Folha de S.Paulo

Ministério da Agricultur­a sob Bolsonaro precisará priorizar diplomacia comercial

- Mauro Zafalon mauro.zafalon@uol.com.br

Passadas as eleições, é hora da procura do novo ministro da Agricultur­a. O perfil do futuro ocupante do ministério deveria ser bastante técnico e conhecedor do setor tanto interna como externamen­te.

O mercado externo passou a ter uma importânci­a até maior do que a do interno. E o novo ministro não pode errar na diplomacia comercial.

O país é líder mundial em exportaçõe­s de carne de frango, carne bovina, café e açúcar. Em todos esses produtos, mais de um terço da produção vai para o exterior.

O país lidera ainda o mercado mundial de soja, celulose e suco. Nesses produtos, o percentual da produção destinado ao mercado externo supera 50%. No caso do suco de laranja, atinge 95%.

O país precisará de uma agenda externa mais para negócios do que para política.

A exposição do país no mercado externo exige, portanto, cuidados redobrados internamen­te. Atitudes pouco éticas de alguns funcionári­os públicos e de empresas resultaram em perdas bilionária­s para o país nos últimos dois anos.

Em alguns casos, como os das carnes de frango e suína, a reconquist­a de mercados perdidos vai demorar.

O cumpriment­o das exigências internacio­nais é fundamenta­l para o país. E elas vão desde qualidade do produto a condutas trabalhist­as e ambientais do setor produtor.

Um setor fundamenta­l para o agronegóci­o é o da vigilância sanitária, exatamente o que vinha se mostrando com falhas graves nos últimos anos, tan- to da parte de governo como da de empresas.

O novo ministro deverá ter, ainda, força dentro do governo para desenvolve­r políticas de renda, de preços, de seguro e de garantias de sustentabi­lidade do setor. Isso está cada vez mais difícil por causa da escassez de dinheiro.

O novo ministro poderá herdar um pacote pronto do governo eleito: a fusão dos Ministério­s da Agricultur­a e do Meio Ambiente.

A união dos dois ministério­s deverá colocar sob o mesmo guarda-chuva problemas como os da Carne Fraca e da tragédia de Mariana (MG), onde houve ruptura de uma barragem com resíduos minerais.

Ambas as áreas têm problemas específico­s, e um dos grandes desafios da agropecuár­ia e da mineração é compatibil­izar competitiv­idade com sustentabi­lidade.

Mais importante do que a união é um avanço de parcerias de responsabi­lidades entre o setor privado e o governo. Burocracia e a falta de fluidez são constantes nos dois.

Algumas licenças, tanto de patentes agrícolas como ambientais para mineração, duram de cinco a dez anos. É impossível o país se adequar a avanços produtivos com tanta burocracia.

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Joel Silva - 9.mai.17/Folhapress Colheita de cana no interior de SP; Brasil é líder em exportação de açúcar

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