­o aplicado pela indústria de bebidas, esse rendimento chega a sete quilos para cada quilo do concentrad­o.

De acordo com Arival Pioli, diretor-executivo da Fischer, maior produtora de maçãs do país, trata-se de um dos primeiros adoçantes de maçã a chegar ao varejo.

“Desconheço outras empresas que trabalhem com esse tipo de açúcar.”

A razão, diz Pioli, está no elevado custo de produção da fruta, de até R$ 30 mil mensais por hectare para a manutenção dos pomares.

No caso da cana, o custo de produção é de R$ 3.000 por hectare, segundo a Conab.

“A maçã é uma fruta de grande valor agregado. Por isso são raros os casos em que os pomares são destinados à indústria.”

No Brasil, apenas as frutas impróprias para o consumo no varejo são processada­s: uma média de 25% da produção, avaliada em 1.300 toneladas em 2017, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geo- grafia e Estatístic­a).

Com isso, o preço final do açúcar de maçã é bem mais alto quando comparado com outros adoçantes: R$ 40 a caixa de 300 gramas.

Com uma produção de 1,5 tonelada no primeiro mês de operação, os planos de Schmidt são os de alcançar dez toneladas por mês em um ano.

No último ano-safra, o Brasil produziu 38,6 milhões de toneladas de açúcar obtido a partir da cana, de acordo com a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).

Embora inovador, o adoçante de maçã ainda enfrenta a concorrênc­ia de outros produtos, como o obtido a partir do coco e o próprio stevia, também adotado pela indústria.

“Mesmo assim, esses adoçantes ainda deixam um gosto residual, como é o caso do açúcar de coco, ou não podem ser aplicados como o açúcar convencion­al, como é o caso do stevia”, diz Schmidt.

Entre os fabricante­s de bebidas, contudo, a maçã ainda lidera o consumo, com cerca de 240 mil toneladas anuais de fruta convertida­s em suco concentrad­o (usado também como adoçante), ante apenas 2,5 toneladas de stevia.

Para cumprir com seu plano de expansão, a Pipoca de Colher tem concentrad­o esforços na venda do açúcar de maçã em redes especializ­adas em produtos naturais e redes de varejo segmentada­s para o público das classes A e B.

A empresa aposta ainda no consumo por pequenos fabricante­s artesanais de alimentos sem açúcar.

“Embora a gente chame de açúcar, o Adoçã na verdade não é açúcar. É maçã em pó”, afirma a empresária.

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