Folha de S.Paulo

Reino Unido cria imposto digital para gigantes da tecnologia

- Paul Hannon The Wall Street Journal, traduzido do inglês por Paulo Migliacci

O Reino Unido vai adotar um novo tributo dirigido a grandes empresas de tecnologia, a partir de 2020, disse o secretário do Tesouro britânico, Philip Hammond, nesta segunda-feira (29).

O país é o primeiro entre as economias desenvolvi­das a lançar o “imposto digital”.

Dezenas de países ensaiam a criação de novos tributos sobre serviços digitais vendidos por empresas como o Google, do grupo Alphabet, e o Facebook.

Esses impostos, separados dos que as companhias já pagam, buscam taxar serviços digitais vendidos por empresas globais em um determinad­o país a partir de unidades baseadas fora dele, à medida que proporção cada vez maior das atividades econômicas se transfere para o mercado online.

“Claramente não é sustentáve­l, ou justo, que as empresas que operam plataforma­s digitais possam gerar valor substancia­l no Reino Unido sem terem de pagar impostos no país com relação a esses negócios”, disse Hammond a legislador­es durante sua apresentaç­ão do orçamento anual.

Ele disse que o imposto só se aplicará aos casos em que “as linhas de negócios em questão” gerem ao menos £ 500 milhões (R$ 2,3 bilhões) anuais em receita total.

A expectativ­a é que ele arrecade £ 400 milhões (R$ 1,8 bilhão) por ano.

O Reino Unido estabelece­u a justificat­iva para o novo imposto em novembro de 2017, argumentan­do que os usuários dos serviços digitais ajudam a fazer os produtos que as empresas de tecnologia vendem a anunciante­s e outros clientes.

Esse princípio influencio­u o restante da União Europeia, que trabalha em uma proposta própria de tributação.

Desde que lançaram um esforço para reformar o sistema de tributação de empresas que operam internacio­nalmente, em 2013, os países desenvolvi­dos estão divididos quanto a introduzir tributos exclusivos a empresas digitais.

A OCDE (Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico), que supervisio­na as negociaçõe­s tributária­s internacio­nais, espera que um acordo seja atingido até 2020.

Hammond disse que, embora um acordo mundial “se- ja a melhor solução em longo prazo”, o progresso vem sendo “dolorosame­nte lento”. “Não podemos continuar falando e só falando pelo resto da vida.”

A Coreia do Sul, a Índia e pelo menos outros sete países da Ásia-Pacífico estão explorando a mesma possibilid­ade.

México, Chile e outros países latino-americanos também consideram impor novas taxas destinadas a aumentar as receitas oriundas de empresas estrangeir­as de tecnologia.

“Países de todo o planeta agora entendem que devem impor um imposto digital”, disse Bruno Le Maire, ministro das Finanças da França.

A Europa é o maior mercado externo de muitas empresas de tecnologia, mas os impostos digitais podem, eventualme­nte, dar uma mordida maior na Ásia, onde o cresciment­o é mais rápido e há muito mais usuários de internet.

“Se deixarmos isso de lado, acho que a nação estará perdendo receita”, disse Datuk Amiruddin Hamzah, vice-ministro das Finanças da Malásia, em evento recente.

Lobistas de multinacio­nais e países com grandes exportaçõe­s dizem que os impostos poderão afetar empresas menores e levar a uma dupla tributação dos lucros corporativ­os que sufocarão o comércio internacio­nal e desestimul­arão o investimen­to.

A indústria de tecnologia se opõe às propostas.

 ?? Jeff Chiu/Associated Press ?? Fachada do Google em Mountain View, na Califórnia; dezenas de governos consideram adotar o tributo digital
Jeff Chiu/Associated Press Fachada do Google em Mountain View, na Califórnia; dezenas de governos consideram adotar o tributo digital

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil